PICICA: "Cornelius Castoriadis, filósofo
francês que teve participação ativa em Maio de 68. O curso foi
ministrado em 86 e 87 na EHESS (Escola de Estudos Avançados em Ciências
Sociais) e as inserções abaixo tratam da existência de um ser
onisciente, no entanto, ultrapassam este microtema e vão para conclusões
sobre teoria do conhecimento."
O Deus onisciente é possível? Castoriadis responde
Sujeito e Verdade no Mundo
Social-Histórico é um livro-curso de Cornelius Castoriadis, filósofo
francês que teve participação ativa em Maio de 68. O curso foi
ministrado em 86 e 87 na EHESS (Escola de Estudos Avançados em Ciências
Sociais) e as inserções abaixo tratam da existência de um ser
onisciente, no entanto, ultrapassam este microtema e vão para conclusões
sobre teoria do conhecimento.
Segundo o autor, “o deus dotado da mais
absoluta onisciência não pode ter senão um conhecimento seletivo, logo
limitado, pois a ideia de um conhecimento não-seletivo é uma contradição
em termos. Esse conhecimento deveria conter a representação do interior
de todo o conhecimento de todos os seres para-si do mundo – o Deus que
‘sonda os corações e os rins’ das Escrituras; o que leva a um abussos phluarias,
um oceano de falação: Deus conhece do interior o que experimenta nesse
momento a mosca que esmago, eu mesmo, picado pelo mosquito, e assim por
diante para a vaca, a relva etc. A partir do momento em que há
conhecimento, ele é seletivo. Isso vai muito além do intellectus ectypus e archetypus,
intuição sensível e intuição intelectual de Kant: a representação
“faria existir”, daria em pessoa, e evidentemente “simultaneamente”, por
exemplo, os espaços de todas as dimensões (inclusive fracionários) e de
todas as topologias possíveis. É concebível para nós que, ao pensar
alguma coisa, façamos com que exista – na forma do pensado (filósofo,
musicista e etc). É inconcebível para nós que se possa pensar
simultaneamente – ou fora do tempo – todos os possíveis, sobretudo se ao
pensá-los os fazemos existir -, o que só é compatível com a ideia de um
universo onde o possível e o impossível estão fora de jogo, onde não há
senão o efetivo”.
E continua, “reciprocamente, uma entidade
só pode construir um mundo próprio se ela é fim de si mesma e na medida
em que o é. Se ela não é fim de si mesma, há duas possibilidades. Ou
ela não tem nenhum finalidade e então haverá dissolução do mundo em
geral: o mundo dessa entidade confundir-se-ia com o mundo simplesmente
(supondo-se que ela possua uma “sensibilidade”). Uma tal entidade não
teria nenhuma razão para selecionar, no mundo, alguma coisa mais que uma
outra, ela não teria, portanto, nenhum mundo próprio. Ao mesmo tempo,
se supomos que ela tem uma sensibilidade, isso implica um dispositivo
sensível situado ele mesmo no mundo e parte desse mundo”.
A autofinalidade, segundo o autor, é
vista nas separações entre exterior/interior. O exterior é sempre aquilo
que está fora da possibilidade do para-si com um fim. A autofinalidade
termina no externo, mas se mantém no interno, entretanto, se não há essa
distinção, não há autofinalidade.
Fonte: COLUNAS TORTAS
Nenhum comentário:
Postar um comentário