abril 08, 2015

"Ocupação de Terras no Distrito Industrial II: mais um capítulo da luta por moradia na zona leste de Manaus", por Valter Calheiros

PICICA: "Os governantes são conhecedores das várias ocupações de terras que neste momento acontece na cidade de Manaus. Mas, além da falta de solução lhes falta agir com preventividade. Desta forma as conhecidas invasões surgem, crescem, tomam proporções gigantescas e sem retorno. Este é o enredo do nascimento de vários bairros em Manaus e não precisamos de bola de cristal para afirmar que este não será o ultimo conflito por causa de terras em nossa cidade.

Ninguém discute com profundidade a conquista de um espaço para moradia como direito constitucional do cidadão. Porém, projetos milionários vendem a imagem que o problema da falta de moradia foi solucionado ou se reproduz a conversa de que será resolvido em um próximo projeto governamental. 

Nos casos das ocupações de terras é comum que políticos, representantes dos órgãos dos governos, parte da imprensa e outros com interesses obscuros venham a fazer discursos responsabilizando somente as pessoas que participam das ocupações de terras. Assim, lhes são atribuídos todos os erros e desmandos da política habitacional do estado.
























 



Fotografias: Valter Calheiros, pesquisador e fotógrafo do movimento socioambiental SOS ENCONTRO DAS ÁGUAS


OCUPAÇÃO DE TERRAS NO DISTRITO INDUSTRIAL II: MAIS UM CAPÍTULO DA LUTA POR MORADIA NA ZONA LESTE DE MANAUS


Valter Calheiros


O gravíssimo problema do acesso à moradia em Manaus vem através de repetidas ações de movimentos de ocupações de terras escrevendo a história do estado brasileiro que possui a maior dimensão territorial do País. Este fato ganha mais um capítulo neste início de abril de 2015 e que será contado ao povo, nas várias versões, pelos meios de comunicação. Como parte integrante dos adeptos da fotografia, este registro quer colaborar com o debate e compartilhar cenas da vida de centenas de crianças, jovens e adultos que presenciamos nos dias 02 e 03 de abril na mais nova ocupação de terras que abrange a área do Pólo Industrial de Manaus no Distrito II e bairro João Paulo, zona leste de Manaus.


Esta nova ocupação de terras demonstra o quanto os governos estão de costas para a realidade de muitos cidadãos que vem do interior amazônico e também de outros estados na esperança de uma vida nova na capital do Amazonas. Como justificativa para a falta de recursos financeiros para políticas públicas, os governantes repetem o cansado discurso que falta verba no orçamento público para atender as necessidades de toda a população. Mas, é certo que não faltam bilhões em recursos para grandes obras com fins de desviá-los para a corrupção.


Os governantes são conhecedores das várias ocupações de terras que neste momento acontece na cidade de Manaus. Mas, além da falta de solução lhes falta agir com preventividade. Desta forma as conhecidas invasões surgem, crescem, tomam proporções gigantescas e sem retorno. Este é o enredo do nascimento de vários bairros em Manaus e não precisamos de bola de cristal para afirmar que este não será o ultimo conflito por causa de terras em nossa cidade.


Ninguém discute com profundidade a conquista de um espaço para moradia como direito constitucional do cidadão. Porém, projetos milionários vendem a imagem que o problema da falta de moradia foi solucionado ou se reproduz a conversa de que será resolvido em um próximo projeto governamental. 


Nos casos das ocupações de terras é comum que políticos, representantes dos órgãos dos governos, parte da imprensa e outros com interesses obscuros venham a fazer discursos responsabilizando somente as pessoas que participam das ocupações de terras. Assim, lhes são atribuídos todos os erros e desmandos da política habitacional do estado.


No meio de muita fumaça e árvores estendidas ao chão, encontramos grupos de pessoas que conversavam sobre os motivos que lhes levaram a chegar às terras do Pólo Industrial de Manaus. O desemprego, o pagamento de aluguel, o crescimento das famílias e o alto custo de vida são temas comuns nas rodas de conversas. Mas, também discutem política e meio ambiente.


A ocupação irregular está causando um grande dano ambiental, isso é indiscutível. A respeito deste assunto uma senhora que limpava um lote de terra, acompanhada de duas crianças, declarou: “a derrubada de árvores, morte de animais, destruição de nascentes de águas e outros males ao meio ambiente, também acontece quando a SUFRAMA repassa as terras aos empresários”. E acrescentou: “mas para eles ninguém fala nada e tudo pode ser feito”.


Andando entre troncos e galhos de árvores e com um moto serra nos ombros, um senhor nos disse que estava ali para conseguir um terreno, pois desde que veio do Alto Solimões paga aluguel para morar. Ao criticar a falta de projetos políticos para moradias populares, disse: “há poucos dias na bola do produtor do bairro Jorge Teixeira as esquinas das ruas estavam cheias de cartazes de políticos com propostas e compromissos tão bem escritos que pareciam verdadeiras. Mas, estamos há vinte dias aqui nestas terras e até agora nenhuma autoridade veio aqui para conversar com a gente”.


Em um grupo de seis pessoas, entre jovens e adultos que estavam limpando um terreno, o comentário era a respeito do pronunciamento do deputado Serafim Correa na Assembléia Legislativa a respeito do caso. O senhor mais idoso do grupo comentou que o deputado não falou em nenhum momento de direito à habitação para as famílias ou sobre os males ao meio ambiente. Sua preocupação foi defender o patrimônio da SUFRAMA, das empresas e em responsabilizar os órgãos públicos como culpados pela falta de segurança no Pólo Industrial de Manaus. E concluiu dizendo “é muito fácil ao deputado dizer que existe uma indústria da invasão e também chamar os pobres de massa de manobra. Tudo isso é muito fácil falar, mas ele não tem coragem de vir aqui com a agente conversar sobre os nossos problemas, assim como tem políticos honestos, aqui também tem muita gente honesta e disposta a lutar por moradia”, disse o senhor em alta voz.


            Urgência se faz nas tomadas de decisões. Sabemos muito bem que este não é o único caso de gravíssima agressão ao meio ambiente. O tema deve estar presente nas manifestações de rua e proporcionar debates nas plenárias da Câmara Municipal de Manaus e da Assembléia Legislativa do Amazonas.


Diante dos fatos brevemente analisados, podemos assegurar que as ocupações de terras nas áreas do Pólo Industrial de Manaus se proliferam em razão da falta de gestão institucional da SUFRAMA que mantém uma vigilância mínima na área, deixando transparecer que não zela pelo bem público. Registra-se também como responsáveis pelo descaso os governos federal, estadual e municipal que não conseguem definir as responsabilidades sobre os cuidados com a área do Polo Industrial de Manaus.





FOTOS: Valter Calheiros

(*) Educador Salesiano, pesquisador e fotografo do Movimento Socioambiental SOS Encontro das Águas. Graduado em Teologia pela Universidade Católica Santa Úrsula / Centro de Estudos do Comportamento Humano/CENESC/AM, Pós-Graduado em Pesquisa e Ação Social pela Faculdade Tahirih – Manaus / Amazonas.

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