PICICA: "Os governantes são conhecedores das
várias ocupações de terras que neste momento acontece na cidade de Manaus. Mas,
além da falta de solução lhes falta agir com preventividade. Desta forma as
conhecidas invasões surgem, crescem, tomam proporções gigantescas e sem
retorno. Este é o enredo do nascimento de vários bairros em Manaus e não
precisamos de bola de cristal para afirmar que este não será o ultimo conflito
por causa de terras em nossa cidade.
Ninguém discute com profundidade a
conquista de um espaço para moradia como direito constitucional do cidadão. Porém,
projetos milionários vendem a imagem que o problema da falta de moradia foi solucionado
ou se reproduz a conversa de que será resolvido em um próximo projeto
governamental.
Nos casos das ocupações de terras é
comum que políticos, representantes dos órgãos dos governos, parte da imprensa
e outros com interesses obscuros venham a fazer discursos responsabilizando
somente as pessoas que participam das ocupações de terras. Assim, lhes são
atribuídos todos os erros e desmandos da política habitacional do estado."
Fotografias: Valter Calheiros, pesquisador e fotógrafo do movimento socioambiental SOS ENCONTRO DAS ÁGUAS
OCUPAÇÃO DE TERRAS NO DISTRITO INDUSTRIAL
II: MAIS UM CAPÍTULO DA LUTA POR MORADIA NA ZONA LESTE DE MANAUS
Valter Calheiros
O gravíssimo problema do acesso à
moradia em Manaus vem através de repetidas ações de movimentos de ocupações de
terras escrevendo a história do estado brasileiro que possui a maior dimensão
territorial do País. Este fato ganha mais um capítulo neste início de abril de
2015 e que será contado ao povo, nas várias versões, pelos meios de comunicação.
Como parte integrante dos adeptos da fotografia, este registro quer colaborar
com o debate e compartilhar cenas da vida de centenas de crianças, jovens e
adultos que presenciamos nos dias 02 e 03 de abril na mais nova ocupação de
terras que abrange a área do Pólo Industrial de Manaus no Distrito II e bairro
João Paulo, zona leste de Manaus.
Esta nova ocupação de terras demonstra o
quanto os governos estão de costas para a realidade de muitos cidadãos que vem do
interior amazônico e também de outros estados na esperança de uma vida nova na
capital do Amazonas. Como justificativa para a falta de recursos financeiros
para políticas públicas, os governantes repetem o cansado discurso que falta
verba no orçamento público para atender as necessidades de toda a população.
Mas, é certo que não faltam bilhões em recursos para grandes obras com fins de
desviá-los para a corrupção.
Os governantes são conhecedores das
várias ocupações de terras que neste momento acontece na cidade de Manaus. Mas,
além da falta de solução lhes falta agir com preventividade. Desta forma as
conhecidas invasões surgem, crescem, tomam proporções gigantescas e sem
retorno. Este é o enredo do nascimento de vários bairros em Manaus e não
precisamos de bola de cristal para afirmar que este não será o ultimo conflito
por causa de terras em nossa cidade.
Ninguém discute com profundidade a
conquista de um espaço para moradia como direito constitucional do cidadão. Porém,
projetos milionários vendem a imagem que o problema da falta de moradia foi solucionado
ou se reproduz a conversa de que será resolvido em um próximo projeto
governamental.
Nos casos das ocupações de terras é
comum que políticos, representantes dos órgãos dos governos, parte da imprensa
e outros com interesses obscuros venham a fazer discursos responsabilizando
somente as pessoas que participam das ocupações de terras. Assim, lhes são
atribuídos todos os erros e desmandos da política habitacional do estado.
No meio de muita fumaça e árvores
estendidas ao chão, encontramos grupos de pessoas que conversavam sobre os
motivos que lhes levaram a chegar às terras do Pólo Industrial de Manaus. O
desemprego, o pagamento de aluguel, o crescimento das famílias e o alto custo
de vida são temas comuns nas rodas de conversas. Mas, também discutem política
e meio ambiente.
A ocupação irregular está causando um
grande dano ambiental, isso é indiscutível. A respeito deste assunto uma
senhora que limpava um lote de terra, acompanhada de duas crianças, declarou: “a derrubada de árvores, morte de animais,
destruição de nascentes de águas e outros males ao meio ambiente, também acontece
quando a SUFRAMA repassa as terras aos empresários”. E acrescentou: “mas para eles ninguém fala nada e tudo pode
ser feito”.
Andando entre troncos e galhos de
árvores e com um moto serra nos ombros, um senhor nos disse que estava ali para
conseguir um terreno, pois desde que veio do Alto Solimões paga aluguel para
morar. Ao criticar a falta de projetos políticos para moradias populares, disse:
“há poucos dias na bola do produtor do
bairro Jorge Teixeira as esquinas das ruas estavam cheias de cartazes de
políticos com propostas e compromissos tão bem escritos que pareciam
verdadeiras. Mas, estamos há vinte dias aqui nestas terras e até agora nenhuma
autoridade veio aqui para conversar com a gente”.
Em um grupo de seis pessoas, entre
jovens e adultos que estavam limpando um terreno, o comentário era a respeito
do pronunciamento do deputado Serafim Correa na Assembléia Legislativa a respeito
do caso. O senhor mais idoso do grupo comentou que o deputado não falou em nenhum
momento de direito à habitação para as famílias ou sobre os males ao meio ambiente.
Sua preocupação foi defender o patrimônio da SUFRAMA, das empresas e em
responsabilizar os órgãos públicos como culpados pela falta de segurança no Pólo
Industrial de Manaus. E concluiu dizendo “é muito fácil ao deputado dizer que existe
uma indústria da invasão e também chamar os pobres de massa de manobra. Tudo isso é muito fácil falar, mas ele não
tem coragem de vir aqui com a agente conversar sobre os nossos problemas, assim
como tem políticos honestos, aqui também tem muita gente honesta e disposta a
lutar por moradia”, disse o senhor em alta voz.
Urgência se faz nas tomadas de
decisões. Sabemos muito bem que este não é o único caso de gravíssima agressão ao
meio ambiente. O tema deve estar presente nas manifestações de rua e
proporcionar debates nas plenárias da Câmara Municipal de Manaus e da Assembléia
Legislativa do Amazonas.
Diante dos fatos brevemente analisados,
podemos assegurar que as ocupações de terras nas áreas do Pólo Industrial de
Manaus se proliferam em razão da falta de gestão institucional da SUFRAMA que mantém
uma vigilância mínima na área, deixando transparecer que não zela pelo bem
público. Registra-se também como responsáveis pelo descaso os governos federal,
estadual e municipal que não conseguem definir as responsabilidades sobre os
cuidados com a área do Polo Industrial de Manaus.
FOTOS: Valter Calheiros
(*) Educador Salesiano, pesquisador e
fotografo do Movimento Socioambiental SOS Encontro das Águas. Graduado em
Teologia pela Universidade Católica Santa Úrsula / Centro de Estudos do
Comportamento Humano/CENESC/AM, Pós-Graduado em Pesquisa e Ação Social pela
Faculdade Tahirih – Manaus / Amazonas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário