PICICA: "Quando falamos de vontade de poder, não
há como ser dualista, não há dialética, as forças são plurais, todas
procuram se afirmar, estão por cima e por baixo, também no escravo se
agitam forças de dominação e expansão. A mesma força que se agita e
domina se mostra em sua outra face, embaixo, sendo dominada. Este é o
segredo que a vida contou para Zaratustra: “‘Vê’, disse, ‘eu sou aquilo que sempre tem de superar a si mesmo’” (p.110)."
Zaratustra – da superação de si mesmo
Zaratustra desconfia dos sábios. Eles ainda parecem padres…
Quereis criar o mundo ante o qual podeis ajoelhar-vos: é a vossa derradeira esperança e embriaguez” – Assim Falou Zaratustra, p. 108
Os sábios colocam seus valores em um
barco, junto com todas as suas ovelhinhas e seguidores, e juntos descem o
rio do devir. Mal sabem eles o que lhes aguarda. Zaratustra olhou fundo
no coração do homem, talvez mais fundo que ninguém, percorreu os
maiores e os menores caminhos. Para falar daquilo que vive, ele dá três
conclusões:
- Tudo que vive obedece;
- Recebe ordens aquele que não sabe obedecer a si próprio;
- Dar ordens é mais difícil que obedecer.
A vida é risco, perigo, embate. Aquele
que está inserido no mundo não escapa de suas forças colossais e não
pode esconder-se sem sofrer as graves consequências. Caso não saiba
mandar, caso não seja forte, cabe obedecer, ser subjugado, dominado,
submetido. Suas ordens são para si mesmo, sua prescrição é seu próprio
remédio.
Onde encontrei seres vivos, encontrei vontade de poder; e ainda na vontade do servente encontrei a vontade de ser senhor” – Assim Falou Zaratustra, p. 109
Quando falamos de vontade de poder, não
há como ser dualista, não há dialética, as forças são plurais, todas
procuram se afirmar, estão por cima e por baixo, também no escravo se
agitam forças de dominação e expansão. A mesma força que se agita e
domina se mostra em sua outra face, embaixo, sendo dominada. Este é o
segredo que a vida contou para Zaratustra: “‘Vê’, disse, ‘eu sou aquilo que sempre tem de superar a si mesmo’” (p.110).
Não é um impulso para a existência, estas
forças já existem e sempre existirão, não é um impulso para manter-se,
esta força não é inércia. A esta Vontade Nietzsche batiza de Vontade de Potência: expansão contínua de força, expressão máxima do alargamento de si, dilatação permanente.
Que eu tenha de ser luta e devir e finalidade e contradição de finalidades: ah, quem adivinha minha vontade, também adivinhará os caminhos tortos que ela tem de percorrer!” – Assim Falou Zaratustra, p. 110
Também a vontade dos sábios é uma vontade
de potência, uma sede de domínio, o sábio quer dobrar o mundo, mas sua
vontade é fraca e ele terminado curvando-se ao seu conhecimento (veja
melhor aqui).
Não há bem e mal que não sejam imutáveis, eles também são uma
violência, eles também estão inseridos na cadeia de eventos que faz
afundar o barco dos sábios no rio do devir.
Quem tem de ser um criador no bem e no mal: em verdade, tem de ser primeiramente um destruidor e despedaçar valores […] que se despedace tudo o que, de encontro a nossas verdades, possa – despedaçar-se! Ainda há muitas casas por construir!” – Assim Falou Zaratustra, p. 111
Zaratustra fala para além do conhecimento
dos sábios, este terminará inevitavelmente naufragando; fala para além
do bem e do mal, tábuas da salvação daqueles que temem se afogar quando
tudo se partir. Zaratustra se dirige àqueles que querem superar a si
próprios, àqueles que constroem sua casa na beira do abismo, que sabem
que tudo é uma expressão do mar de forças,
dentro e fora do indivíduo. Forças estas que não querem “existir” nem
“conservar”, mas dominar, se expandir, dinamizar, crescer, multiplicar,
enfim: criar novos valores.
Fonte: Razão Inadequada
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