PICICA: "O assassinato político causado pela
direita fascista da época não poderia ser esquecido. Como forma de
admiração pelo homem honrado e corajoso, Oriana minuciosamente narra a
tragédia de Alekos, não o exaltando como deus antigo, mas o colocando em
pódio de homem de carne e osso, com seus defeitos e qualidade. Para
alguns leitores, certamente a obra não foi fácil de ser digerida."
Não se render custa um alto preço
Oriana
Fallaci aprendeu desde cedo com seu pai antifascista a permanecer na
resistência e a buscar o ideal de uma esquerda revolucionária. Aos 14
anos tivera uma condecoração pelo exército de seu país e aos 16 anos
dava aos primeiros passos na carreira de jornalista para os jornais
locais de Florença.
“Chegou a hora de partir. Cada um de nós segue seu próprio caminho: eu para a morte, vós para a vida. Qual o melhor, só Deus sabe.”
– Platão, Apologia de Sócrates.
Trata-se da abertura do primeiro romance de Oriana, o livro Um Homem.
De título simples e capa também simplista é para mim um dos melhores
que li até agora. Por sinal, o livro em si foi uma surpresa já que meses
atrás fiz o pedido deste em um grupo de leitura via internet e na
semana passada recebi pelos correios de um cara da região sul. Muito
obrigada!
A gente fica fascinado pelas histórias
dos heróis, dos guerreiros, dos lutadores que se tornam imortais quando
falecem. Ou até mesmos dos farsantes, dos abutres que carregam seus
estigmas como, por exemplo, Hitler ou Mussolini. O romance biográfico de
Um homem aborda a história do revolucionário grego Alexander
Panagulis, mais conhecido por Alekos que se opôs à ditadura de George
Papadopulus na década de 1960 na Grécia.
Inúmeras vezes Alekos foi preso,
torturado psicologicamente e sexualmente, humilhado, exilado e
perseguido… Mas nem por toda essa infeliz experiência de vida o
desanimou do seu verdadeiro propósito. Oriana o conheceu, no dia
posterior em que Alekos fora solto. Acabou se relacionando com ele
amorosamente por três anos até o presságio de Alekos ter sido
contemplado em 19 de maio de 1976.
O assassinato político causado pela
direita fascista da época não poderia ser esquecido. Como forma de
admiração pelo homem honrado e corajoso, Oriana minuciosamente narra a
tragédia de Alekos, não o exaltando como deus antigo, mas o colocando em
pódio de homem de carne e osso, com seus defeitos e qualidade. Para
alguns leitores, certamente a obra não foi fácil de ser digerida.
Abaixo, segue trecho do livro a respeito da defesa de Alekos:
– Senhores da Corte Marcial, serei breve. Não vos aborrecerei. Nem ao menos insistirei sobre o interrogatório infame ao qual fui submetido: o que já disse sobre ele me basta. Antes de examinar as acusações que me são feitas, prefiro insistir sobre um outro aspecto da vergonhosa instrução do processo que me diz respeito: vossa tentativa de sustentar a acusação com provas falsas, elementos não verdadeiros, depoimentos pré-constituídos ou impostos às testemunhas de ambos os lados. Na verdade, esta minha defesa não pretende ser uma autodefesa e não o será. Pretende ser um libelo, começando exatamente do falso documento que me é atribuído e que foi o fio condutor de todo o processo. Documento importante na minha opinião, porque típico de todos os processos que se desenrolaram nos países onde a lei é assassinada ao lado da liberdade. Não estais sós nesta ignomínia não. Certamente, neste mesmo momento em que estou falando, patriotas de outros países sem lei e sem liberdade estão sendo julgados por uma Corte Marcial subjugada por um regime tirânico e condenados na base de provas falsas, mentiras, testemunhas compradas ou impostas, confissões semelhantes àquelas que eu jamais fiz e que nunca assinei e que portanto, não traz minha assinatura e sim a de dois carrascos que se chamam Hazizikis e Teofilojannacos. Carrascos, acima de tudo, sem o menor respeito pela gramática. Esta noite, finalmente pude ler todas aquelas folhas e seria difícil dizer se me horrorizei mais com suas mentiras ou com os seus grosseiros erros gramaticais. Se tivesse lido antes, asseguro-lhes que mesmo em estado de coma teria sugerido algumas correções. Santo Deus! De que analfabetos é feito este regime! Dir-se-ia que a ignorância caminha passo com a crueldade.
Fonte: COLUNAS TORTAS
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