março 02, 2008

Diretórios acadêmicos da UEA visitam a Associação Chico Inácio

Foto: Rogelio Casado - Diretórios Acadêmicos da UEA e Associação Chico Inácio,
Manaus-AM, 01.03.2008
Manaus - Nos últimos 5 anos a Associação Chico Inácio (ACI) - filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial - protagonizou as cenas mais simbólicas da re-construção da Reforma Psiquiátrica em território amazonense. Além de ter ocupado o plenário da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas por três vezes, em audiências públicas promovidas pelo deputado Sinésio Campos, do Partido dos Trabalhadores, realizou quatro abraços simbólicos em prédios públicos da cidade, duas Paradas do Orgulho Louco (idéia originalmente concebida pelo companheiro Nilo Neto, de Santa Catarina, filiado do "contrário", sob a sigla MNLA), e, ainda por cima, foi a principal articuladora da nova legislação de saúde mental, sancionada pelo jovem governador Eduardo Braga em 10 de outubro de 2007, conforme o Diário Oficial do Estado do Amazonas, de 11.10.2007.

Novos parceiros

Nessa trajetória, os principais parceiros da ACI foram, não por acaso, os setores mais discriminados na história das nossas sociedades: Associação de Gays, Lésbicas, Travestis e Transgêneros do Amazonas, liderados pelo saudoso Adamor Guedes; Rede de Amizade & Solidariedade às Pessoas com HIV/aids, liderada pela guerreira Laurinha de Souza Brelaz, e o Movimento Afro-ameríndios descendentes, liderado, entre outros, pelo companheiro Alberto Jorge. Isto sem contar com a Associação e o Sindicato dos Psicólogos do Estado do Amazonas, presentes em todas as manifestações públicas. Ontem, sábado, dia 1 de março, em plena estação chuvosa, lideradas pela estudante Girlândia, da Escola Superior de Tecnologia, atual Presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Estadual do Amazonas, a ACI ganhou a adesão de mais três outras agremiações estudantis da UEA. A construção dessa parceria solidária é recente, mas profundamente significativa: como líder estudantil Girlândia acompanhou todo o processo final de discussão e aprovação da Lei de Saúde Mental na Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas até a sanção da Lei pelo governador do estado, em festa memorável no auditório da Reitoria da UEA. Graças à sua sensibilidade e capacidade de articulação outros estudantes, organizados em seus diretórios, passam a fazer parte das intervenções na cultura da cidade de Manaus, pela redução do preconceito e pelo direito do construir novos modos de vida em sociedade.

"Contrário"

O mencionado companheiro Nilo Neto foi nomeado como contrário, para usar uma expressão da linguagem dos amazonenses no campo da cultura do Festival de Boi da ilha de Parintins. Nos três últimos dias do mês de junho, os bois Caprichoso - cor azul - e Garantido - cor vermelha (estampados na camiseta do estudante parintinense; último à direita, de camiseta preta) fazem um festa na ilha de encher os olhos. Aos brincantes não é permitido nomear seu opositor. É pecado mortal. Daí porque o brincante do Caprichoso (diga-se, de passagem, o boi mais charmoso do pedaço), por exemplo, nomea o outro como "o contrário". Como o humor não tem sido o forte do nosso fragmentado movimento social (*), vale como registro para quem acompanha a história da organização dos três principais protagonistas da construção da luta antimanicomial no Brasil: usuários, familiares e técnicos em saúde mental. A gente faz o que pode para tentar viver com o mínimo de fraternidade. É isso aí! Grande e fraterno abraço ao companheiro Nilo, a quem pedi a devida permissão para trazer para o Amazonas o que ele denominou de caminhada do orgulho louco, que lhe rendeu capa da revista Época. Grande companheiro Nilo, do "contrário"!

(*) Nada contra! Farinhas devem ser apartadas quando ninguém se entende no roçado. Só não vale puxão de tapete, iniciativas isoladas e coisas do gênero, como o assanhamento em criar uma terceira via, já devidamente esclarecido pelo grupo de discussão de defesa da reforma psiquiátrica. Lembro, ao meu leitor, que este grupo foi articulado, entre outros, por companheiros vinculados ao Ministério da Saúde, logo depois da agressão dirigida ao Coordenador Nacional de Saúde Mental pelo Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, entidade que voltou a colocar as manguinhas de fora, a propósito da composição do Conselho Nacional de Saúde. O "jus esperniandi" é um direito que lhes assiste. Resta uma análise do fato. Quem se habilita?

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