PICICA: "A descrição do assassinado do pedreiro Amarildo, feita por
representantes do Ministério Público no Jornal Nacional (22/06/2014) com
tantos detalhes, me levou à comparação inevitável com Jesus na cruz
pelas mãos das autoridades judaicas. Como não vi nenhuma reação a tanta
perversidade, decidi reescrever sobre o assunto.
O fato de ser aprisionado, levado à UPP, sofrer torturas com sacos plásticos na cabeça, afogamentos e outras coisas que nem a representante do MP teve coragem de publicar, mostra um cenário de perversidades cabal por parte dos policiais.
Depois do crime, a ocultação do cadáver, com participação do BOPE, aquele mesmo de heróis como o Capitão Nascimento, consuma a cena.
Qual é mesmo o crime cometido por esse pedreiro? Dizem que ele ou a família ocultava alguma droga em sua pobre casa na favela e que não queria entregar o esquema, ou qualquer coisa assim, pouco importa. Por isso ele foi preso, torturado e morto.
Até hoje não sabemos exatamente de quem era o helicóptero preso com 450 kg de cocaína em Minas Gerais, muito menos quem era o dono da droga. Certamente, não era de alguém parecido com Amarildo, o pobre, o negro, o favelado."
Paixão e morte de Amarildo – O DNA sanguinário do Brasil |
Escrito por Roberto Malvezzi (Gogó) |
Sexta, 26 de Junho de 2015 |
A descrição do assassinado do pedreiro Amarildo, feita por representantes do Ministério Público no Jornal Nacional (22/06/2014) com tantos detalhes, me levou à comparação inevitável com Jesus na cruz pelas mãos das autoridades judaicas. Como não vi nenhuma reação a tanta perversidade, decidi reescrever sobre o assunto. O fato de ser aprisionado, levado à UPP, sofrer torturas com sacos plásticos na cabeça, afogamentos e outras coisas que nem a representante do MP teve coragem de publicar, mostra um cenário de perversidades cabal por parte dos policiais. Depois do crime, a ocultação do cadáver, com participação do BOPE, aquele mesmo de heróis como o Capitão Nascimento, consuma a cena. Qual é mesmo o crime cometido por esse pedreiro? Dizem que ele ou a família ocultava alguma droga em sua pobre casa na favela e que não queria entregar o esquema, ou qualquer coisa assim, pouco importa. Por isso ele foi preso, torturado e morto. Até hoje não sabemos exatamente de quem era o helicóptero preso com 450 kg de cocaína em Minas Gerais, muito menos quem era o dono da droga. Certamente, não era de alguém parecido com Amarildo, o pobre, o negro, o favelado. Esses dias prenderam outro avião no Ceará, com 350 kg de cocaína. Até hoje não sabemos de quem era o avião e muito menos de quem era a droga. O Brasil não tem apenas um problema de segurança pública, mas o DNA de uma sociedade violenta, para parafrasear Barack Obama, quando dizia que os estadunidenses do norte carregam o escravagismo em seu DNA. Não são apenas eles. O Brasil é o país mais violento do mundo – mais do que aqueles que estão em guerra – com 50 mil assassinatos por ano. A grande maioria cometida por policiais. A grande maioria das vítimas tem a cara do Amarildo. No campo ainda se mata trabalhadores rurais e indígenas como nos tempos dos bandeirantes. Basta conferir os relatórios da Pastoral da Terra e do CIMI. A bancada da bala, junto com a da Bíblia e do boi, quer tornar – ou já tornou? – assassinato de policial um crime hediondo. Por que os crimes cometidos por policiais, como esse do Amarildo, também não são hediondos? A sociedade brasileira é violenta e sanguinária. Porém, nos acostumamos a ela, como nos acostumamos ao fedor do Tietê e do Pinheiros, à destruição de nossas florestas e rios, à uma sociedade cujos 50% dos lares nem têm acesso à rede de esgoto. Mas, não nos preocupemos. Vamos reduzir a maioridade penal e todos os problemas de violência da sociedade brasileira serão resolvidos. Pelo menos é o que acha a bancada BBB e 87% da população brasileira segundo, o DataFolha. Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco. |
Fonte: Correio da Cidadania
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