PICICA: "Caros amigos e amigas,
Aceitei a honoraria de ser cidadão amazonense como homenagem
e lembrança a todo este mutirão de companheir@s da Igreja, MIA, OPAN, CIMI, CPT,
CEDI, ANAI, CPI-SP E AC, GREQUI/MG, GAI/PA, GRUPO KUKURU/AM, MST, jornalistas e
da FUNAI e outras que desde o início dos anos 70, lutam, lutaram, já morreram
ou foram martirizad@s na causa indígena e d@s camponês@s. Não foi em vão!
Comunidades e povos estão aí vigorosos e destemidos, assumindo a sua causa que
é hoje a causa de toda a humanidade.
“Põe a semente na terra e não será em vão.
Não te preocupe a colheita plantas
para o irmão”
Com o meu cordial abraço!
Egyio Schwade
Egydio Schwade
Imagem: ALE
Sras. e Srs. Deputados. Amigas e amigos presentes e ausentes.
Em primeiro lugar meus agradecimentos ao Deputado José Ricardo, pela propositura dessa homenagem. Meus agradecimentos aos Srs. Presidente e Vice-presidente desta Casa Legislativa pelos convites e a todas e todos os deputados da Casa pela sua aprovação.
Sou Avesso à honrarias. Entretanto, a honraria que a Assembleia Legislativa do Amazonas me concede hoje aceito com alegria na certeza de que represento não apenas a mim, mas uma geração que ajudou a reconstruir a pluralidade dos povos neste país. Vários deles se encontram aqui. Outros e outras não puderam estar porque vivem longe ou a idade os impede, outros e outras já morreram, outros e outras sofreram o martírio por esta causa que multiplicou OS POVOS INDIGENAS.
Devo reconhecer que pertenço a uma geração que engrandeceu a obra de Deus. Ainda estudante jesuíta fui trabalhar no Noroeste de Mato Grosso em um internato de indígenas. Indígenas derrotados que vinham ali estudar não para abraçarem a causa de seu povo: a defesa de sua terra, de sua cultura e de sua autodeterminação, mas para irem a Cuiabá, a grande cidade, onde pudessem esconder a sua identidade do preconceito e da violência que sofriam. Esta era então a situação dos povos indígenas brasileiros e amazônicos. Existiam, então, menos de 100.000 conforme afirma Darci Ribeiro em “Os Índios e a Civivlização” e não existia nenhuma organização. E a propósito da política de integração propugnada pela Igreja e pelo Estado, advertia-nos então o padre jesuíta Adalberto Pereira: “a integração indígena passa pela desintegração dos povos indígenas”.
Foi ali, no Mato Grosso, após três anos vividos em meio a essa dolorosa situação dos povos indígenas e com o Concilio Vaticano II, então em curso, incentivando: “Busquem os missionários colher as sementes de Deus ocultas nos povos” que me convenci da necessidade de se mudar esta situação. E foi ali, junto com um pequeno grupo de estudantes jesuítas que nasceu e frutificou a ideia do mutirão que ajudou a mudar a face do índio brasileiro e dali se estendeu a outras camadas excluídas da sociedade brasileira. Primeiro um grupinho de “loucos” dentro de surdas instituições eclesiais. Logo foi acrescida por uma ONG de leigos, a Operação Anchieta-OPAN, cujos membros decidiram encarnar a situação dos povos indígenas, não como catequistas, mas convivendo e soprando as cinzas de restos de povos já considerados extintos, primeiro em Mato Grosso e Rondonia e depois Brasil afora.
Em 1972 criamos o CIMI-Conselho Indigenista Missionário e em 1975 a Comissão Pastoral da Terra-CPT para a defesa dos pequenos agricultores. Estas entidades se uniram. Foi o início de um enorme mutirão de “Incendiários” que foi logo aumentado, juntando-se outras pessoas e outras entidades como a ANAI-Associação Nacional de Apoio ao Indio, no Rio Grande do Sul, CPI-SP-
Comissão Pró-Indio, Grequi-Minas Gerais, GAI-Pará e aqui no Amazonas em torno da Universidade Federal do Amazonas, o Grupo Kukuru de Apoio ao índio. Igrejas evangélicas criaram o GTME e o COMIN, todos interligados na defesa da causa dos excluídos.
Para se ter uma ideia do que ocorreu neste “tempo de germinação” quero lembrar a minha querida companheira Doroti Alice, de inesquecível memória e que foi membro da OPAN e a primeira coordenadora do CIMI da Amazônia Ocidental. Entre 1976 e 1978 ela visitou o Rio Purus, do Peru ate a sua foz, o Médio rio Madeira e o Rio Envira, localizando mais de 50 “fragmentos” de povos
indígenas já considerados extintos pela Igreja e pelo Estado.
Ao mutirão foram-se juntando muitos profissionais independentes, como médicos, padres, pastores, engenheiros... E quero lembrar de modo especial um grupo de jornalistas, que enfrentando a ditadura militar e os donos de suas empresas, se locomoviam pelo país, acompanhando de perto este mutirão todo e mantendo destemida e diariamente a causa indígena na mídia, mesmo enfrentando perseguição do Estado e das suas empresas.
Hoje os povos indígenas estão aí, alguns ressuscitados, já são perto de um milhão, pujantes e firmes, defendendo com ardor seus direitos e os direitos dos povos que querem viver. Resistindo contra um Congresso que os quer ver espoliados, aniquilados. Erguendo a esperança daqueles que vivem nas “locomotivas do Estado” atoladas na lama, no lixo... Por todo o Brasil, lá estão eles, pipocando cada dia mais e apontando “o caminho da luta e do dever”. Advertindo que do cimento, do asfalto, do petróleo e do dinheiro não nasce vida, mas projetos necrófilos que envenenam a nossa única casa, o planeta e a gente que nela vive.
E proclamando: “Só da terra brotam a vida e os frutos que a alimentam.”
“Dá tua mão ao Índio, dá que te fará bem!” e “põe a semente na terra não será em vão. Não te preocupe a colheita plantas para o irmão”.
Amazonas, 7 de julho de 2015.
Egydio Schwade
Nenhum comentário:
Postar um comentário