julho 23, 2015

Antropofagia, Montaigne e uma receita especial (OCA / OUTRAS PALAVRAS)

PICICA: "Como filósofo francês enxergou o canibalismo dos tupinambás – e de que modo este choque cultural inspirou um caldinho original, cuja receita oferecemos"


Antropofagia, Montaigne e uma receita especial

Como filósofo francês enxergou o canibalismo dos tupinambás – e de que modo este choque cultural inspirou um caldinho original, cuja receita oferecemos

Poucas ideias foram tão fecundas em galvanizar a identidade brasileira quanto aquela que está no centro do Manifesto Antropófago, publicado por Oswald de Andrade em 1928, no primeiro número da Revista de Antropofagia. “Só a Antropofagia nos une!”, bradou o poeta, e assim cunhava o termo, saudando a um só tempo a ancestralidade e o devir da cultura nacional.

Falava da “devoração” cultural do outro, tendo como símbolo a devoração “literal” praticada por alguns povos indígenas nativos das terras que vieram a se tornar o Brasil. Ou seja: apropriar-se do outro nunca nos fez menos “brasileiros”, ao contrário, essa flexibilidade e capacidade de diálogo é que nos faria o que somos. Ao menos assim seria neste utópico mito de origem modernista.
A nação mestiça brasileira ganhava um ato de fundação: nada de levantes políticos ou militares, mas sim a “Deglutição do Bispo Sardinha”, o primeiro europeu a entrar oficialmente no cardápio dos índios brasileiros, no caso, da etnia caeté. O fato, que ocorreu em 1556, foi usado para difundir a fama de “barbárie” dos povos nativos da América.

Mais ou menos nessa época, meados do século XVI, o filósofo francês Montaigne tratou do Novo Mundo, principalmente as terras ocupadas pelos seus compatriotas, onde hoje é o Rio de Janeiro. Contestando a pecha de “novos bárbaros” que recaía sobre os índios que conheceu (provavelmente os tupinambás), Montaigne escreveu o ensaio “Dos canibais”, abordando o tema que causava espanto na Europa. A partir de relatos, Montaigne se impressionou com o profundo respeito com que os índios tupinambás devoravam os seus inimigos capturados na guerra – talvez, pensava ele, com o intuito de absorver-lhes a coragem e a força. Aliás, segundo o francês, os próprios capturados não tentavam escapar, pois isso representaria algo como uma confissão de covardia. E ele via nisso um contraste com o jeito europeu de tratar seus prisioneiros e, também, de querer sobreviver a qualquer custo, mesmo que isso representasse a desonra.

Aproveitando o mote, e em retribuição à homenagem de Montaigne, oferecemos aqui a oportunidade de devorar e saborear um clássico francês. É a Vichyssoise Tupiniquim. A principal diferença em relação ao tradicional caldinho francês é que a batata é substituída pela mandioca.

A receita é de Raphaela Homem de Melo, chef da OCA Tupiniquim. Ela incluiu a dica de preparar em casa um caldo de legumes natural e, também, de finalizar com uma maravilhosa chantilly de noz moscada.

Aproveite e depois nos conte como ficou!

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Vichyssoise Tupiniquim

Ingredientes:
 
500 g de mandioca sem casca


4 talos de alho-porro cortado em rodelas


3 colheres de sopa de manteiga


Sal a gosto


Pimenta branca moída a gosto


Caldo de legumes natural



Para o caldo de legumes natural:

2 litros de água


1 cenoura descascada e cortada ao meio


1 cebola inteira descascada e cortada ao meio


As folhas do alho-porro que restaram dos talos


Preparo: despeje todos os ingredientes na água e colocar para ferver. Depois que levantar fervura, deixe cerca de 15 minutos, até que este caldo fique bem saboroso. Coe e reserve para cozinhar a mandioca.


Modo de preparo:

Murche as rodelas de alho-porro na manteiga. Acrescente a mandioca, o sal, a pimenta e o caldo de legumes. Deixe cozinha até que a mandioca esteja bem macia. Processe tudo em um liquidificador e coe. Sirva bem quentinho.

Sugestão: finalize o caldo com chantilly de noz moscada*!


*Chantilly de noz moscada:

200 ml de creme de leite fresco bem gelado

1 pitada de noz moscada


Preparo: misture a noz moscada moída no creme de leite fresco. Bata com um batedor até obter o “ponto de chantilly”.

Coloque uma pequena quantidade sobre o caldo ainda quentinho.

Fonte: OCA / OUTRAS PALAVRAS

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