novembro 27, 2008

Anibal Beça, ou de como as folhas da selva encobrem a poesia

Amigo, veja só a bondade do poeta Carlos Nejar com a minha fatura poética. Chega bem na hora, e à propósito, do lançamento do volume "Palavra parelha", 400 p, que abriga ainda os livros "Cinza dos minutos", "Chuva de fogo", "Lâmina aguda" e "Cantata de cabeceira".

Como em "Banda de asa", reúno novamente cinco livros. Mais a la recherche du temps perdu, e de me conceder maior tempo, uma vez que nesses 5 anos me dediquei, como presidente do Fundo Municipal de Cultura, à causa coletiva. Chegou a hora de tratar das minhas coisas O prefácio, que eu diria: " um belo ensaio", é da poeta e constista Astrid Cabral.

Pretendo lançá-lo em dezembro, lá pelo dia 15, em noite de autógrafo. Gostaria de contar com sua presença.

Abraço grande

Anibal

* * *
ANIBAL BEÇA, OU DE COMO AS FOLHAS DA SELVA ENCOBREM A POESIA

Aníbal Beça, poeta da Amazônia, sob quem nutre a raiz da fecundidade, capaz de trabalhar com habilidade na arte poética em todas as formas, desde o soneto ao haicai, tem vocação genesíaca. Talvez a vocação generosa de sua terra, talvez a vontade tão absoluta ou imperiosa de se exprimir, a ponto de a linguagem ser metamorfose, que não é propriedade ovidiana e sim, propriedade de abismo.

A variedade dos seus ritmos e imagens se mescla à variedade de um mundo que exige sempre mostrar a indefinível face. E qual a face ? São muitas e nenhuma, pois a linguagem se disfarça e toma muitas vozes para preencher a espessura do silêncio. E a espessura do silêncio é por onde a palavra nos vê ou assombra.

Há, por vezes, certo preconceito com a fecundidade, mormente num tempo de raquitismo criador, juntando a impotência à inveja, a pequena obra como grande proeza, desde que nasça de tempo. A verdadeira proeza é a mescla de qualidade e invenção não importando o tempo que a produziu. E é inegável a visão peculiar de Aníbal Beça, a multiplicidade dos ritmos e das formas, o que vislumbrava William Blake em um de seus provérbios: "A exuberância é beleza".

Há que haver na criação o espaço societário e respeitoso entre os poetas do menos e os poetas do mais, descabendo a mera avaliação daqueles em oposição a esses, quando todos se completam, conforme sua própria natureza e respiração do pensamento. O bosque deve conviver, harmoniosamente, com a floresta, ou vice-versa, porque ambos são importantes para o universo vivo.

Essa avidez de chama, avidez de refinamento da palavra, a avidez do ludus que persegue musicalmente a lógica, ou deixa-se arrebatar por ela, a favor do tempo do poema, a avidez de dizer ou bradar a existência das coisas, como se elas não pudessem repousar , a avidez de tudo cobrir com palavra, ou de a palavra não se calar nunca, faz com que admiremos, comovidos, esta sinfônica poética de signos e sonhos. Sobretudo, pela maneira operosa com que, ao ser lida e nos lendo, também nos descobre.

Casa do Vento, Urca, Rio, 27 de novembro-2008.
Carlos Nejar – da Academia Brasileira de Letras.
Posted by Picasa

Nenhum comentário: