novembro 26, 2008

Saravá, Umbanda! Religião brasileira, com certeza

Saravá, Umbanda! Religião brasileira, com certeza

Por Eloy Santos [Quarta-Feira, 19 de Novembro de 2008 às 16:38hs]

Saravá! Há 100 anos, no dia 15 de novembro de 1908, nascia a Umbanda, religião brasileira, com certeza. O fato histórico aconteceu em um centro espírita kardecista, na cidade de Niterói, então capital do antigo Estado do Rio de Janeiro. Uma divindade surpreendeu os médiuns e assistentes, falando pela boca de um jovem de 17 anos, Zélio Fernandino de Morais. Era caboclo e anunciou: “(...) se quiserem saber o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim.” Antes da manifestação, vários médiuns foram “tomados” por entidades que falavam como indígenas aculturados e ex-escravos e seus primeiros descendentes no Brasil. Zélio, que ali fora em busca de saúde para o corpo, levantou-se da sala, saiu ao jardim da casa e voltou com uma rosa nas mãos. Logo também foi “tomado”.

Um dos médiuns videntes perguntou a ele: “Por que o irmão fala nesses termos pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados?” Altivo, o Caboclo das Sete Encruzilhadas respondeu ao dirigente kardecista: “se julgam atrasados esses espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei em casa deste “aparelho” (Zélio) para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados ou desencarnados.” O dirigente voltou a indagar: “julga o irmão que alguém irá assistir ao seu culto?” Direto, soberano, o Caboclo das Sete Encruzilhadas respondeu: “cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei”.

Em 1975, Zélio Fernandino de Morais deu entrevista à revista Seleções de Umbanda sobre o que aconteceu no dia 15 e no dia seguinte, 24 horas depois da fundação da Umbanda: “em casa de minha família, na rua Floriano Peixoto, 30, em Neves (bairro da cidade) , ao se aproximar a hora marcada, 8 da noite, já se reuniam os membros da Federação Espírita do Estado, seguramente para comprovar a veracidade do que fora declarado na véspera, os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e, do lado de fora, grande número de desconhecidos”. Logo, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Disse ele que a prática do culto teria por base o Evangelho de Cristo e, como mestre supremo, Jesus. “A casa de trabalhos espirituais, que no momento se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o Filho nos braços, também seriam acolhidos, como filhos, todos os que necessitassem de ajuda e de conforto” – declarou Zélio Fernandino de Morais à revista Seleções de Umbanda. “Ditadas as bases do culto, o caboclo passou à parte prática dos trabalhos, curando enfermos. Antes do final da sessão, manifestou-se um preto velho, Pai Antônio, que vinha completar as curas.” A Umbanda, que nascera como síntese do espiritismo, do catolicismo, do candomblé e de religiões tupi-guaranis, se institucionalizava. Segundo a historiografia umbandista, em 1918 “o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral Superior para fundar sete tendas para a propagação da Umbanda.” Ao serem fundadas, até 1935, elas ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora da Conceição, Santa Bárbara, São Pedro, Oxalá, São Jorge e Tenda Espírita São Jerônimo. Data dos anos 30 a expansão da Umbanda pelos estados do Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul, principalmente. Como a violência e a brutalidade cercavam a religião brasileira, nas tendas e terreiros Ogum era cultuado como São Jorge, um santo católico. E assim a Umbanda cresceu, foi ganhando o Brasil.

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