novembro 08, 2008

Eleições Municipais e Saúde Mental (XV)

Foto: Rogelio Casado - Abraço simbólico - Manaus-AM, 18 de maio de 2007
Eleições Municipais e Saúde Mental (XV)

A Saúde Mental não existe. É o que se constata, a julgar pela ausência do tema nos debates entre os candidatos à Prefeitura de Manaus. Diz a lenda que o assunto não rende votos. A afirmação é falsa. Mais de 30 mil pessoas já passaram pelos serviços públicos de saúde mental de Manaus, o que significa que esse segmento elegeria, em tese, mais de um vereador.

Enquanto a prefeitura municipal acenou com a implantação de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) neste ano (a cidade precisa de dez), o que pensa o candidato eleito é uma incógnita.

O histórico dos assessores do candidato é preocupante. Nos anos 1990, foram os principais responsáveis por abortar o processo de Reforma Psiquiátrica iniciada a partir dos anos 1980, quando por todo o país disseminavam-se os serviços diários de atenção à Saúde Mental.

O advogado Felix Valois costuma dizer, em debates públicos, que só não muda de opinião quem não as tem. Entretanto, para formar opinião sobre o patinho feio das políticas públicas – Saúde Mental – é preciso ouvir o que pensa o movimento social por uma sociedade sem manicômios. Sabem seus militantes que, na ausência de compromisso dos poderes públicos (judiciário, legislativo e executivo), a cultura da exclusão, movida a dois séculos de estigma, além de demorar a ser debelada – ainda tem quem pense que “lugar de doido é no hospício” –, tende a ganhar roupagem nova, através da manutenção do hospital psiquiátrico e seus ambulatórios medicalizadores. A população desinformada embarca nessa canoa furada.

Definitivamente, no Brasil a Reforma Psiquiátrica só avançou quando foi questionada a aplicação autoritária do modelo sanitarista no campo da Saúde Mental. A construção da cidadania das pessoas em sofrimento psíquico não se faz dentro de ambulatórios, nem de hospitais psiquiátricos, mas através de programas terapêuticos individualizados, nas modalidades intensiva, semi-intensiva e não intensiva dos CAPS. O resto, até os ingleses esgotaram a paciência de ver.

Manaus, Outubro de 2008.

Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no jornal Amazonas em Tempo, no Caderno Raio-X, que circula às quartas-feiras.
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