PICICA: "Deve-se reforçar o princípio de produção.
E sempre lembrando Espinosa, conhecer é conhecer pela causa: como se
produz? Conhecer é saber como se produz, ou seja, experimentar é o
melhor jeito de maquinar. Aquele que produz sabe por onde andar, sabe
experimentar, torna-se sábio. Onde estão suas pequenas máquinas
pré-individuais? Onde elas se esconderam? Se apropriaram delas, a
tomaram de assalto e você nem percebeu. Corra, ainda dá tempo!"
A tarefa positiva consiste em descobrir num sujeito a formação ou o funcionamento de suas máquinas desejantes, independentemente de toda interpretação” – D&G, Anti-Édipo, p. 426
Tudo começa na cabeça do pai, que vem antes do filho. Ele desconfia, olha de esguelha: “então você deseja sua mãe!?“. Antes da neurose infantil, a paranoia adulta, “o que ele quer? Onde isso vai dar?“. É preciso proteger os fortes dos fracos, já dizia Nietzsche, Édipo
funciona por contágio, ele passa por osmose do quarto dos pais para o
berço do bebê, pegamos Édipo de alguém e não encontramos a vacina. Por
isso a tarefa destrutiva da esquizoanálise, para desfazer as máquinas
edípicas. O esquizoanalista pergunta: afinal, quais são suas máquinas
desejantes?
O inconsciente molecular ignora a castração, o desejo ignora pessoas, a produtividade das máquinas desejantes
ultrapassam toda forma de representação. Toda tentativa de
representá-las é uma desaceleração que impedem sua produtividade. Elas
não recusam por recusar, tal escolha mostra a grande velocidade com que
produzem, seu processo mecânico é não consciente. Interpretá-las é
entendê-las a partir de Édipo, como um conflito originário, e não se dar
conta que as máquinas possuem seus próprio trajetos. Não se pode
integrar as máquinas desejantes em um modelo fechado de subjetividade,
este seria um uso ilegítimo das sínteses conectivas do inconsciente.
Para alcançar a subjetividade lá onde ela
se faz, na imanência, precisamos encontrar o modelo de circulação dos
objetos parciais, criar zonas autônomas temporárias de subjetividade.
Por isso retomamos a pergunta, quais são as máquinas desejantes de cada
um? Corpos que se relacionam sempre com os mesmos corpos não variam, não
sabem experimentar. Todas as representações, todas as imagens enfiadas
goelas abaixo nos impedem de acessar as máquinas desejantes.
Quando se pergunta pelas máquinas
desejantes, há um retorno, um passo para trás, onde erramos? Deleuze e
Guattari têm um palpite: a tarefa mecânica da esquizoanálise procura
reverter todos os usos ilegítimos das sínteses do inconsciente! Abaixo o
transcendente! Não mexam com nossas máquinas desejantes sem nosso
consentimento. “Esquizofrenizar o campo analítico em vez de edipianizar o campo psicótico”
(D&G, Anti-Édipo, p. 409). Conectamos máquinas e fechamos imagens
globais, esquecendo que os objetos parciais não são parte de um todo.
Criamos disjunções exclusivas, ignorando que o inconsciente articula com
facilidade objetos contraditórios. Criamos subjetividades segregativas,
bi-unívocas, por todo lado só encontramos papai e mamãe e o ego,
perdendo assim o verdadeiro devir, experimentar da diferença.
A tarefa positiva da esquizoanálise é conduzida junto com a negativa. Lembremos de Bakunin, “a paixão por destruir é também uma paixão criativa!”. Afinal, em todos os lugares há perigos escondidos, é difícil escapar dos ideias ascéticos:
os psicanalistas são padres, os apresentadores de televisão são padres,
os políticos, padres também! Todos procurando suas inocentes ovelhas,
todos com um pensamento transcendente, fundado na falta, no medo, na
possibilidade ilusória de unidade e satisfação perene. Nos fazem desejar
a morte: imagens. O desejo não estará liberado enquanto interpretar e
acreditar em imagens.
Talvez haja tão somente uma doença, a neurose” – D&G, Anti-Édipo, p. 422
Deve-se reforçar o princípio de produção.
E sempre lembrando Espinosa, conhecer é conhecer pela causa: como se
produz? Conhecer é saber como se produz, ou seja, experimentar é o
melhor jeito de maquinar. Aquele que produz sabe por onde andar, sabe
experimentar, torna-se sábio. Onde estão suas pequenas máquinas
pré-individuais? Onde elas se esconderam? Se apropriaram delas, a
tomaram de assalto e você nem percebeu. Corra, ainda dá tempo!
O esquizoanalista é um mecânico, sim, é
para isso que ele serve, a esquizoanálise é unicamente funcional. As
máquinas devem ser desarranjadas e redispostas! Os objetos parciais
precisam desfazer seus fluxos fechados e abrirem-se para o fora. Os
objetos parciais até agora interpretados como parte de um todo são
abertos para possibilidades do fora. Não há uma totalidade por vir, nem
perdida. Não há Éden nem julgamento final. O desejo passa pelos órgãos,
mas não se fecha em um organismo.
O esquizoanalista não é um intérprete, e muito menos um encenador; ele é um mecânico, um micromecânico” – D&G, Anti-Édipo, p. 448
Somente mecanicamente é que se torna
possível descobrir suas máquinas desejantes, seu funcionamento, é
preciso apertar e soltar parafusos. A ferrugem das máquinas são as
representações que impedem seu livre funcionamento! O que flui? É o desejo,
sempre o desejo fluindo pelas máquinas que cortam e conectam. É preciso
ficar com os ouvidos atentos, estar à espreita, seguir as linhas de
fuga como Alice seguiu o coelho, seguir os índices maquínicos até as
máquinas desejantes.
Escapamos da armadilha edipiana, entramos
em campo aberto, voltamos a fazer as máquinas desejantes funcionarem,
encontramos nosso Corpo sem Órgãos. Deleuze e Guattari querem que cada
um descubra em si a natureza dos investimentos libidinais do campo
social, a relação com os investimentos pré-conscientes. As máquinas
desejantes fazem conexões em todas as direções, elas encontram as saídas
escondidas para a repressão do desejo.
As máquinas desejantes constituem a vida não-edipiana do inconsciente” – D&G, Anti-Édipo, p. 513
> este texto faz parte da série: Esquizoanálise <
Fonte: RAZÃO INADEQUADA
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