dezembro 30, 2015

SOBRE: VYGOTSKY, PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA, FORMAÇÃO SUBJETIVA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL. Por Clemerson Luís Silva (OBVIOUS)

PICICA: ""o homem é construído a partir das relações sociais” (MOLON, 2011, p. 48)." 


SOBRE: VYGOTSKY, PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA, FORMAÇÃO SUBJETIVA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL


"o homem é construído a partir das relações sociais” (MOLON, 2011, p. 48).

1. BIOGRAFIA

Nasceu na cidade de Orsha em novembro de 1968, próxima a Minsk, capital de Bielarus. Viveu maior parte da vida em Gomel, na Rússia. Sua família tinha privilégio financeiro, intelectual e social. “Seu pai era chefe de departamento do banco central de Gomele representante de uma companhia de seguros; Era um homem inteligente, irônico e sério, e sua preocupação com a cultura levou a influenciar a abertura da biblioteca pública de Gomel. Sua mãe, uma pessoa extremamente culta, falava vários idiomas e era apaixonada por poesia, porém, dedicou-se ao lar e à criação dos filhos.” (MOLON, 2011, p. 29). Vygotsky era o segundo filho dentre oito irmãos. 

Nesta família, a educação informal era extremamente valorizada. Seu pai possuía uma biblioteca em casa, que colocava à disposição de todos para leituras individuais e para promover discussões em pequenos grupos, ou seja, a sistematização dos debates intelectuais no âmbito familiar era frequente tanto na hora do chá quanto na presença de um autor (MOLON, 2011, p. 29).
 
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Vygotsky tem influenciado áreas como psicologia e pedagogia em diversos países, embora, segundo La Taille e colaboradores (1992, p. 23), sua obra não tenha grande divulgação pelo mundo devido a falta de tradução dos seus trabalhos. 

Foi pioneiro na formação intelectual. Estudou na Universidade de Moscou, na Rússia, no ano de 1917, sendo leitor voraz das áreas de Linguística, Ciências Sociais, Psicologia, Medicina, Filosofia e Artes. No mesmo ano graduou-se em Direito e Filologia, logo começou lecionar Literatura e Psicologia em Gomel até 1924, ano que também casou-se com Rosa Smekhova, com quem teve duas filhas. 

Enquanto esteve lecionando na cidade fundou a revista literária de Verask. Em 1924, com colaboradores, iniciou pesquisas e estudos voltados à Psicologia do Desenvolvimento, Educação e Psicopatologia. Entre 1925 e 1934 lecionou Psicologia e Pedagogia em Moscou e Leningrado (Rússia). O teórico começou ter problema de saúde a partir de 1920: tuberculose era a doença.
Segundo Molon (2011):

“durante o período de 1924 a 1934, Vygotsky apresentou um ritmo de trabalho muito intenso, produzindo quase 200 publicações e se envolvendo em inúmeros projetos de trabalho em várias cidades. Mas toda essa vitalidade não superou uma nova hemorragia provocada pela tuberculose. Em 2 de junho foi hospitalizado e em 11 de junho de 1934 morreu, aos 38 anos. Seu enterro ocorreu no cemitério de Novodevechii, em Moscou” (p. 34). 
 
2. PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA E A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE

Psicologia Sócio-Histórica é a teoria criada por Vygotsky que, através dos seus estudos físicos, psicológicos e comportamentais, afirma que o desenvolvimento e processo de aprendizagem de cada sujeito se dão através da inter-relação social que estabelece no proceder da vida. Nesse processo entende-se que o ensino-aprendizagem também se desenvolve através das interações feitas com o outro, com o grupo, com o meio vivido. O sujeito precisa do outro para formar e reconhecer sua própria identidade. Molon (2011, p. 48) afirma que “o homem é construído a partir das relações sociais”. 

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Entende-se que cada sujeito ao nascer a vida (analogicamente) fosse uma folha em branco pronta para escritas com acontecimentos que construirão a história de existência e subjetividade da criança. Nasce e constrói, por meio das situações, a própria história. A “folha branca” é escrita desde o primeiro contato com o outro. Esse processo é de tamanha naturalidade humana. Enquanto novo a dependência é necessária para sobrevivência – um bebê sozinho morreria –, é necessário os cuidados de outras pessoas. É dessa forma que cada indivíduo se insere no processo histórico. As relações sociais são principais fatores para o “descrever” da história de vida do sujeito; o espaço ambiente de vivência e convivência influencia na sua formação psicomotora e emocional. 

É importante destacar que Vygotsky trouxe muitas contribuições para a educação e a aprendizagem. Por meio dos seus estudos constata-se o quanto a cultura e a história do sujeito de determinado lugar podem interferir no seu processo de ensino-aprendizagem. Vygotsky (1987, p. 88 apud RATNER, 1995, p. 8) diz que “o desenvolvimento da criança é um processo unitário, mas não uniforme; integral, mas não homogêneo”. 

3. PARTE DA FORMAÇÃO SUBJETIVA DO SUJEITO: LINGUAGEM, SIGNO E SIGNIFICADO

Ninguém nasce sabendo, tampouco no decorrer da vida saberá de tudo. Para que o ser humano possa construir a subjetividade é preciso manter contato com os outros. É formação contínua. Interagir, trocar, partilhar são instrumentos que permite ao sujeito adquirir, absorver, processar e projetar o que aprendeu no ambiente que vive.

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A linguagem é a grande ferramenta de comunicação que se tem para manter contato. É ela que, possibilitando a troca de contato com o outro permite a cada indivíduo constituído dessa interação com o outro completar-se para conquistar seu potencial. Para Vygotsky existe a formação complexa dos conceitos aprendidos pelas crianças; os conceitos serão utilizados por elas para manter comunicação, uma vez que o ser humano é espécie comunicável.

Para que a comunicação seja feita, elementos mediadores são efetuados naturalmente segundo o processo evolutivo da criança que está aprendendo. O primeiro elemento mediador são os instrumentos. A criança ao se deparar com o ambiente, com o convívio social, amplia a possibilidade de transformar e conhecer ainda mais a natureza. Os animais também tem a capacidade de desenvolver esse elemento mediador e fazer uso. O homem faz uso com mais sofisticação pela capacidade de raciocínio e lógica; o mesmo também tem a capacidade de inovar e renovar, deixando instruções para que outros também façam o mesmo ou diferente. Mas nenhuma criação é tão original quanto se pensa ser: 

Todo inventor, por mais genial que seja, é sempre produto de sua época e de seu ambiente. Sua obra criadora partirá dos níveis alcançados anteriormente e também se apoiará nas possibilidades que existem fora de si (VYGOTSKY, 1990, p. 37 apud MOLON, 2011, p. 21).
 
O segundo elemento mediador é o signo que é de prioridade humana. Só o homem é capaz de absorver o signo e a ele atribuir um significado. O signo é qualquer coisa que representa algum sentido. Levando em consideração que sentido tem dois modos de ser tratado: sentido de direção e sentido de significado. Então o signo, além de ser esse fenômeno representativo, também tem classificações. Para criança a palavra (como signo) vai ser associada ao objeto, processada a informação o objeto terá também seu significado e, consequentemente, a utilidade. A imaginação é fecunda e uma vez obtendo a informação, associações futuras serão automáticas. Por exemplo, é fácil saber o que é cama mesmo sem ver uma à frente. A palavra associa ao objeto que evoca até a utilidade do mesmo.

Todas as funções psíquicas superiores são processos mediados, e os signos constituem o meio básico para dominá-las e dirigi-las. O signo mediador é incorporado à sua estrutura como um todo. Na formação de conceitos esse signo é a palavra, que em princípio tem o papel de meio na formação de um conceito e, posteriormente, torna-se o seu símbolo (VYGOTSKY, 1989, p. 48 apud LA TAILLE; OLIVEIRA E DANTAS, 1992, p. 30).
 
O pensamento verbal também é parte da formação, aprendido, assim como os outros, por meio da interação social. De acordo com Vygotsky (1989, p. 44 apud LA TAILLE, KOHL E HELOYSA, 1992, p. 29) o “pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo sócio-cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas nas formas naturais de pensamentos e fala”.

4. O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O desenvolvimento da criança, através da relação social, também foi classificado por Vygotsky que analisou no desenvolvimento origens e formas de comportamento consciente. São relações sociais que o sujeito com o social. 

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Bock e colaboradores (2008, p. 126) afirmam que para Vygotsky o homem não era visto como ser passivo na sociedade, tornando-se consequência das relações. O homem deve ser ativo nas relações interpessoais e sociais, que age sobre o mundo e transforma ações sociais que constituem funcionamento de um plano interno. Para se compreender os aspectos do desenvolvimento de Vygotsky os autores apresentam o significado dos três aspectos do desenvolvimento infantil, a saber:

O aspecto instrumental refere-se à natureza basicamente mediadora das funções psicológicas complexas. Não apenas respondemos aos estímulos apresentados no ambiente, mas os alteramos e usamos suas modificações como um instrumento de nosso comportamento. Exemplo disso é o costume popular de amarrar um barbante no dedo para lembrar algo. O estímulo – o laço no dedo – objetivamente significa apenas que o dedo está amarrado. Ele adquire sentido, por sua função mediadora, fazendo-nos lembrar algo importante.

O aspecto cultural da teoria envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em crescimento enfrenta e os tipos de instrumento, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe para dominar as tarefas. Um dos instrumentos básicos criados pela humanidade é a linguagem. Por isso, Vygotsky deu ênfase, em toda sua obra, à linguagem e sua relação com o pensamento. 

O aspecto histórico, como afirma Luria, funde-se com o cultural, pois os instrumentos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio comportamento foram criados e modificados ao longo da história social da civilização. Os instrumentos culturais expandiram os poderes do homem e estruturaram seu pensamento, de maneira que, se não tivéssemos desenvolvido a linguagem escrita e a aritmética, por exemplo, não possuiríamos hoje a organização dos processos superiores que possuímos. 

A aprendizagem tem etapas, contudo, um aprendiz não será igual ao outro. A proporção do aprendizado é totalmente diferente e completamente específico d ambiente, da cultura, ou seja, do grupo social na qual a criança estará inserida e aprendendo a conviver. 

Bock e colaboradores (2008) citando Duarte (2007), afirmam que:

“o homem se apropria da natureza objetivando-se nela para inseri-la em sua atividade social. Sem apropriação da natureza não haveria a criação da realidade humana, não haveria a objetivação do homem. Sem objetivar-se através de sua atividade o homem não pode se apropriar de forma humana da natureza... Não haveria desenvolvimento histórico se o homem se apropriasse de objetos que servissem de instrumentos para ações que possibilitassem apenas a utilização de um conjunto fechado de forças humanas e a satisfação de um conjunto também fechados de necessidades humanas. O que possibilita o desenvolvimento histórico é justamente o fato de que a apropriação de um objeto (transformando-o em instrumento, pela objetivação da atividade humana nesse objeto, inserindo-o na atividade social) gera, na atividade e na consciência do homem, novas necessidades e novas forças, faculdades e capacidades” (p. 142). 
 
É importante destacarmos que Vygotsky com sua teoria trouxe muitas contribuições para a educação e a aprendizagem, pois através de seus estudos pode-se perceber como a cultura e a história de um indivíduo podem interferir no seu processo de ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. Ed. 14. São Paulo: Saraiva, 2008.

LA TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K.; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

MOLON, S. I. Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotsky. Ed. 4. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

RATNER, C. A psicologia sócio-histórica de Vygotsky: aplicações contemporâneas. Trad.: Lólio Lourenço de Oliveira. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 

Fonte: OBVIOUS

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