abril 20, 2016

De Onde Eu Te Vejo. POR Bruna Girardi Dalmas (OBVIOUS)

PICICA: "O filme nacional De Onde Eu Te Vejo vale o seu ingresso pela pretensão de nos fazer repensar em como reinventar histórias de amor em meio aos caos urbano e cotidiano." 


De Onde Eu Te Vejo


O filme nacional De Onde Eu Te Vejo vale o seu ingresso pela pretensão de nos fazer repensar em como reinventar histórias de amor em meio aos caos urbano e cotidiano.

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Sou uma apaixonado do cinema nacional e acredito que nós brasileiros deveríamos valorizar as riquezas cinematográficas produzidas por nós. Desta vez me surpreendi em cada segundo pela minha escolha do filme De Onde Eu Te Vejo, desde quinta-feira em exibição nos cinemas brasileiros. As atuações sensíveis, poéticas e até mesmo emocionantes de Denise Fraga e Domingos Montagner nos faz repensar o sentido do amor e de como reinventá-lo em meio ao caos urbano do nosso cotidiano.

Se você está desacreditando no amor, está vivendo uma crise em seu relacionamento ou seja em qual fase o amor está se pondo para você, vá ao cinema mais próxima e se deixe invadir por essa trama tocante. O roteio de Leonardo Moreira e Rafael Gomes conduz a história por dentro de uma São Paulo que se faz protagonista, ela não é apenas plano de fundo para a história, ela também é atuante e se faz presente em cada aspecto. A fotografia é impecável, as cenas que são ambientadas em lugares históricos nos fazem se misturar ao cotidiano dos paulistanos, nos sentimos ali dentro da história.
Se se separar é uma tarefa para lá de complicado, imagina depois de trinta anos de encontros e desencontros, intimidades trocadas e uma separação iminente toma conta do então casal ou ex casal Ana Lúcia e Fábio. O inusitado é que apesar de separados, estão conectados por uma janela, os seus apartamentos além de vizinhos, também dão de vista um para outro. Assim se tornam espectadores da vida alheia, mas uma vida que outrora já fora compartilhada. Um roteiro franco, sem exageros que retrata a rotina de forma empática, profunda e sensível. Com diálogos que beiram poesia, me fizeram chorar como uma criança como se cada palavra dita e posta ali estivesse sendo escrito para mim. Poucos filmes me tocaram de uma forma tão profunda, intensa e ao mesmo tempo tão real.

Os dramas passados pelo casal exposto em cena são totalmente verdadeiras, honestas e poderiam ser experienciadas por qualquer um de nós Uma relação desgastada, o crescimento da filha, a saudade deixada pelo outro, estar separado e continuar se vendo, tudo isso é passado para o espectador de uma forma tão delicada, tão bem construída e sem exageros que fica fácil se identificar e se deixar levar por cada segundo do filme. O longa é uma crônica que retrata a magnitude que se esconde nas pequenas coisas e acontecimentos do cotidiano. O quanto somos formados por uma coleção de acasos, manias, ridículos, afetos e principalmente estórias. O que nos define como seres humanos é uma coleção infinita de mapas sejam eles concretos, imaginários que nos levam a ser quem somos e o que nos define é uma eterna mudança. Ou seja, o casal do filme foi mudando ao longo do tempo, o que me fez refletir o quanto vamos mudando e o quanto vamos nos tornando diferentes e até mesmo estranhos perante aos olhos do outro que nos acompanha e perante nós mesmos. Mas mesmo que as mudanças venham o outro que está ali ao nosso lado permanecer e ainda tiver a capacidade de nos amar mesmo com tantas mudanças, o amor se põe novamente.

O filme retrata com a insanidade do nosso cotidiano vai nos mudando sem que nós possamos perceber de fato isso. Crises, mudanças de emprego, demolição dos lugares que frequentamos, apego aos rituais, hábitos estranhos e tantas outras coisas. O que nos define ao longo da existência vai se modificando e perceber que tudo é inconstante e talvez por isso seja mágico é um dom. De Onde eu Te Vejo vale o ingresso e vale uma jornada através de cada um de nós a fim de que possamos refletir a respeito de nossos “ mapas”. Os nossos lugares, os nossos esconderijos, os nossos segredos mais obscenos, nossos rituais mais bizarros, nossas manias mais estranhas e talvez poder encontrar alguém para dividir as mudanças do caminho, as malas repletas de nostalgias a fim de poder compartilhar uma existência



Bruna Girardi Dalmas

Espero que tenha apreciado este artigo como uma fatia de felicidade. Se não, ficarei feliz em escutar a sua opinião. Sejam todos bem-vindos e se sintam convidados para expressar toda sua forma de arte.

Fonte: OBVIOUS

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