abril 15, 2016

Poussin: entre o intelecto e o sensível. POR Carolina Carmini (OBVIOUS)

PICICA: "Um dos maiores representantes do classicismo do século XVII, Poussin trouxe para a arte clássica tanto um rigor intelectual e matemático quanto a sensibilidade de uma poesia visual única em seu período. Durantes os séculos seguintes, seu trabalho foi inspiração para artistas como Jacques-Louis David, Paul Cézanne e Pablo Picasso." 


Poussin: entre o intelecto e o sensível


Poussin, artista símbolo do classicismo francês, soube harmonizar razão e poesia em suas telas. A sensibilidade dos movimentos e das cores dos personagens divide espaço com o rigor matemático das paisagens. Poussin marcou a história da arte e tornou-se referência para diversos artistas.

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Poussin, "A Praga de Ashdod".

Um dos maiores representantes do classicismo do século XVII, Poussin trouxe para a arte clássica tanto um rigor intelectual e matemático quanto a sensibilidade de uma poesia visual única em seu período. Durantes os séculos seguintes, seu trabalho foi inspiração para artistas como Jacques-Louis David, Paul Cézanne e Pablo Picasso.

Nicolas Poussin nasceu na França em 1594 e faleceu em Roma em 1665. Seu desejo em ser artista despertou com a visita de um pintor a sua aldeia. Ambicionando seguir carreira, mudou-se para Paris, mas não conseguiu pagar a bons professores e acabou por estudar com pintores menores. 

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Poussin, "O Rapto das Sabinas" (1637).
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Poussin, "A Adoração do Bezerro Dourado".

Em 1624, conseguiu ir para Roma, onde trabalhou até ao final de sua vida. Lá estudou fervorosamente e escolheu cuidadosamente suas influências: as telas de Rafael, as cores de Ticiano, os frisos dos túmulos greco-romanos e estátuas de antigos escultores. Seu desejo era que a beleza dessas obras o ajudasse a transmitir sua visão de terras de outrora. 

Poussin desprezava o realismo e a superficialidade acadêmica. Suas pinturas possuem uma distribuição calculada da estrutura pictórica, incomum no século XVII. Nesse distribuir matemático das composições, o artista jogava com o equilíbrio das massas, com o balanço dos planos e das luzes. Os volumes, os planos, o claro-escuro e o colorido raro são orquestrados com habilidade e grande segurança. Era praticamente um escravo das noções clássicas de pureza, grandiosidade e distância, e, no entanto, possui a vivacidade plástica e o movimento melódico. 

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Poussin, "Cephalus e Aurora".
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Poussin, "Atenas Apresentando Armas a Aeneas".

Sua sensibilidade em captar as nuances do gesto, do desenho, da cor e da movimentação é primorosa. O detalhe variava de acordo com a obra em questão, criando assim para cada tela uma narrativa própria e memorável. Seus temas vão desde cenas canónicas de ternura discreta, orgias báquica, luto, a virtude cívica e mandamentos bíblicos. Outros, são de sua própria criação, ou assuntos que nenhum artista havia escolhido para trabalhar. Com isso, Poussin ficou conhecido por uma pintura peculiar e vigorosa que não se prende a um estilo único.

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Poussin, "A Inspiração do Poeta".

Alguns de seus quadros têm uma mensagem moral ou filosófica; outros procuram chamar a atenção do homem para a questão da efemeridade da vida. Os homens elevados a heróis por Poussin são os que trocam o vício e os prazeres pela virtude e pela razão. Em Midas e Baco, Poussin sugere o questionamento da ânsia por riquezas que o homem possui, desvirtuando valores. E, o mais importante, fazendo com que ele perca tudo o que lhe é de verdadeiro valor.

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Poussin, "Midas e Baco".

Um dos trabalhos mais famosos de Poussin, Os Pastores de Arcádia, retrata uma lápide enorme, onde se lê Et in Arcadia ego (Até na Arcádia estou), nome pelo qual a pintura ficou conhecida. Em uma paisagem tranquila e ensolarada, três belos jovens pastores e uma jovem em finas vestes reúnem-se em torno de uma lápide. A natureza que seria desordenada, na tela é submetida à uma ordem geométrica, e árvores tornam-se quase que elementos arquitetônicos da composição. 

Um dos pastores encontra-se inclinado tentando decifrar a inscrição. A frase em latim refere-se à morte, que até mesmo em terras idílicas está presente. As figuras do quadro se agrupam ao redor da lápide formando uma espécie de moldura humana com seus rostos melancólicos e gestos comedidos. Apesar da seriedade do tema, Poussin o trata com extrema delicadez,a a ponto de a morte perder todo o terror. 

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Poussin, "Apolo e Daphene".
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Poussin, "O Triunfo de Neptuno e Anfitrite".

Em suas representações de mitos clássicos, Poussin opera através da dualidade, onde a sensualidade é latente e sutil. Em Dança para música do tempo as jovens deusas e ninfas divertindo-se não parecem divinas, mas filhas da terra. A seda colorida que recobre seus corpos deixa os contornos sensuais, o céu azul de nuvens douradas que recobre a paisagem lírica convida a participar da cena. 

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Poussin, "Dança para a Música do Tempo".

Em Rinaldo e Armida, há uma evidente tensão sexual entre o guerreiro adormecido ao pé de uma arvore e a bela jovem com sua pele branca e seios desnudos ajoelhada ao seu lado. 

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Poussin, "Rinaldo e Armida".

A arte de Poussin é a perfeita junção do poético e da razão. O artista modificou a história da arte ao ampliar o campo de experimentações e quebrar as fronteiras do que era posto como arte francesa e italiana. E assim abrir caminho para artistas como Géricault, Ingres e Delacroix. 

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Poussin, "Moisés, Bebé Salvo no Rio".

carolina carmini

gosta de pensar que se não tivesse nascido, alguém a teria inventado.

Fonte: OBVIOUS

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