PICICA: "Um instrumento que simboliza a cultura japonesa, numa época de
glórias e inglórias, manchada pelo sangue e marcada pela inabalável
tradição, carrega a alma de uma era."
Katana: a alma dos samurais
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No Japão feudal, estado submerso por ditaduras militares e isolado do resto do mundo, na era que percorreu os anos entre 1100 e 1867, existiram homens que personificaram a honra e glorificaram a tradição. A história os chama de samurais, homens de prumo forte, homens que alcançaram as mais difíceis virtudes por meio da disciplina. Homens com apurado senso de justiça, lealdade e fidelidade para com eles mesmos, para com o próximo, para com seus líderes, seu país e sua história. Eram guerreiros não somente pela bainha preenchida ou pelos combates, mas porque enfrentaram uma grande jornada espiritual e social para serem dignos dos atributos que lhes conferiam o prestigiado nome de samurai.
Como soldados da aristocracia japonesa, os samurais ocupavam um alto status na sociedade nipônica daquela época. Eram dotados de grande capacidade e paciência para entender e absorver os ensinamentos de Bushido – o caminho do guerreiro. O Bushido era uma espécie de código de conduta, que exigia maestria para lidar com as mais diversas circunstâncias de maneira serena, moral e nobre, com introspectivo respeito às tradições e à história. Esta conduta era influenciada pelo budismo, xintoísmo e pela filosofia de Confúcio.
O principal instrumento de um samurai, no entanto, era a katana, ou nihon-to. A famosa espada que vemos em filmes ou ilustrações era como uma extensão do próprio guerreiro. Considerada a alma do samurai, a katana retratava a força, a coragem e a disciplina do homem que a carregava. Para além do seu sentido material, como instrumento de guerra, a espada era encarada como filosofia de vida. Simbolizava a castração de todas as impurezas que contaminavam a sociedade. Aos samurais também era concedido poder perante os civis.
A típica arma, com no mínimo 60 centímetros, era confeccionada com a mais alta categoria do engenho e competência orientais. Sua elaboração era um verdadeiro ritual, muito respeitado pelos artesãos e guerreiros. Com uma leve curvatura e ponta semi-curva – por isso o samurai embainhava sua espada na altura da cintura – sua fabricação nem sempre seguiu um único método de produção, e a evolução desse processo originou diferentes espadas em diferentes épocas. Sua forma mais robusta e compacta, com o gume virado para cima, foi confeccionada para rápidos golpes de corte. A katana foi desenvolvida para ser implacável.
A autêntica espada japonesa é feita da combinação de dois tipos de aço. Esta combinação, que extrai os melhores atributos dos dois tipos do metal, resulta num material que torna a espada mais maleável, com uma extraordinária potência de corte em ação. Sua confecção se dá aquecendo e martelando durante vários dias um bloco desses dois aços combinados. Uma vez livre das impurezas que o material possa conter, o artesão começa a dar-lhe a forma de uma espada, e a katana é ligeiramente curvada num processo suave e paciente.
Para tratar a lâmina, usa-se uma mistura especial de argila úmida e cinzas de pedra ou ferrugem. Esta mistura é aquecida e, em seguida, resfriada em água ou óleo, a fim de temperá-la. Em seguida é endurecida em um calor acima de 800° C. Logo após é iniciado o processo de polimento que pode levar até três semanas, até a lâmina obter um acabamento espelhado. Todo este processo pode sofrer pequenas alterações de acordo com o artesão.
Depois da 2ª Guerra Mundial, a produção de katanas diminuiu drasticamente. Hoje, raramente é fabricada artesanalmente, mas apenas em versões industriais, imitações em série, sem corte, para decoração ou prática de algumas artes marciais.
Passada a era dos samurais, a katana é agora item de grande valor histórico, considerada a espada de maior qualidade já produzida pelo homem, venerada por historiadores e colecionadores de todo o mundo por sua excelência artesanal e artística, além de ser referência cultural e simbolizar uma época.
A katana era a alma do guerreiro, era a extensão do seu corpo, que adquiria movimentos teatrais ao desembainhá-la, para a morte ou para a arte.
rejane borges
Gosta das cores de folhas secas ao chão. E das cores das folhas velhas dos livros.Fonte: OBVIOUS
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