abril 18, 2016

Amor, poesia e cozinhar. POR José Silveira (OBVIOUS)

PICICA: "Cozinhar exige um misto de curiosidade e desejo de aprender. Como afirma Mia Couto: "Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Cozinhar não é serviço. 

Cozinhar é um modo de amar os outros.""
 


Amor, poesia e cozinhar


Cozinhar exige um misto de curiosidade e desejo de aprender. Como afirma Mia Couto: "Cozinhar é o mais privado e arriscado ato. No alimento se coloca ternura ou ódio. Na panela se verte tempero ou veneno. Cozinhar não é serviço. 

Cozinhar é um modo de amar os outros."

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Cozinhar é um dom. Não é simplesmente uma fórmula matemática, ou seguir a receita. Muito depende da inspiração e muitas vezes o que temos na geladeira. Há algo mágico no ato de cozinhar. É uma espécie delicada de feitiçaria. Está presente a criatividade e o prazer.

Cozinhar nos situa num lugar muito particular. São momentos sublimes, de êxtase e genialidade. De fato, “carrega uma força emocional e psicológica do qual não podemos ou queremos nos livrar”. Cozinhar é um ato de amor. Se o amor é o ápice mais perfeito da loucura e da sabedoria, cozinhar é uma forma poética de juntar elementos genuinamente diferentes e torná-los agradáveis.
Cozinhar faz parte da poesia da vida. 

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Cozinhar abre perspectivas e novos horizontes. Porque vamos aprendendo sobre os ingredientes, logo queremos saber a procedência (o produtor), como as coisas são feitas, sua trajetória. 

E é um momento festivo e nostálgico a hora de comer. As conversas, os olhares, o silêncio saboroso e o barulho dos talheres. Quando estamos na presença de nossa família e de pessoas especiais, sentimos uma centelha divina. É um raro momento de epifania. 

Para Michael Pollan, cozinhar é uma das atividades mais interessantes e recompensadoras que podemos fazer. Dizem que a escritora Agatha Christie fazia da cozinha seu refúgio predileto. Quando seu pai morreu, em 1901, ela estava com 11 anos. Em vez de ir ao funeral, preferiu passar o dia entre pratos e fogões. Certa vez, a autora admitiu que os melhores momentos para inventar uma história eram aqueles passados ao fogão, que cozinhar e escrever eram ofícios muito parecidos. 

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Tanto o ato de cozinhar como de escrever requerem um eterno aprendizado. Dissolvem angústias, minimizam as aflições, orientam uma decisão sábia e ajudam a construir saídas no labirinto criativo.
“Cozinhar é a única coisa que, enquanto eu faço, sinto poder confiar inteiramente. Quando monto um prato, minha mente se esvazia por completo. Tudo se baseia no sentimento”.
É um momento doce, salgado, picante de amor e poesia. 

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José Silveira

Professor universitário, bon vivant, hedonista e feliz com a vida.

Fonte: OBVIOUS

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