PICICA: "Um dos principais nomes da literatura brasileira e figura literária de
estatura internacional, Clarice Lispector esforçou-se para desconstruir o
mito em que se cristalizou sua imagem, associada à da mulher triste e
solitária."
Clarice Lispector
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Clarice Lispector, nome que recebeu no Brasil em substituição a Haia Lispector, nasceu em Tchechelnik, na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920, filha caçula de Pinkhouss Lispector e Mánia Lispector. Fugindo da dominação comunista no país durante a guerra civil (1918-1921) após a Revolução Bolchevique de 1917, o casal foi obrigado a fazer escala na aldeia de Tchechelnik para que nascesse aquela que viria a ser um dos ícones da literatura brasileira. Menos de dois anos depois, com as filhas mais velhas, Tânia e Elisa, e a caçula, os Lispector partiram rumo ao Brasil, desembarcando em Maceió (AL), em 1922.
No Recife (PE), para onde se mudou com a família em 1925, Clarice viveu o que considerava “a verdadeira vida brasileira”, longe da influência estrangeira que chegava ao Rio de Janeiro, cidade que a família escolheu para morar em 1935. “Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor”, escreveu ela na crônica “Esclarecimentos – explicação de uma vez por todas”.
Em 1939, Clarice ingressou no curso de Direito da então Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, no ano seguinte, começou a carreira de repórter e jornalista em A Noite, do Rio de Janeiro. No mesmo ano estreou com o conto “O triunfo”, publicado na revista semanal Pan, também do Rio. O ano de 1943 foi particularmente importante: casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente e publicou seu primeiro romance, Perto do coração selvagem. A tiragem de mil exemplares se esgotou rapidamente e representou, para Sergio Milliet, “a mais séria tentativa de romance introspectivo”. O crítico Álvaro Lins, por sua vez, considerou Perto do coração selvagem uma “experiência incompleta”. Discordâncias à parte, a obra rendeu à autora o prêmio Graça Aranha em 1944, quando ela se mudou para Nápoles a fim de acompanhar o marido na carreira diplomática: “Sou inteiramente Clarice Gurgel Valente”, declarava ela nesse primeiro ano dos 16 que passaria viajando pelo mundo. No entanto, foi com o nome de Clarice Lispector que publicou o segundo romance, O lustre, em 1945, e assim assinaria toda a sua obra de extraordinária ficcionista.
Apesar do pouco tempo de que dispunha para a literatura, certamente ainda mais reduzido com o nascimento do primeiro filho, Pedro, em Berna, Suíça, em 1948, Clarice publicou, no ano seguinte, seu terceiro romance, A cidade sitiada. Em 1952, de volta ao Rio, lançou Alguns contos e assumiu, sob o pseudônimo de Tereza Quadros, a página feminina intitulada “Entre mulheres”, do jornal Comício. Antes de partir para os Estados Unidos, onde por sete anos acompanhou o marido em mais um posto diplomático, colou grau na Faculdade de Direito, concluindo assim projeto iniciado em 1939. Jamais exerceria a profissão.
Em 1953, nasceu, em Washington, seu segundo filho, Paulo. A carreira literária internacional começaria no ano seguinte, quando a Librairie Plon, de Paris, lançou a tradução de seu primeiro romance sob o título de Près du coeur sauvage, com capa do pintor Henri Matisse. Alternando suas máquinas de escrever Underwood e Olympia no colo para não se afastar das crianças, Clarice continuou a produzir e chegou a escrever “umas oito cópias” de A maçã no escuro, romance que seria publicado em 1961.
Ao separar-se do marido, em 1959, ela retornou ao Brasil e iniciou colaboração no Correio da Manhã, dessa vez sob o pseudônimo de Helen Palmer, na coluna “Correio Feminino: Feira de Utilidades”. A partir daí, conjugaria jornalismo, que lhe possibilitou fazer entrevistas antológicas, e literatura. Achava que seu melhor romance era A paixão segundo G.H., de 1964. Esse romance, ao lado de Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de 1969, Água viva, de 1973, e Um sopro de vida, de 1978, entre outros, além dos livros de contos, inclusive infantis, fazem dela um ícone das letras brasileiras no mundo. Para o amigo Erico Verissimo, foi ela, ao lado de Guimarães Rosa, quem, no Brasil, melhor usou a sintaxe psicológica, não a gramatical, “para tentar descrever o indescritível, exprimir o inexprimível”.
Clarice Lispector morreu no dia 9 de dezembro de 1977, na véspera de completar 57 anos, no Rio de Janeiro.
Fonte: IMS
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