dezembro 23, 2015

Duas singelas homenagens ao senador Evandro Carreira, o querido "senador Pororoca", que acaba de nos deixar (Leia texto do senador)

PICICA 1: Neste 22 de dezembro de 2015, o senador Evandro Carreira nos deixa com uma história de intensa vida política, de presença social junto aos movimentos sociais e de uma vida pública que em sua representação lutou pela Amazônia como poucos.
Que seu legado de ensinamentos, apego, afeto e responsabilidade pelo mundo amazônico nos despertem para um dia alcançarmos a realização do Inventário Amazônico, um das lutas que cravou em sua história como Senador e Cidadão da Amazônia.
Compartilho com os amigos uma foto do Senador Evandro Carreira, deliciando seu café regional com tucumã e tapioca no café do Pina. A foto foi feita em 02 de maio de 2015, após o senador participar do Projeto Jaraqui na Praça do Polícia – Centro de Manaus. Neste encontro ele nos presenteou com uma cópia seu artigo O INVENTÁRIO DA AMAZÔNIA E O EMBUSTE DO SEU DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, versão datada de junho de 1974, que transcrevo abaixo.
Vereador e senador Evandro Carreira, somos gratos por sua pulsante voz e ações em favor de nosso povo!
Descanse em Paz!
Valter Calheiros (fotógrafo do movimento socioambiental SOS Encontro das Águas)

PICICA 2: Filho de Tocandira Baltu Carreira e Inácia das Neves Carreira. Advogado graduado em 1958 pela Universidade Federal do Amazonas foi suplente de deputado estadual em 1958 pelo PST e em 1962 pelo PL e mesmo derrotado foi eleito vereador em Manaus nos anos de 1959 e 1963. Com o bipartidarismo imposto pelo Regime Militar de 1964 foi para a ARENA e obteve novas suplências ao se candidatar a deputado estadual em 1966 e a vereador de Manaus em 1968.
Após um litígio com seu partido trocou de legenda e pelo MDB foi de novo suplente de deputado estadual em 1970, mas em 1974 beneficiou-se da onda oposicionista e foi eleito senador pelo Amazonas ao derrotar o candidato Flávio Brito (ARENA).[2]
Com o pluripartidarismo restaurado no governo João Figueiredo ingressou no PMDB, mas ao se indispor com a legenda foi para o PT e disputou a reeleição numa sublegenda em 1982, sem sucesso. Também foi derrotado ao buscar um mandato de deputado federal pelo PSB em 1986 e ao tentar, por duas vezes, um novo mandato de senador: pelo PV em 1998 e pelo PSOL em 2010.[3]

PICICA 3: É preciso reconhecer que a popularidade do querido "senador Pororoca" estava relacionada à sua forte identidade amazônica, coisa rara entre os nossos parlamentares. Elegeu-se senador, tanto pelos relevantes serviços que prestou à cidade na condição de vereador por onze anos consecutivos, quanto pela onda de insatisfação política com o regime militar, que resultou no sufrágio do maior número de parlamentares oposicionistas naquele inesquecível 1974. Dele foi meu voto. Quando respondi pela Comissão de Ética no período eleitoral de 1982, num PT que ainda se orgulhava da sua ética, vivemos um episódio singular, já narrado neste blog, que revela os aspectos controversos das práticas políticas, de ética duvidosa, que imperavam na ampla maioria parte dos partidos políticos da época. Refiro-me aqui ao MDB, agora nomeado como PMDB, que tinha entre seus caciques o lendário "Boto Tucuxi", como era conhecido o governador Gilberto Mestrinho, nas mãos de quem o nosso Evandro Carreira comera o "pão-que-o-diabo-amassou", quando exercia a vereança, sofrendo implacável perseguição, época em que os perseguidos temiam pela própria vida. O episódio acima referido foi narrado num livro de Crônicas Políticas de Simão Pessoa - o mesmo texto que Simão publicara no jornal A Crítica, lamentavelmente sem ter sido acompanhada da minha resposta, enviada por e-mail, que continha uma dura crítica à desaforada versão de senador sobre o referido fatos que envolveram a mim e vários outros companheiros. Desta vez, contrariando seu habitual tratamento aos desafetos, ele não me desafiou para um duelo na praça S. Sebastião, como como costumava fazer. Superado o episódio voltei a encontrá-lo, agora na condição de ativista do movimento socioambiental SOS Encontro das Águas, que teve a honra de tê-lo entre os apoiadores da causa. Evandro Carreira, hábil e laureado orador, tinha muito apreço por discursos que primassem pela aguda percepão das questões do nosso tempo. Sentiremos saudade do corajoso, divertido e para sempre nosso "Senador Pororoca", com muito orgulho e carinho. 
(Rogelio Casado, ativista do movimento socioambiental SOS Encontro das Águas)

 Foto: Valter Calheiros
 
O INVENTÁRIO DA AMAZÔNIA E O EMBUSTE DO SEU DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 

O INVENTÁRIO DA AMAZÔNIA é a única providência racional, científica e verdadeiramente honesta a se tomar em relação ao sublime arabesco HIDROHELIOFITOZOOLÓGICO, urdido pela Consciência Cósmica no Universo – a AMAZÔNIA –.

É inacreditável, é absurdo, que se professore sobre DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA, MANEJO DA FLORESTA AMAZÔNICA, ECONIMICIDADE DA AMAZÔNIA, com projetos de toda sorte, sem termos um INVENTÁRIO da floresta amazônica.

É de sabença universal, é consenso absoluto que o mais estúpido planejador ou projetista, jamais assume a responsabilidade de realizar um plano, um projeto, sem ter a sua disposição um INVENTÁRIO MINUCIOSO DO OBJETO, da COISA, a ser planejada. A estupidez dos GOVERNADORES E PREFEITOS NA AMAZÔNIA, insiste em obedecer a orientação do CAPITALISMO SELVAGEM, que impõe um falso progresso, idolatrando o consumismo e o imediatismo suicidas.

Somente o inventário: Quem é Quem? – a identificação de todos os indivíduos, poderá nos levar a quem ama quem, quem odeia quem, quem ajuda quem ou rejeita quem na AMAZÔNIA e, assim descobriremos a HOMEOSTASIA, a CATÁSTASE AMAZÔNICA, o segredo da sua sinfonia

Cada nicho biológico, cada ecossistema tem a sua música, o seu equilíbrio.

A AMAZÔNIA é um ciclópico ecossistema, resultado de milhões de ecossistemas menores e talvez em escala: são milhões, talvez bilhões de acordes, de músicas, de sinfonias, que resultam num imenso rendilhado HIDROHELIOFITOZOOLÓGICO, agasalhando bilhões de espécies vitais, que se entrelaçam, interagindo, configurando a HIDROESFINGE, cujo mistério, a Espécie Humana desvenda, ou desaparece do Planeta Terra.

Há uma interação, um sinergismo tão intenso, complexo e profundo entre os seres vivos na AMAZÔNIA, que resulta na mais soberba e eloqüente lição SOCIALISTA ditada por Deus ao homem e ao universo: O TODO É MAIS IMPORTANTE QUE A PARCELA!

O individualismo tem cabimento até o momento em que o indivíduo se organiza em grupo. Depois o interesse coletivo assume absoluta relevância. É o caso específico da Amazônia, onde a destruição de um indivíduo pode desequilibrar uma CATÁSTESE fragilíssima e provocar o desmoronamento de todo um arabesco HIDROHELIOFITOZOOLÓGICO desconhecido.

Conclui-se obviamente que é CHANTAGEM DO CAPITALISMO SELVAGEM, afirmar que é possível derrubar árvores seletivamente, isto é, manejar o arranjo HIDROHELIOFITOZOOLÓGICO, sem o INVENTÁRIO DA AMAZÔNIA, sem o mapeamento MINUCIOSO do arabesco divino da Amazônia, tão divino quanto a tessitura genética do HOMO SAPIENS, que estamos decifrando com o projeto genoma.

Aliás, em 1644, uma das maiores celebrações da humanidade, René Descartes, dizia no seu “Princípio da Filosofia”, um aforismo inexcedível: "A NATUREZA NUNCA FAZ POR MAIS, O QUE PODE FAZER POR MENOS", a primeira Lei Ecológica, enunciada há anos. E o homem não a compreendeu, com exceção dos Panteístas, sob a batuta genial de Spinoza. Contudo, o mais grave, em pleno século XX, quando HAECKEL já houvera criado a Ciência ECOLOGIA, no último quartel do século XIX, A BESTA HUMANA CONTINUA A CONTRARIAR A NATUREZA, principalmente na BIOTA AMAZÔNICA, onde o fenômeno vital é mais intenso e mais complexo que em qualquer outra parte do PLANETA TERRA.

Para a realização desse INVENTÁRIO, urge um concurso ecumênico.

Todas as nações devem participar! O PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE deve localizar-se em Manaus, Belém, Tefé, Humaitá, Boa Vista (Roraima), Porto Velho (Rondônia), Rio Branco (Acre), Macapá (Amapá), Santarém ou em qualquer lugar da Amazônia que ofereça apoio logístico.

O primeiro grande passo seria a INSTALAÇÃO DA UNIVERSIDADE BIOLÓGICA DA AMAZÔNIA, ocupando-se imediatamente do INVENTÁRIO FITOZOOLÓGICO DA HILÉIA, com as faculdades de Zoologia – Fitologia – Ecologia - Medicina Tropical – Farmácia – Odontologia – Genética – Ictiologia – Entomologia – Veterinária Tropical – Bioquímica – Biofísica - Fisiologia de Solos – Engenharia Florestal e Limnologia, etc, etc. Embora o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), pudesse realizar este INVENTÁRIO, com toda EFICIÊNCIA, SE O ANALFABETISMO BIOLÓGICO DOS GOVERNADORES E PARLAMENTARES DO AMAZONAS, não fosse tão grande a ponto de defenderem a ESTUPIDEZ DE UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AMAZÔNIA, com base num MANEJO FLORESTAL que a Ciência Fitológica desconhece e recomenda com muita cautela, o aproveitamento agrícola das várzeas, a criação de peixes e da Fauna Silvestre.

Qualquer preocupação científica que tenha como objeto um fenômeno vital, terá agasalho num currículo. E, sobretudo, acima de tudo, prioridade máxima para ENERGIA SOLAR! Desvendar, esvurmar, por a nú todo o fenômeno FOTOSSINTÉTICO.  Saber o que acontece nas folhas das árvores, nos estômatos, nas seivas, no PARÊNQUIMA, qual o papel da CLOROFILA e da LUZ SOLAR no fenômeno VIDA.

Precisamos fazer no laboratório, o que a CLOROFILA faz nos estômatos com a Energia Solar. O que acontece no PARÊNQUIMA das arvores? Esse é o verdadeiro caminho para o desenvolvimento da Amazônia.

EVANDRO DAS NEVES CARREIRA

Manaus, junho de 1974.

Um comentário:

Juarez Silva disse...

De certo grande perda, o encontrei certa vez no projeto Jaraqui, elogiou minha fala e contou-me sobre o parentesco com a família de Heliodoro Balbi (que dá nome à Praça) e da história da mãe de Heliodoro que havia sido escrava e belíssima, e pela qual caiu de amores o pai de dele,o italiano Balbi, que não só comprou-a, como à outros da família, libertando-os para se casar com bela negra. Se prontificou a dar mais detalhes e convidou-me para uma que o entrevista-se com calma, bom agora não será mais possível, reconhecidamente uma figura interessante para se conhecer.