dezembro 11, 2015

“Sociedade dos Improdutivos”: Espetáculo discute a loucura, exclusão capitalista e racismo (AGENDA CULTURAL DA PERIFERIA)

PICICA: "O espetáculo “Sociedade dos Improdutivos”, da companhia Sansacroma, parte da definição usual de loucura, abordando a exclusão social, exploração capitalista dos corpos produtivos e improdutivo, além de também denunciar um componente racista nesta questão. A peça encerrou sua temporada na Funarte e, em dezembro, vai para a Casa de Cultura Santo Amaro." 

“Sociedade dos Improdutivos”: Espetáculo discute a loucura, exclusão capitalista e racismo

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O espetáculo “Sociedade dos Improdutivos”, da companhia Sansacroma, parte da definição usual de loucura, abordando a exclusão social, exploração capitalista dos corpos produtivos e improdutivo, além de também denunciar um componente racista nesta questão. A peça encerrou sua temporada na Funarte e, em dezembro, vai para a Casa de Cultura Santo Amaro.

Diretora do espetáculo, Gal Martins, explica que “Sociedade dos Improdutivos” é resultado de uma pesquisa de dois anos, os quais percorreram diversos caminhos, inclusive com trabalhos dentro de um Centro de Atenção Psicossocial. Ela ressalta a importância de todo o processo de estudo e a criação de vínculo com os pacientes e realidade em volta deles, o que colaborou para dar ainda mais intensidade para o trabalho da Companhia.

Durante a conversa com o site Agenda da Periferia, Gal confessa, de maneira informal, que é difícil falar da peça. A loucura é um assunto do qual a sociedade não dá a devida atenção, isso porque quando um indivíduo é classificado como “louco”, perdendo sua utilidade produtiva para o sistema capitalista, ele é excluído. “Sociedade dos Improdutivos” denuncia, alerta e questiona essa realidade, ciente da dificuldade de dar respostas prontas, a diretora convida o público para participar da experiência de assistir à apresentação e encarar o tema de frente.

“Sociedade dos Improdutivos” é um nome bem forte. Como foi definido este nome?
O espetáculo trata do universo da loucura e das psicopatologias e de como o sistema enxerga essas pessoas. Daí surge o termo improdutivos... Já que por serem considerados doentes e fora de controle, não produzem e não favorecem o próprio sistema que querem que eles estejam à margem, isolados e controlados...Sendo assim, são improdutivos.

O que é o corpo produtivo e o corpo improdutivo? Em geral, as pessoas conseguem perceber que o corpo delas é usado como uma ferramenta para o capital?
O foco deste trabalho é a loucura. O espetáculo foi o resultado de dois anos de pesquisa em diferentes caminhos, um deles foram os ateliês coreográficos realizados no Caps Jardim LIDIA, na região do Capão Redondo.
O que pude perceber é que muitos pacientes têm consciência de que a sociedade os querem a margem e separadas, possuem discursos fortes e políticos sobre suas condições.
Criticam o sistema de saúde e o próprio tratamento, porém aceitam e sabem da importância que é estarem em um espaço como este, porque buscam de certa forma um alívio para seus sofrimentos.

Como foi o trabalho de intervenções artísticas junto aos usuários do Caps (Centro de Atenção Psicossocial)?

Continuando o texto da pergunta anterior. Participar da rotina de um Caps foi super importante para o processo como um todo. Criamos vínculos e processos que mudaram a rotina dos pacientes e as nossas também. Foi um grande desafio, vivenciamos diversos tipos de situações, imprevisíveis ou não, porém muito marcantes.

Qual é o lugar do corpo africano, do negro, nesse espetáculo?
Uma das questões que ficou marcante em toda a pesquisa foi a presença de muitos corpos negros, desde dos antigos manicômios, até hoje no Caps. A maioria são negros.
Isso consequentemente nos provocou e gerou a necessidade disso vir à tona de alguma forma. Outro fato muito especial, foi o encontro com a obra: Itinerários da Loucura em Territórios Dogon de Denise Dias Barros. Ao ler este livro, fiquei completamente envolvida com o modo em que a loucura é diagnosticada, vivida e tratada neste território do oeste da África, que decidi então trazer para o corpo dos bailarinos e dividir a dramaturgia do espetáculo em dois momentos. O primeiro com olhar fragmentado ocidental e o segundo contrapondo com um olhar coletivo e africano. Sendo assim, o corpo negro de certa forma está presente poeticamente em todo o espetáculo. O Africano toma lugar no segundo momento.

por Paulo Pastor Monteiro

Fonte: AGENDA CULTURAL DA PERIFERIA

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