PICICA:
“Eu acho que deveríamos ler apenas aqueles livros que conseguem nos ferir, que nos apunhala. Se o livro que lemos não nos acorda com um golpe na cabeça, por que estamos lendo, então? Porque isso nos deixa felizes, como você escreve? Meu Deus! Seríamos mais felizes se não tivéssemos livro nenhum. E o tipo de livro que nos deixa felizes é aquele que nós mesmos facilmente escreveríamos se precisássemos. Mas nós precisamos dos livros que nos afetam como um desastre, que nos tormenta profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que nós mesmos, como ser jogado em uma floresta longe de todos, como um suicídio. Um livro deveria ser o machado para o mar congelado dentro de nós. Isso é o que eu acredito.”
O que deixa um livro bom, segundo Franz Kafka
Texto originalmente publicado por: Critical Theory
Ler
cartas de pensadores que já morreram é sempre uma jornada fascinante. A
proeza literária empregada em conversas privadas pode até lembrar
aquelas mensagens de textos que mandamos para nossos amigos ou
familiares cheio de emoticons e exageradas risadas insinceras. Mas por
outro lado, poderíamos ficar cansados daquelas reflexões existenciais
via mensagem de texto.
Franz Kafka não era muito diferente em suas cartas pessoais. Na coleção “Letters to Friends, Family and Editors,” Ele varia de profundo ao cômico.
No texto abaixo, Kafka conta ao seu amigo de infância e colega de classe Oskar Pollak sobre um livro de 1.800 páginas que ele tinha acabado de ler, o diário de um poeta alemão, Christian Friedrich Hebbel.
De uma forma dramática, Kafka conta como o livro de Hebbel deixou sua
consciência inquieta. O que segue é Kafka descrevendo como um livro se
torna uma boa obra.
“Eu acho que deveríamos ler apenas aqueles livros que conseguem nos ferir, que nos apunhala. Se o livro que lemos não nos acorda com um golpe na cabeça, por que estamos lendo, então? Porque isso nos deixa felizes, como você escreve? Meu Deus! Seríamos mais felizes se não tivéssemos livro nenhum. E o tipo de livro que nos deixa felizes é aquele que nós mesmos facilmente escreveríamos se precisássemos. Mas nós precisamos dos livros que nos afetam como um desastre, que nos tormenta profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que nós mesmos, como ser jogado em uma floresta longe de todos, como um suicídio. Um livro deveria ser o machado para o mar congelado dentro de nós. Isso é o que eu acredito.”
O livro também inclui outras cartas, as
vezes muito bem humoradas. Em uma carta para Pollack escrita em 1902,
ele fala de sua escrivaninha. Possivelmente uma piada, Kafka diz que ela
possui espinhos de madeira que machucam seus joelhos.
“Se você permanecer sentado, em silêncio, cuidadosamente, e escrever algo respeitável, tudo bem” Kafka escreve. “Mas se você ficar animado, cuidado – se seu corpo se mover um pouquinho, você sentirá os espinhos nos seus joelhos, e como isso dói! Eu posso te mostrar as marcas nos meus joelhos. E isso simplesmente significa: não escreva nada emocionante e não deixe seu corpo se mover enquanto você escreve.”
Fonte: COLUNAS TORTAS
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