dezembro 25, 2015

Retrocesso pode reabrir as portas dos manicômios no Brasil. Por Sonielson Luciano de Sousa - (EN)CENA

PICICA: "(En)Cena – Qual o impacto da nomeação de Valencius Wurch Duarte Filho para as políticas públicas destinadas a usuários de álcool e outras drogas?
Domiciano Siqueira - O impacto será desastroso, pois, antes de atingir usuários, certamente atingirá os profissionais que trabalham com essas pessoas. Certas conquistas são muito mais políticas do que técnicas e administrativas. E se são conquistas políticas, são fruto dos debates e precisam ser respeitadas. Esse tipo de retrocesso reabre as portas não só dos manicômios, mas do medo, da insegurança e do desrespeito. Política pública é aquela que a gente faz e o estado implementa, não o contrário." 

Retrocesso pode reabrir as portas dos manicômios no Brasil


Por
Bacharel em Comunicação Social (CEULP/ULBRA), filósofo (Univ. Católica de Brasília), pós-graduado em Docência Universitária, Comunicação e Novas Tecnologias (Unitins), estudante de Psicologia (CEULP/ULBRA), especialista em Jornalismo Cultural, é editor do jornal e site O GIRASSOL, colaborador do (En)Cena e do Portal Educação, e atua como coach (SBC-SP).



Fotos: http://domicianosiqueira.blogspot.com.br

Ativista conhecido em boa parte do país, Domiciano Siqueira concede entrevista ao (En)Cena para falar sobre os impactos que a nomeação de Valencius Wurch Duarte Filho traz para as políticas públicas destinadas a usuários de álcool e outras drogas, além de toda a rede de atenção psicossocial e Saúde Mental. Domiciano diz que se nada for feito, não apenas os usuários destes serviços serão impactados negativamente, mas uma gama de profissionais envolvidos nestas políticas públicas, como psicólogos, por exemplo.
Profissional voltado às áreas de Saúde, Educação e Justiça com sólida experiência no setor, junto às organizações governamentais, não governamentais e de iniciativa privada, Domiciano Siqueira tem vivência em treinamentos, elaboração de programas de prevenção, levantamento de necessidades e implantação de novos sistemas de prevenção à AIDS e ao uso indevido de drogas. Além disso, detém habilidade na implantação e coordenação de projetos de vanguarda promovendo a inserção, manutenção e avaliação de trabalhos, racionalizando custos e otimizando programas já existentes.
Domiciano também tem um importante trabalho junto a programas de Redução de Danos, visando a diminuição na propagação de doenças (DSTs), e a melhoria de vida na população de usuários de drogas (UDs), como a troca de seringas e distribuição de insumos. Por fim, Domiciano Siqueira tem vasta experiência em assessoria e organização de eventos na área de Redução de Danos, Direitos Humanos e outros. Abaixo, confira a entrevista na íntegra.
 
(En)Cena – Qual o impacto da nomeação de Valencius Wurch Duarte Filho para as políticas públicas destinadas a usuários de álcool e outras drogas?
Domiciano Siqueira - O impacto será desastroso, pois, antes de atingir usuários, certamente atingirá os profissionais que trabalham com essas pessoas. Certas conquistas são muito mais políticas do que técnicas e administrativas. E se são conquistas políticas, são fruto dos debates e precisam ser respeitadas. Esse tipo de retrocesso reabre as portas não só dos manicômios, mas do medo, da insegurança e do desrespeito. Política pública é aquela que a gente faz e o estado implementa, não o contrário.

(En)Cena – Como ativista, quais as suas principais ênfases nesta área e, com esta mudança política no MS, qual o futuro das políticas públicas para o setor?
Domiciano Siqueira - Como ativista, assim como tantos outros que lutaram ainda muito mais do que eu, sinto-me estimulado a continuar com muito mais veemência a luta pela garantia dos Direitos Civis. Há ladrões que roubam dinheiro, há ladrões que roubam dignidade. Não será a primeira vez que somos chamados a lutar e empunhar bandeiras em favor da coerência e da liberdade.
 
 
(En)Cena – Como está o atual panorama da redução de danos, no âmbito da saúde pública federal?
Domiciano Siqueira - A Redução de Danos é um dos frutos da Luta Antimanicomial, da Reforma Psiquiátrica, mas, acima de tudo, fruto do desejo de inclusão, de respeito e dignidade com relação a grupos e minorias historicamente abandonados. Num quadro como o atual a RD se torna ainda mais necessária.
 
(En)Cena – Quais as ações que grupos organizados estão tomando a fim de evitar esta guinada rumo à onda manicomial? Há um movimento político de pressão? Se sim, haverá sucesso, diante do atual momento de enfraquecimento das esquerdas?
Domiciano Siqueira - Não vejo insucesso, encaro como mais uma importante batalha. Pelas redes sociais já é possível vislumbrar um verdadeiro "levante" contra esse atraso. É uma situação que deverá gerar uma grande onda de discussões, debates e embates, que vão contribuir com o amadurecimento da proposta antimanicomial, com o desejo de uma sociedade de bem estar para todos e não apenas para alguns.
 
(En)Cena – Qual o impacto que esta mudança de postura do MS, na área de saúde mental, traz para o SUS, de modo geral?
Domiciano Siqueira - O SUS já vem sendo combatido há bastante tempo e com mais ferocidade depois que vieram governos mais populares. Permaneço afirmando que continuaremos a trabalhar por um SUS melhor, por uma sociedade mais justa e igualitária. Será mais uma vez que a Saúde deverá ditar os passos nessa direção.
 
(En)Cena – Esta atitude do MS, que explicitamente nomeia um diretor pró-manicômio, vem de acordo com os movimentos internacionais, ou está totalmente na contramão? 
Domiciano Siqueira - O mundo é cada vez mais e mais Capitalista. O famoso modelo neoliberal continua forte na tentativa de construir um mundo de acordo com o que acreditam, e tem muita força. Confio, no entanto, que as mudanças ocorrem, mesmo em meio a retrocessos e obstáculos e isso vai contribuir com o avanço das propostas sociais e humanistas. Não penso em derrota ou vitória, penso em luta!
 
(En)Cena – Quais as suas considerações finais sobre o tema?
Domiciano Siqueira - Não sou especificamente um otimista, mas "nunca antes na história desse país" se viu tanta consciência à disposição das pessoas. Se esse processo ainda esbarra na necessidade de definir o que é maioria e o que é minoria... é democracia.
  
Fonte: (En)Cena

Nenhum comentário: