novembro 13, 2008

As palavras e os atos

Luís Inácio Lula da Silva
Na Mira do Belmiro 080

As palavras e os atos

Belmiro Vianez Filho (*)
belmirofilho@belmiros.com.br

Nesta terça-feira, diante de uma platéia familiar e excepcionalmente atenta, o presidente Lula propôs uma nova ordem econômica mundial que priorizasse não o refinanciamento da ciranda financeira e especulativa do sistema bancário internacional, mas que desse vez e voz aos trabalhadores que respondem efetivamente pela geração da riqueza no mercado mundial. Seus interlocutores – as lideranças sindicais da Itália - foram ao delírio e provavelmente respaldaram a manifestação do primeiro ministro, Silvio Berlusconi que, na seqüência, chamou Lula de simpático, competente e verdadeiro amigo. Confirma-se, assim, a bem sucedida romaria publicitária do Brasil, cujos acertos e avanços começam a ser reconhecidos pela comunidade internacional, com inegáveis ganhos nas relações do Itamaraty e do mercado global, a despeito das dificuldades econômicas que ainda temos a transpor e os imensos desafios sociais a superar.

Um deles diz respeito a essa mesma ordem econômica que – com absoluta procedência e motivos – o presidente condena. Condena, entretanto, no discurso mas na prática a teoria sofre sérios abalos. Afinal, é para manter essa ordem econômica que o Brasil investe no pagamento de juros mais de 8 vezes do que aplica em educação, a única via de verdadeira transformação da desordem econômica e social vigente no país e, com efeito, em todos os países ditos emergentes. Os gastos do governo com pagamento de juros do endividamento público, entre 2000 e 2007, somaram R$ 1,268 trilhão, o que representa 8,5 vezes o dinheiro investido em educação no mesmo período, que foi de R$ 149,9 bilhões. A informação procede do próprio governo e consta de estudo divulgado nesta quarta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, uma instituição que vive na corda bamba pelas contradições e constrangimentos que seus estudos costumam apontar e provocar. Além da Educação, o gasto com juros também supera de longe o que foi empregado em saúde: R$ 310,9 bilhões, daí uma população doente que faz das drogarias e farmácias um dos negócios mais rentáveis do Brasil.

Tão grave quanto isso e certamente um fator que desencantaria as lideranças sindicais italianas - que nem sombra guardam dos velhos tempos das confederações de extrema esquerda que enfrentaram o fascismo de Mussolini e dos apertos sociais do pós-guerra - é a informação de que a renda do trabalhador brasileiro cresceu 1% em sete anos, enquanto os impostos líquidos sobre produção e importação subiram 7,7%. Segundo o Instituto de Pesquisa, no mesmo intervalo, a renda nacional evoluiu 19,3%. Ou seja, entre 2000 e 2006 o sociólogo FHC e o sindicalista Lula não deram muita trela para a repartição do bolo com a “classe revolucionária”. O Ipea avalia que os dados mostrados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) não refletem a desigualdade realmente existente no país, porque não medem corretamente a participação do rendimento do trabalho no total da renda nacional. Ficam faltando dados como a renda dos proprietários e outros cruzamentos. Numa palavra, o país não tem a noção exata das contradições internas na distribuição de sua renda.

Esta semana, a propósito, o Brasil vai participar do G-20 em Nova York e é inegável o avanço de sua participação estratégica no conjunto das nações emergentes e na liderança da América Latina. Isso, porém, não reduz o imperativo de conduzir com mais afinco o dever e casa. E o dever passa pelo enfrentamento dessas graves contradições e inversão de prioridades. Os juros e sua relação promíscua com os impostos são os maiores nutrientes para essa desordem institucional e anomalia econômica que a crise desnudou. E o Brasil tem contribuído, decisivamente, para sua manutenção. Com que autoridade, portanto, dá para propor uma nova ordem econômica com uma trajetória de conivência e adesão a essa mesma ordem em padrões tão perversos e danosos ao interesse público nacional? A lição, ou melhor, a ação, o presidente e nós todos sabemos de cor e salteado... só nos resta aprender e dar o primeiro passo.

Zoom-zoom

· Prosa e atitude - E por falar na difícil coerência entre o discurso e a atitude, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, não precisou de mais de um dedo de prosa para anunciar nesta terça-feira um conjunto de medidas de alívio tributário e de aumento do crédito para o setor produtivo para ajudar as pequenas e médias empresas a enfrentar os efeitos da crise internacional.
· Pauta para as entidades – Na mesma balada, independente de saber que ambos estão se acotovelando pela vaga de candidato à presidência em 2004, o governador de São Paulo, José Serra, anunciou uma linha de crédito para a indústria automotiva no valor de R$ 4 bilhões. Seria oportuno, pois, que as entidades locais representativas do varejo, serviços e indústrias acessassem a página do governo de Minas http://www.mg.gov.br/ para meditar sobre as medidas e sua viabilidade local.
· Tributos e crédito – No toma-lá-dá- cá, Aécio assinou seis decretos, sendo três relacionados à implementação de medidas tributárias e três voltados à atividade de crédito. Por meio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), o governo de Minais ampliou limites de crédito em linhas operadas pelo banco, liberando mais recursos para os fundos já existentes, estabelecendo parcerias com organismos internacionais e entidades de classe do Estado, e adotando ações que facilitem o acesso aos financiamentos. O total das linhas é de R$ 460 milhões.
(*) Belmiro é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas
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