PICICA: "A lógica PTucana alimentada no país levou à “digestão moral da pobreza”, diz Nildo Ouriques à IHU On-Line.
O sociólogo explica sua tese afirmando que os últimos governos
“destinaram para as classes populares programas que basicamente impedem
que, num país coordenado pela superexploração da força de trabalho, as
classes populares morram de fome, mas não concedem jamais cidadania
no sentido pleno da expressão a essas classes”. Na avaliação dele, “não
bastasse isso, o que o governo faz, através da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República, é criar uma chamada
metodologia que considera classe média alta uma pessoa que recebe entre R$ 741 e R$ 1039”.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Ouriques relaciona a atual crise política
com o “marasmo” que têm sido as Ciências Sociais e as universidades
brasileiras, e com as alianças que permitiram a criação e sustentação do
“sistema PTucano” na sociedade. “O sistema político brasileiro faliu
porque nós estamos submetidos ao sistema PTucano, um sistema que defende basicamente os interesses das classes dominantes a partir de dois grandes partidos, o PT e o PSDB, que têm o mesmo ideário”, pontua.
Autor de O colapso do figurino francês. Crítica às ciências sociais no Brasil
(Florianópolis: Insular, 2014), reflete sobre a situação das
universidades e enfatiza que na academia há muitos “professores
refratários à crítica, qualquer coisa que você diga sobre a educação ser
uma catástrofe, estar muito mal, logo vem um batalhão poderosíssimo
buscando as migalhas daquilo que deu certo e quando você soma tudo — uma
operação que eles nunca fazem —, quando você chega ao final, o quadro é
terrível”, lamenta.
Segundo ele, “os intelectuais que estão nas universidades não estão dispostos a rever isso, porque eles estão pensando que ruim com a Dilma, pior sem ela. Eles estabeleceram como horizonte político o que temos, ou seja, não podemos ir adiante”.
Nildo Ouriques é doutor em Economia pela Universidad Nacional Autónoma de México - UNAM. Atualmente é presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos - IELA e professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC."
A falência do sistema político PTucano. Entrevista especial com Nildo Ouriques
“Quem fica pensando que o
drama brasileiro é com o confronto entre o democrático e o autoritário, o
atrasado e o moderno, não vai tirar nunca o Brasil do buraco”, diz o
sociólogo.
Foto: www.brasilescola.com |
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Ouriques relaciona a atual crise política
com o “marasmo” que têm sido as Ciências Sociais e as universidades
brasileiras, e com as alianças que permitiram a criação e sustentação do
“sistema PTucano” na sociedade. “O sistema político brasileiro faliu
porque nós estamos submetidos ao sistema PTucano, um sistema que defende basicamente os interesses das classes dominantes a partir de dois grandes partidos, o PT e o PSDB, que têm o mesmo ideário”, pontua.
Autor de O colapso do figurino francês. Crítica às ciências sociais no Brasil
(Florianópolis: Insular, 2014), reflete sobre a situação das
universidades e enfatiza que na academia há muitos “professores
refratários à crítica, qualquer coisa que você diga sobre a educação ser
uma catástrofe, estar muito mal, logo vem um batalhão poderosíssimo
buscando as migalhas daquilo que deu certo e quando você soma tudo — uma
operação que eles nunca fazem —, quando você chega ao final, o quadro é
terrível”, lamenta.
Segundo ele, “os intelectuais que estão nas universidades não estão dispostos a rever isso, porque eles estão pensando que ruim com a Dilma, pior sem ela. Eles estabeleceram como horizonte político o que temos, ou seja, não podemos ir adiante”.
Nildo Ouriques é doutor em Economia pela Universidad Nacional Autónoma de México - UNAM. Atualmente é presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos - IELA e professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
Confira a entrevista.
Foto: www.laolla.tv |
Nildo Ouriques - O sistema político brasileiro faliu porque nós estamos submetidos ao sistema PTucano, um sistema que defende basicamente os interesses das classes dominantes a partir de dois grandes partidos, o PT e o PSDB,
que têm o mesmo ideário. De tal maneira que o sistema político simula a
representação das classes subalternas, mas não encontra nos partidos
com expressão eleitoral uma plataforma onde seus interesses possam
aparecer.
Vamos descartar de cara o tema da questão social, porque o governo do ex-presidente Lula e o governo da presidente Dilma
são governos que jamais trataram a questão social com profundidade;
operam algo substancialmente diferente, operam aquilo que chamo de uma digestão moral da pobreza.
Ou seja, destinaram para as classes populares programas que basicamente
impedem que, num país coordenado pela superexploração da força de
trabalho, as classes populares morram de fome, mas não concedem jamais
cidadania no sentido pleno da expressão a essas classes.
Não bastasse isso, o que o governo faz, através da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, é criar uma chamada metodologia que considera classe média alta uma pessoa que recebe entre R$ 741 e R$ 1039. É por isso que no pronunciamento de domingo, 08-03-2015, a presidente Dilma pôde repetir, assim como anunciava o ex-presidente Lula,
que 40 milhões saíram da pobreza e que 30 milhões ascenderam à classe
média. Esses 30 milhões são aquelas pessoas que ganhavam abaixo de um
salário mínimo ou até um salário mínimo, ou seja, abaixo de R$ 741/R$
780 e R$ 1039. Se você considerar que quase 80% da força de trabalho no
Brasil ganham até três salários mínimos, esses três salários mínimos não
alcançam sequer o salário mínimo necessário sugerido pelo DIEESE, que é R$ 3079,00.
Sistema político colapsado
Assim, o sistema político colapsou porque os dois principais partidos têm o mesmo programa — basta ver que a presidente Dilma aplica na prática o programa que Armínio Fraga anunciou para o Aécio
— e se diferem nessa digestão moral da pobreza. Observe também que os
tucanos não criticam os programas sociais porque eles são muito baratos —
nunca esqueça que o Programa Bolsa Família consome 0,5% do PIB.
Os tucanos não só dizem e afirmam que não vão eliminar os programas
sociais, como podem ampliar, porque eles são muito baratos para o
governo.
Podemos dizer, então, que o sistema político já não nos representa. O discurso de que ruim com Dilma, pior com o Aécio,
entre os mais pobres é verdadeiro, mas isso não está próximo da solução
liberal da questão da cidadania; está muito próximo à caridade cristã,
que é algo substancialmente diferente.
"Simulam estar resolvendo a questão social sem tocar na propriedade e no poder" |
IHU On-Line - Como chegamos até
esse cenário e qual tem sido a contribuição dos intelectuais,
principalmente dos Cientistas Sociais, para pensar o Brasil?
Nildo Ouriques - Primeiro há uma derrota acadêmica;
as universidades nunca estiveram tão alienadas em relação aos grandes
problemas do Brasil. Nunca, não há antecedentes, nem durante a ditadura,
nem durante o governo de Sarney, nem depois de 1988. As universidades estão fechadas sobre si mesmas.
Falam que o Brasil tem um academicismo dominante, mas temos poucos intelectuais. Temos pessoas com currículo Lattes exuberante e contribuição intelectual nula. Por quê? Porque em 1994, Paulo Renato Souza inventou no Brasil este sistema de avaliação, que veio do Banco Mundial. Ele funcionou durante os oito anos do governo Fernando Henrique e nós todos pensávamos que esse sistema seria banido no governo Lula. Mas ao contrário, foi ampliado e permanece no governo Dilma.
De tal maneira que quando os professores são avaliados pelos próprios
pares, a partir de artigos e entrevistas, ocorre um desastre porque o
pensamento não encontra validação social.
Colonialismo intelectual
Os universitários, portanto, não precisam prestar contas à população nem à opinião pública; eles precisam prestar contas para a burocracia universitária
e para seus “coleguinhas”. Isso criou um cenário de cumplicidade, e não
de companheirismo, de acomodação, e não de crítica e, sobretudo, se
fortaleceu a ideia e a prática de que o fundamental vem de fora, do
exterior. Quer dizer, a universidade está organizada a partir de um colonialismo intelectual
e científico gigantesco, de modo que o analfabetismo nas Ciências
Sociais é dominante. A maior parte dos acadêmicos exitosos é aquela que
consegue repetir o tratado de justiça de John Rawls, a teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas ou qualquer outra quinquilharia de Boaventura de Sousa Santos.
Enfim, não há pensamento próprio e há um
duplo desconhecimento: um desconhecimento da contribuição brasileira ao
pensamento crítico e o desconhecimento gigantesco e já inaceitável, que
beira ao ridículo, que é o desconhecimento do pensamento crítico
latino-americano.
IHU On-Line – O senhor fala em
"colonialismo intelectual e científico" na área das Ciências Sociais nas
universidades brasileiras. Como isso se manifesta? Quais são as ideias
que colonializam o pensamento universitário?
Nildo Ouriques - Isso
desde sempre é assim. Desde sempre a universidade brasileira foi
organizada por uma carga colonial gigantesca, desde que aqui começaram
as faculdades de Medicina e de Direito. As primeiras universidades
brasileiras nascem nesse impulso. Nós não temos a tradição, por exemplo,
do Peru na Universidade de São Marcos ou da Universidade Nacional Autónoma de México - UNAM, no México. Essas são universidades do século XVI. As nossas universidades nascem tardiamente e como expansão colonialista a partir dos Bragança,
organizando, a partir dos interesses imperiais e — já chamemos assim —
republicanos, um mundo universitário enquanto típica organização para as
elites. Não havia nada de universidades de massa, nada vinculado aos
setores populares.
Universidade brasileira e o ideário francês
A universidade chamada moderna, essa que
se estabeleceu no século XX, nunca rompeu com isso, ao contrário, veja a
experiência da Universidade de São Paulo - USP, a nossa maior universidade. A USP é uma criação de 1934, é uma resposta do que tinha de pior na elite paulista contra a Revolução de 30, capitaneada por Getúlio Vargas, sendo uma espécie de construção de um estado burguês na periferia capitalista. Getúlio Vargas
e os seus discutiam a importância da Revolução de 30. Os paulistas, que
perderam aquela empreitada, fizeram a contrarrevolução de 1932 e criaram, em 1934, a USP,
precisamente contra os interesses nacionais e foram buscar aquilo que
alguns chamam de uma missão civilizatória francesa para criá-la. Então
começaram a descer aqui no Brasil figuras como o antropólogo Lévi-Strauss, o historiador Fernand Braudel,
e assim por diante, ou seja, um conjunto de figuras que não eram
importantes, mas que se fizeram importantes no Brasil e se fizeram
intelectuais no mundo, colonizando o Brasil. Então a USP já é essa universidade francesa de ultramar, isso em 1937, 1940, e essa tendência ficou até a ditadura.
A universidade e o modelo PTucano
Ora, nós sabemos que depois de 21 anos de ditadura, o cenário nas universidades
era devastador. Havia contestação política ao regime, havia defesa dos
salários e, portanto, ativismo sindical, mas não havia uma
reinvindicação para mudar profundamente os currículos, e nós continuamos
assim, mal. Veio a democratização e nunca pudemos sequer gozar, nas
Ciências Humanas, Tecnológicas e Biológicas, de uma revisão profunda
desses planos de estudo que aproximasse o Brasil do seu povo, da sua
história, da sua contribuição às Ciências Sociais e às Ciências Humanas.
A universidade aprofundou esse modelo até chegarmos nessa tragédia que é
o sistema PTucano.
Vou dar um exemplo de como isso se manifesta hoje a partir da minha análise junto com o professor Waldir José Rampinelli, em nosso livro anterior, que se chama Crítica à razão acadêmica. Quando era Ministro das Ciências e Tecnologia, Aloizio Mercadante
foi a uma Assembleia, em uma comissão do Senado de análise de Ciências e
Tecnologia e disse, categoricamente, que quase 80% das publicações
mundiais sibre a copaíba — que é anticancerígena,
analgésica, tem um conjunto de propriedades medicinais — são feitas por
doutores brasileiros a partir de papers publicados pelos brasileiros, mas no Brasil não temos nenhuma patente sobre a copaíba. Existem 17 patentes dos Estados Unidos, sete da Inglaterra, três da China e nenhuma do Brasil. Então, temos um sistema em que os biólogos, os especialistas escrevem um artigo sobre a copaíba
e o publicam numa revista estrangeira — que eles chamam de revista
internacional, mas que de internacional não tem nada. No exterior
funciona um complexo entre empresa privada, multinacional, Estado e
universidade. Nossos pesquisadores participam desse complexo, produzindo
pesquisas no exterior, mas as patentes são feitas lá. As multinacionais
criam um produto, vendem na farmácia, e o nosso pesquisador, quando tem
algum problema, compra esse produto e paga royalties para os países
estrangeiros.
O sujeito fica orgulhoso porque publicou
em uma revista em inglês e não entende que isto é a morte científica, a
dependência tecnológica e a miséria do nosso país enquanto cria riqueza
para os demais países. Isso tudo precisa ser revisado.
IHU On-Line - Qual é a sua avaliação do Ministério da Educação?
Nildo Ouriques – Nós há muito tempo não temos um Ministro que efetivamente entenda de educação, não há nem vestígios em ter alguém como Darcy Ribeiro
entre nós. A pasta da Educação tem um orçamento minúsculo, menos de
3,5% do PIB. Observamos que não é só a escolha do Ministro que é
equivocada. O que poderá ocorrer na educação se não houver uma revisão
radical deste tipo de comportamento universitário?
O que dizer do setor privado, que ganha suculentos recursos do governo federal, subsídios de toda forma, do ProUni, do Fies, de todos esses mecanismos de financiamento público para empresas privadas, que se transformou, durante o lulismo e durante o governo da presidente Dilma, num suculento negócio, enquanto nas universidades nós tivemos uma expansão degenerativa?
Obviamente há uma expansão, há salários
relativamente estáveis, que já estão esgotados agora, não há greves, mas
a universidade está fechada sob si mesma, sem contribuição científica
nenhuma. O Brasil é um anão no regime de patentes internacionais, não
produz ciência e tecnologia. A universidade presta serviço para as
empresas, mas isso não é pesquisa científica e tecnológica.
Barbárie na Educação brasileira
Quem manda na pasta da Educação é o
Ministério da Fazenda. Então nós temos uma situação perversa, porque não
só não há recursos, como o governo não quer mudar nada nas
universidades e na educação brasileira. Então ficam inventando Enem
e todas essas quinquilharias. Desde que me entendo como professor, vejo
bons projetos na Educação, só que nenhum consegue resolver o problema
educacional; esse é o ponto.
Esse pessoal que é encantado com política pública acha que a situação melhorou, porque criaram a Fundação para o Desenvolvimento do Ensino, Pesquisa e Extensão - Fundepe,
mas a verdade é que nunca saímos do buraco, o desastre continua, há uma
barbárie na Educação brasileira; é uma catástrofe completa.
Aproveita-se muito pouco do que é feito.
IHU On-Line - A crise do “menos
pior” apareceu durante o processo eleitoral e se manifesta na baixa
popularidade da presidente. Como as Ciências Sociais podem colaborar
para que possamos sair desse impasse do “menos pior”?
Nildo Ouriques – Primeiro, as Ciências Sociais deveriam pensar; pensar não é produzir ideologia, produzir ideologia é justificar o que está aí. Grande parte das Ciências Sociais
trabalha para justificar os dois bandos: um bando mais conservador, que
busca todos os argumentos necessários para invalidar o governo, e um
bando conservador também, mas de orientação mais liberal e turbinado
pela caridade cristã, que quer justificar o governo. Nenhum dos dois
bandos, portanto, está no pensamento crítico, que é
pensar desde uma perspectiva crítica com independência. Não é adequar o
pensamento à realidade, é colocar o pensamento e a reflexão crítica
cortando a realidade; essa é a questão essencial. Então as Ciências Sociais
têm se limitado a este triste papel de vender a sua caneta, os seus
textos, para justificar um dos dois bandos em ação, justificar o sistema PTucano.
Se você considerar que estes são os mais
vulneráveis ao colonialismo e ao eurocentrismo, eles também não pensam
sem a ajuda decisiva de um pensador europeu ou estadunidense. Citei aqui
Habermas, John Rawls, Boaventura ou Pierre Bourdieu,
ou qualquer um deles. Os sociólogos não sabem pensar a partir da
realidade e conhecendo os teóricos brasileiros, fazer a crítica aos
pensadores europeus e estadunidenses. Eles se transformam em meros
repetidores.
IHU On-Line - Um das críticas
que foram feitas ao PT, logo no início do governo Lula, foi de que o
governo de alguma maneira cooptou os movimentos sociais. A relação de
muitos intelectuais brasileiros com o projeto que o PT apresentou, de
alguma maneira contribuiu para minar também o campo das Ciências Sociais
no Brasil?
Nildo Ouriques – O
processo de cooptação é real, mas veja, a cooptação sempre tem dois
lados: o cooptador e o cooptado. Os movimentos sociais anteriores ao
processo de democratização e mesmo os que alimentaram o petismo cego
tinham limitações políticas e ideológicas gigantescas — veja o bom
comportamento do MST durante o governo Dilma, que assentou menos sem-terra que o governo Collor, segundo os dados do MST.
O que é isso se não uma submissão? Veja que operação bárbara: eles
submetem a prática política à dinâmica do voto, quando deveriam fazer
exatamente o inverso, submeter a dinâmica do voto à práxis política.
Então o MST deveria ocupar terra como nunca durante o governo Dilma e o governo Lula, mas não o fez. Chegou ao absurdo de dizer que se o Aécio ganhasse, eles iriam ocupar um monte de terras; isso deveria estar sendo feito agora. Enquanto eles não fazem isso, a Dilma o que faz? Dá o Ministério da Agricultura para Kátia Abreu, a popular senadora motosserra, a dama do latifúndio, do agronegócio. Então o MST
tinha que ter esquentado a chapa. Por quê? Porque só com intenso
movimento social para poder ser ouvido. À medida que os movimentos
sociais ficarem submetidos à dinâmica do voto, nos encontraremos a cada
quatro anos para votar no “menos pior”.
Com os intelectuais também aconteceu o
mesmo. Quem fica pensando que o drama brasileiro é com o confronto entre
o democrático e o autoritário, o atrasado e o moderno, não vai tirar
nunca o Brasil do buraco, porque esquece que o Brasil é um país
dependente e subdesenvolvido, e que é preciso ter um programa, que chamo
de “a revolução brasileira”, para superar a dependência ao subdesenvolvimento; não tem outra saída.
Hoje os intelectuais argumentam que não
têm força para isso. Não têm força agora, mas depois terão. Esses
intelectuais, quando entraram no PT e fortaleceram a CUT,
também não tinham forças para chegar ao governo, mas depois tiveram.
Mas agora, decretar o fim da história, que é o que eles fazem na
prática, de maneira cínica e modesta, é inaceitável. E essa
intelectualidade se submeteu ao governo porque nunca teve um pensamento
efetivamente crítico, sempre foi uma intelectualidade muito pró-crise à
adaptação. E qual é a novidade dessa intelectualidade? É que ela
encontrou a caridade cristã dizendo que agora nós estamos tratando os
pobres. Bom, estamos tratando de maneira pobre os pobres. Dando o quê?
As migalhas de uma riqueza que não para de crescer. A presidente Dilma e o ex-presidente Lula dizem que nós somos a sexta ou a sétima economia do mundo medida em PIB, mas os programas sociais são uma miséria, uma migalha. Então a riqueza cresce, mas o avanço social não aparece.
"O grau de analfabetismo funcional é muito alto, os alunos chegam à universidade sem saber pensar, ler e escrever" |
IHU On-Line – O que seria pensar criticamente o Brasil hoje?
Nildo Ouriques – Para começar, deveríamos conhecer os grandes autores brasileiros.
IHU On-Line – Quem são eles? Seriam nomes como Celso Furtado, Florestan Fernandes?
Nildo Ouriques – Não. Celso Furtado, Florestan Fernandes e Caio Prado são festejados pela mídia de São Paulo. Acabo de voltar da Bahia e encontrei lá um advogado chamado Walter da Silveira,
que tem uma publicação gigantesca e é um dos maiores se não o maior
crítico de cinema da história do Brasil, e é desconhecido. Álvaro Vieira Pinto é um filósofo completamente desconhecido entre nós. Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Theotonio dos Santos são sociólogos de primeira grandeza. O médico Antônio da Silva Melo, fundador da Revista Brasileira de Medicina, extraordinário pensador que escreveu um livro chamado Nordeste, ou a Superioridade do homem tropical, uma obra gigantesca, desconhecida.
Depois tem que conhecer os autores
latino-americanos, a grande contribuição do pensamento, da cultura e das
Ciências Sociais críticas da América Latina, que vai de Pablo Gonçalves Casanova, no México, a Atilio Borón, na Argentina, passando por Ludovico Silva, na Venezuela, e uma quantidade de autores cubanos, guatemaltecos, equatorianos.
"Enquanto não ocorrer uma batalha genuína das ideias, vamos continuar nesse marasmo completo que têm sido as Ciências Sociais e a universidade brasileira" |
IHU On-Line – O senhor diz que
tanto à direita quanto à esquerda do espectro político, hoje todos se
declaram desenvolvimentistas. Por que todos seguem por esta linha?
Nildo Ouriques – Primeiro, porque ninguém quer se definir como neoliberal, nem mesmo os neoliberais. Então os neoliberais, como Gustavo Franco,
dizem que são desenvolvimentistas. Em segundo lugar, o
desenvolvimentismo goza de prestígio entre nós porque ele é uma promessa
de que vamos ter democracia, desenvolvimento social, crescimento
econômico sustentável, respeito ao meio ambiente, mas isso tudo é uma
ideologia. O que estamos vendo é uma agressão, crimes ecológicos gigantescos, assassinatos de lideranças
no campo, raquitismo científico e tecnológico, degradação econômica. O
PIB cresce nos serviços e na agricultura, ou seja, o crescimento do PIB
reforça a posição de um país tipicamente subdesenvolvido e dependente.
Mas é simpático apresentar-se como desenvolvimentista.
IHU On-Line – Por que o senhor acredita que a saída para pensar o Brasil perpassa necessariamente por uma teoria marxista?
Nildo Ouriques – Porque sem ela não há nenhuma possibilidade. A realidade está demonstrando; não é uma hipótese minha para o futuro.
IHU On-Line – O senhor faz uma crítica à utilização de teorias de pensadores estrangeiros para pensar o Brasil, mas retoma Marx?
Nildo Ouriques – Entendo a sua pergunta, mas aqui não se trata de escolher um autor pela nacionalidade, mas sim pela contribuição crítica. Marx
tem uma contribuição intelectual fortíssima. Você não pode prescindir
disso, tal como não pode prescindir da física de Newton a despeito de
ela ter uma origem específica. É uma contribuição universal.
Todos esses produtos de consumo que
estão na academia hoje não representam pensadores universais e tampouco
têm esse peso específico que tem a teoria de Marx, que é um método para
interpretação da realidade. Temos de pensar a realidade brasileira; é
disso que reclamo. Se para isso nós recuperarmos a teoria do valor,
desde Adam Smith, Ricardo ou Marx, ou a crítica à ideologia de Stuart Mill, ou um conjunto de contribuições importantes e, se você quiser, a crítica à Igreja de Erasmo de Rotterdam,
tudo bem. Mas o problema é como usá-las desde uma perspectiva própria,
para interesses próprios, e concretamente para uma coisa que é
iniludível: pensar a Revolução Brasileira, que é o que temos que pensar.
IHU On-Line – O que significaria esta Revolução Brasileira?
Nildo Ouriques – Um gigantesco processo de transformação
do Estado, da economia, das classes sociais e da cultura. Uma
transformação radical, no campo da cultura, descolonização completa e
enfrentamento da indústria cultural from States. Em segundo lugar, toda a
riqueza produzida no Brasil, aqui deve permanecer. Isso significa uma
ruptura no terreno da Economia. E em terceiro, fazer um sistema político
em que a maioria mande, ou seja, uma democracia participativa. Esses
seriam pontos de partida. Além disso, duas questões são fundamentais: a
luta pela soberania e a integração latino-americana, porque sem ela não
somos capazes de enfrentar as grandes potências. A Europa e a Alemanha
fizeram a Comunidade Econômica Europeia, os Estados Unidos fizeram o NAFTA
com o México e o Canadá, e nós temos que fazer o nosso bloco para poder
fazer política internacional, para deixar de ser um anão na política
internacional.
"À medida que os movimentos sociais ficarem submetidos à dinâmica do voto, nos encontraremos a cada quatro anos para votar no “menos pior”" |
IHU On-Line – Mas a teoria marxista ainda teria sentido hoje para equalizar esses pontos?
Nildo Ouriques – Mas é óbvio que sim. O PT foi criado, primeiro, pelo movimento operário do ABC, com sindicalistas ultramoderados, do qual a expressão máxima é o Lula,
com a esquerda marxista que vinha da luta armada e da derrota militar
contra a ditadura, e os demais movimentos sociais, que deram peso ao
partido, e depois entrou a Igreja católica. Desde o começo, foi muito
difícil dentro do petismo, porque a inclinação crítica e a opção pelo
socialismo figurou de maneira retórica, embora estivesse no programa do
partido. Nunca esqueço que estava escrito no programa: “uma sociedade
sem explorados e exploradores”; isso é o socialismo. Mas depois, com a
hegemonia de Lula e o chamado lulismo, que é a parte
mais cínica do partido, o PT se encarregou de transformar aquilo no
caminho mais fácil para acomodação com as classes burguesas. Mas veja, a
miséria resultante disso é completa; essa é a questão.
Falo de um pensamento crítico que inclua
o marxismo, porque nós temos um conjunto de pensadores críticos da
América Latina que não são marxistas, mas são críticos. Esse pensamento
crítico, que engloba o marxismo, foi minoritário e está
avançando a passos largos agora, recuperando o terreno, e é dele que
vai sair a vitalidade para um novo programa da Revolução Brasileira, uma
atualização, da qual o PT será aqui, parafraseando Marx, “apenas uma
cicatriz da história, uma experiência que foi importante porque rompeu o
isolamento da esquerda marxista com as massas, mas que fracassou
rotundamente”. É preciso dizer claramente que o PT foi um fracasso histórico,
mas como fracasso histórico, persiste a lição. Não há mais sentido
nenhum permanecer no partido nem se transformar num antipetista, porque
se trata de um evento histórico que já fracassou. Temos que tirar as
lições e seguir em frente.
IHU On-Line – Tem se produzido pensamento político nas Ciências Sociais?
Nildo Ouriques –
Certamente existem pessoas interessadas no tema, trabalhando com uma
certa honestidade intelectual e com algum rigor teórico. O problema é
que a Ciência Política no Brasil empobreceu
terrivelmente, porque grande parte dos cientistas políticos está
dedicada em ver a dinâmica do voto, ou em pensar o sistema político
desde uma perspectiva liberal, ou em observar o processo político a
partir desta metodologia de consumo. Enfim, esses são estudos
absolutamente parciais que dão uma pequena contribuição ao debate, mas
não se trata de uma visão totalizante e crítica. Essa visão desapareceu
porque há uma grande ruptura entre a geração crítica dos 1960 e parte
dos 1980 com as gerações atuais.
O academicismo promoveu esta profunda ruptura, o empobrecimento do sistema político contribuiu nessa direção, de tal modo que se não recuperarmos o programa de pesquisa sobre o subdesenvolvimento e a Revolução Brasileira,
não haverá novas contribuições e não haverá nem forma de valorizar
aquela contribuição notável dos pensadores que já mencionei
anteriormente.
Se ficarmos sem pensar a Revolução
Brasileira, a Ciência Política não irá revitalizar, porque o dominante
será uma crítica liberal, tal como nós estamos vivendo agora. O que os
cientistas políticos vão ficar fazendo agora? Eles ficarão discutindo se
o atual sistema de representatividade eleitoral é bom ou pode avançar?
Se devemos avançar ou não para o voto distrital? As grandes reformas não
vão estar em discussão.
IHU On-Line – O que seria uma reforma política adequada?
Nildo Ouriques – Em primeiro lugar, seria o fim do sistema bicameral, ou seja, fazer no Brasil um sistema unicameral e extinguir, portanto, o Senado.
Basta observar a origem do Senado: é uma casa em que só entram
“cardeais”; um deputado pode ser eleito com 18 anos, mas um senador,
não. Segundo, é impossível que alguém das classes populares chegue a ser
eleito senador se não estiver muito bem enturmado nesse sistema
político controlado pelas elites, não só num partido como o PSDB, mas inclusive num partido como o PT,
que é cada vez mais um partido de natureza empresarial. Terceiro, tem
que devolver aos partidos políticos a vitalidade popular, portanto, o
financiamento dos partidos tem que vir da militância. Quarto, o voto tem
de ser livre, não pode ser voto obrigatório. Quinto, tem de haver uma
radical democratização e fim dos monopólios dos meios de comunicação,
porque o sistema político não é o sistema eleitoral.
IHU On-Line – Quais discussões deveriam estar em pauta para pensar um projeto de país?
Nildo Ouriques – A
primeira discussão seria a recuperação da soberania nacional; nós
perdemos totalmente essa ideia e isso tem íntima relação com o avanço da
privatização durante o governo FHC, mas também com as
concessões feitas pela presidente Dilma. Estradas, portos, petróleo
foram privatizados. Todas essas questões teriam de ser revistas.
Posteriormente seria necessária uma redefinição radical da relação entre
o Estado e o empresariado brasileiro, que está marcada pelo caráter
ultraparasitário da posição burguesa, que assalta o BNDES,
o câmbio, endivida o país, e que quer subsídios, isenções. Terceiro, é
preciso fazer uma auditoria da dívida interna e externa, que, aliás, é
uma determinação constitucional que nem FHC nem Lula e nem a presidente Dilma
fizeram. Essa auditoria tem de ser convocada pelo presidente — não
adianta dizer que o Congresso é conservador —, o presidente tem de
convocar, porque nós não podemos continuar destinando 44-46% dos
impostos para pagamento de serviços da dívida.
É preciso ainda fazer uma drástica reforma agrária
que barateie os alimentos e que elimine a agricultura de exportação.
Além disso, é preciso controlar a remessa de lucro das multinacionais,
isso é fundamental. E, claro, uma redefinição da propriedade do poder,
que vai desde a redefinição da taxa de juros até a cobrança do imposto
sobre herança, que deve ser pesadíssimo, e uma política consistente de
elevação do salário mínimo.
"Quem fica pensando que o drama brasileiro é com o confronto entre o democrático e o autoritário, o atrasado e o moderno, não vai tirar nunca o Brasil do buraco" |
IHU On-Line – Qual é a sua
avaliação da universidade pública brasileira? Quais são os desafios que
enxerga para o Ensino Superior brasileiro?
Nildo Ouriques –
Primeiro, é preciso ter uma grade curricular na graduação que se
nacionalize, ou seja, uma universidade que volte a tratar os problemas
do Brasil. Em segundo lugar, é preciso ter rigor científico,
ou seja, pensar e educar desde critérios científicos, portanto deve
haver uma radical valorização da graduação. A política atual debilita a
graduação e favorece a pós-graduação, mas com esta política temos cada
vez mais alunos mais débeis para a pós-graduação, por razões óbvias. Em
terceiro lugar, é preciso eliminar esse sistema de pontuação da Capes.
Isso tem de ser extinto e no lugar não precisa ser colocado nada. Cada
universidade que elabore as suas formas de avaliação, que tenha uma
validação social do conhecimento.
IHU On-Line – Não há risco de os pesquisadores produzirem cada vez menos?
Nildo Ouriques – Não,
eles produzem quase nada hoje. O que é produzir? Entendo a sua pergunta:
se hoje nós estabelecermos o mínimo, eles vão deixar de fazer o mínimo.
Que deixem de fazer o mínimo, que exibam ainda mais a miséria da
universidade brasileira. O que não pode é ter uma simulação em que eles
“refritam” artigos, simulam a produção acadêmica, e não tiramos a universidade do buraco.
O Estado tem de estabelecer áreas
prioritárias do desenvolvimento científico e tecnológico e da cultura
nacional. É preciso estabelecer as áreas de ponta da universidade e o
financiamento tem de estar de acordo com isso, e o refinanciamento tem
de ser de acordo com o resultado não de artigos e papers, mas de
patentes.
Quem recebeu ou publicou, mas não
patenteou, não pode ser financiado novamente. A questão não é publicar, é
produzir conhecimento, ciência e tecnologia para o país. É preciso
elaborar um sistema para isso, porque o atual sistema é uma fraude. E
ter reitores efetivamente preocupados com o futuro da universidade
brasileira, o que efetivamente não é o caso.
IHU On-Line – Com os ajustes
anunciados pela presidência, as universidades federais estão passando
por dificuldades? Qual é a situação?
Nildo Ouriques – As
universidades já estavam passando por dificuldades e agora têm um corte
adicional de 30%, mas a vida nunca foi folgada nas universidades. Isso
mostra como os reitores são quase analfabetos políticos, e mais do que
representantes nossos junto ao MEC, são delegados do MEC dentro das
universidades. Eles são os primeiros a desrespeitar a autonomia
universitária e alguns não merecem desfrutar desse estatuto. Muitos
reitores são medíocres intelectualmente, tímidos institucionalmente e
servis politicamente; é um desastre.
"Os sindicatos revelaram no dia 13-03-2015 sua imensa incapacidade de mobilizar as bases, e o petismo guardou silêncio completo sobre a manifestação" |
IHU On-Line – Muitos cursos das
áreas de humanas não têm preenchido a totalidade de vagas disponíveis. A
que você atribui esse desinteresse crescente pelas áreas de humanas?
Nildo Ouriques – Isso é
típico de um país subdesenvolvido, que tem as faculdades de Engenharia
lotadas e as de Ciências Sociais esvaziadas. Em segundo lugar, isso tem a
ver com a estrutura produtiva do país, com os salários pagos, etc. Em
terceiro lugar, há algo fundamental: as Ciências Sociais
são aquelas que estão mais submetidas a uma carga colonial e, portanto,
são aquelas menos interessantes do ponto de vista político, porque
quase não tocam na realidade brasileira, e quando o fazem, é de maneira
superficial e desde uma perspectiva liberal e não desde uma perspectiva
crítica. Portanto, para retomar a vitalidade das Ciências Sociais, é
preciso ter este programa da Revolução Brasileira.
O ponto fundamental de todo o cientista
social é: Como superamos o subdesenvolvimento e a dependência? Como
superamos a falta de soberania? Como construímos a segunda emancipação
dos nossos países? Sem isso as Ciências Sociais seguirão sendo, no
máximo, uma consciência ingênua sobre a realidade, jamais uma
consciência crítica.
Parte da miséria tem a ver com as
estruturas econômicas e outra parte tem a ver com aquilo que se ensina
em sala de aula. Sem uma profunda revisão de tudo isso, as Ciências
Sociais seguirão sendo menos que o primo pobre nas universidades
brasileiras, porque primo pobre já são as Engenharias, apesar das
tecnológicas. Nós sairemos da marginalidade em que nos encontramos, mas
para isso é preciso abandonar esse bom-mocismo, recuperar o pensamento crítico latino-americano e enfrentar os dramas do país.
IHU On-Line - Qual sua avaliação
em relação às manifestações que aconteceram no país este ano? Qual o
significado destas em relação ao Brasil atual?
Nildo Ouriques – Revelam o colapso da orientação do governo, porque Dilma
teve uma vitória eleitoral a partir de uma proposta, mas mudou
radicalmente o rumo da política econômica quando assumiu o governo. Isso
mais que um problema de ordem moral, como os tucanos querem ver,
desorienta completamente o eleitor progressista e dá coragem para o
eleitor conservador.
A presidente Dilma, a exemplo do ex-presidente Lula, reafirma a característica principal e a natureza conservadora dos governos do PT,
porque a principal característica dos governos Dilma e Lula é jamais
convocar o povo para uma luta. Essa é a diferença do PT em relação aos
outros governos da América Latina. Veja o caso do governo de Rafael Correa, no Equador, Hugo Chávez e Maduro na Venezuela, mesmo o governo mais conservador, como o de Cristina Kirchner,
tem a característica fundamental de convocar as massas para fazer
política. A presidente Dilma quer sempre o acordo com a Avenida Paulista
e o acomodamento no parlamento. Mas esse é o caminho mais curto para a morte política.
Depois das manifestações,
o governo continua sem dar um passo naquilo que é essencial, não muda o
rumo da economia e não amplia aliados nas classes subalternas. Veja que
o governo Dilma assentou 13 mil famílias, isso é menos do que assentou o governo do General João Batista Figueiredo, para falar só na reforma agrária.
Ela não tem aliados no movimento operário e no movimento camponês e,
por último, ela não toma medidas que não sejam medidas que a burguesia
quer. Dia 15-03-2015 nós vimos iniciativas das classes dominantes, dos
partidos de direita, que não adianta dizer que é democrático, que é
legítimo, porque é, ao contrário, um conflito político. E a presidente
não toma nenhuma medida na área dos meios de comunicação. A famosa
regulação da mídia, a democratização da mídia nem passa perto do Palácio
do Planalto.
O PT é o principal
partido da ordem burguesa, fecha cada dia mais com o empresariado, o
latifúndio, com as multinacionais e cala os movimentos sociais. É
incapaz, como mostrou no dia 13-03-2015, de mobilizar junto aos
sindicatos e aos movimentos sociais. Os sindicatos revelaram, no dia
13-03, sua imensa incapacidade de mobilizar as bases, e o petismo
guardou silêncio completo sobre a manifestação. Nesse sentido, o quadro
de domingo, 15-03-2015, foi só o primeiro capítulo de uma longa luta político-partidária em que a direita brasileira, os liberais brasileiros querem avançar por um ajuste cada vez mais forte, com a cumplicidade do PT, reduzindo a política ao aspecto moral, porque a corrupção é endêmica do Estado brasileiro.
Fonte: IHU
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