PICICA: "Caso a esquerda queira ser parte de um projeto real de mudanças no Brasil ela deverá rever suas crenças eurocêntricas. E, não tenho dúvida que o Movimento Negro, do alto de sua riqueza e diversidade, dará a liderança necessária."
A questão é racial, cara pálida!
Estados Unidos mais uma vez em chamas com
os protestos negros. No Brasil o povo pobre e preto segue pagando a
conta mais alta da violência, especialmente a partir do ataque
sistemático das forças repressivas na periferia: Cláudia’s, Amarildo’s,
DG’s, Eduardo’s. Uma lista interminável.
O Haiti, primeira nação que foi duramente
golpeada em sua revolução anti-escravista e anti-colonial, ainda em
1804, segue ocupado pelas potências mundiais e suas sucursais (a exemplo
do Brasil). A África segue em condição neo-colonial , subserviente aos
interesses das nações centrais.
E, mesmo diante deste quadro, a esquerda
eurocêntrica brasileira insiste que a questão no Brasil “é de classe”,
como se raça e classe fossem questões antagônicas.
Apresento, em 5 minutos, a partir de 5 argumentos, algumas contribuições a esse debate.
Racismo estrutural – O
racismo é reafirmado no imaginário social como algo restrito a sua
dimensão interpessoal. Ou seja, o racismo “só” existe se um negro for
insultado, para ficar num exemplo. Até a “insuspeita” ONU reconheceu
que o problema do racismo no Brasil é de ordem estrutural, ou seja,
organiza as desigualdades da ordem social vigente na medida em que os
negros, via de regra, são os que têm os piores empregos, moram em piores
condições, sofrem a violência estatal de maneira mais sistemática, etc.
A questão identitária – Um argumento comum na esquerda é acusar a questão negra de “meramente” identitária. Porém, o apelo para uma consciência identitária especificamente negra
e a consequente estruturação de organizações sociais negras é o
contraponto necessário para a luta de resistência, na medida em que o
racismo existe e estrutura a ordem social vigente. Mas vale dizer que a
luta negra agrega uma ampla gama de questões materiais, a exemplo da
campanha contra o genocídio do povo negro que combate o caráter
estrutural do racismo em todos os seus aspectos.
Raça x Classe – Talvez a expressão maior do eurocentrismo
que organiza o pensamento de grande parte da esquerda no Brasil é criar
antagonismo entre raça e classe. O racismo é fundante das classes
sociais que estruturam o capitalismo, pois, a espoliação colonial
fundada na escravidão foi a grande responsável pela acumulação primitiva
do capital.
Passado colonial – Outra expressão do eurocentrismo
é a pouca atenção ao passado colonial e escravista brasileiro.
Narrativas comuns da esquerda sugerem que a luta política contra a
ordem de exploração iniciou-se com os operários europeus do século XIX,
sem dar a devida dimensão política para as lutas contra a escravidão e
do Quilombo dos Palmares.
Componente étnico dos governos progressistas da América Latina
– Muito se discute Venezuela, Bolívia e Equador. Porém, poucas análises
dão contam da centralidade do componente étnico. No caso destes países,
a mobilização pelas maiorias indígenas e negras sustentou projetos de
poder e elevou seus respectivos países para uma condição de menor
dependência externa. No caso brasileiro a maioria é negra, portanto aí
reside a questão central que deve estruturar um projeto soberano
necessário.
Caso a esquerda queira ser parte de um projeto real de mudanças no Brasil ela deverá rever suas crenças eurocêntricas. E, não tenho dúvida que o Movimento Negro, do alto de sua riqueza e diversidade, dará a liderança necessária.
Fonte: Brasil em 5
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