PICICA: "Nas quebradas do Grajaú, extremo sul de S.Paulo, Alexandre Orion
vê arte de rua como brecha por onde cidades, normalmente emudecidas,
enxergam-se e se questionam"
Graffiti, rachadura no muro de silêncio urbano?
Nas quebradas do Grajaú, extremo sul de S.Paulo, Alexandre Orion
vê arte de rua como brecha por onde cidades, normalmente emudecidas,
enxergam-se e se questionam
Por Carol Gutierrez
Noite. Entremeio de tempo em que a indefinição de cedo e tarde se define pela percepção (subjetiva?) de escuro. A primeira ida sozinho para o Grajaú, bairro do extremo sul de São Paulo, vem puxada pela memória. Carro, Avenida Belmira Marin, esquerda, direita. Rua errada. A sensação de vamos ver onde vai dar. Foi reto, em direção ao … ali na frente… lugar em que a avenida acaba. Na água. Na balsa, que travessa o escuro, rumo à ilha do Bororé.
O que importa aqui talvez não seja tanto o caso e as ordens do causo em si, mas como nossas passagens — ou pelo que passamos — definem nossas permanências na cidade. Como o ir, estar, interagir e depois ficar ou ir, definem por onde queremos passar. E como, no transitar, encontramos algo comum: pessoas.
“A gente vai tecendo uma rede afetiva com o outro. Dificilmente você vai para um lugar criar uma relação afetiva com o lugar. Ah, eu vou criar um afeto com uma parede. Não. Você vai intermediado por uma interação. Ali se encontra a memória da pessoa que te fez chegar ali — ou que você encontrou ali. Você vai tecendo conversas… a abrangência da cidade vai aumentando, se espalhando.”
O encontro com o outro é o cerne da atuação na cidade. Mais do que isso, quando a índole é a liberdade, o outro a delimita. Aquela velha história: nossa liberdade acaba quando começa a do outro. O problema, ou talvez riqueza, é que a rua é feita de outros. E quando se escolhe ter o trabalho pautado no espaço público, se escolhe olhar para o outro; e fazer com que o outro olhe para o espaço e o clame enquanto lugar. Lugar do comum.
“Eu não queria que outros grafiteiros me dissessem o que eu tinha e como tinha que fazer – se eu era bom ou não era. Eu queria que as pessoas na rua fizessem isso. Assim, a minha liberdade só acabava quando eu encontrava, no outro, o limite. Como a rua é um espaço público, é tudo o outro. Não tem nada que seja você. Ela é para todos os outros. Quando você faz uma coisa na rua, percebe que não adianta ficar com ideias preconcebidas do que se quer colocar ali. O meu trabalho começou a ir por aí – de uma leitura de significados da cidade e de perceber que dentre eles, o principal é que as pessoas estão ali. Uma parede é só uma parede, mas dependendo em que lugar essa parede está, que significado as pessoas atribuem a esse lugar, que cenário você encontra ali, que meio é aquele, a parede já não é só uma parede.”
A intervenção urbana se constitui como escrita. A parede é o papel. A cidade, o cenário. As pessoas, os personagens e leitores. A trama está toda lá e estamos todos entremeados. A construção desse lugar de expressão — que expressa e deixa expressar — confere à cidade, alma. Uma brincadeira dialética entre o discurso de quem faz e a leitura de quem vê. Onde a comunicação só acontece e encontra permanência ou inquietude, se nos permitirmos olhar… e sermos olhados (por que não?). E numa cidade onde a escala humana foi abolida e os olhares não se cruzam por medo de serem lidos, talvez o olhar seja o primeiro passo para se (re) ocupar o tempo e espaço público. Talvez nos falte indiscrição! E, sim, claro, nos sobre medo.
“A maioria das pessoas estão na rua com medo. A rua é um lugar ameaçador. E acho que é para todo mundo. Mas a maioria não consegue estar aberta para ler as informações que a rua coloca. Muita gente está vivendo uma vida mecânica. A lógica do carro é muito privativa nesse sentido. Passe, passe, vá, vá. A cidade como lugar de passagem. É opressor – você vai de um ponto ao outro, mas nunca está. A arte urbana vem também questionar isso. Só a presença do artista durante o processo da obra na rua já é um grande evento. Eu costumo dizer que o graffiti não é uma obra em si: acontece de um jeito processual, é performático antes de ser. Quem está passando por ali, e vê algo em processo na rua — que é voltado pra rua — percebe imediatamente que aquele espaço está sendo clamado. Está sendo dito: olha! aqui pode ser ocupado. (…) A intervenção está dada. Intervir é ou potencializar um significado, ou subverter um significado, ou ressignificar. Qualquer manifestação que intervenha neste sentido, clama o espaço – inclusive a pichação!”
Da construção do discurso
Já que é performance, o que importa é o que está sendo silkado ali. Mais do que a intervenção em si, o ato (e convite) de intervir. Na medida em que essa ou aquela outra parede recebem um graffiti, passam a conter em si um discurso; um recorte da cidade; uma rachadura; um questionamento; um porque isso aqui ou ali; um “poxa que bonito, poxa que legal”. Tudo depende do quão profundamente aquele que passa está disposto a parar, entrar, se mesclar nas veias escondidas que a urbe propõe. No Grajaú, por exemplo, uma criança gigante destrói casas, em um discurso tão pueril quanto refinado.
“Algo estava me chamando de volta para o Grajaú. Não era à toa. Minha última intervenção foi um painel de 15x32m, no CEU Navegantes. Não é uma parede voltada pra rua, mas ela está voltada para uma arquibancada de casas, para o bairro (…). O que importa ali nem é tanto o lugar, mas o discurso colocado e o quanto ele dialoga com aquele lugar. (…) Quando eu estava fazendo a intervenção, um cara me perguntou: mas vem cá, ela está brincando? Porque pra mim parece que ela está destruindo as casas.”
A dicotomia é cerne do discurso e tema da intervenção que tem “Apreensão” como nome. Uma composição cruzada, mas não antagônica, da brincadeira e destruição; da inocência e inconsequência; do fazer por querer e querer fazer.
O cenário, que se concretiza na realidade, com as frequentes desapropriações na região, traz de forma pictórica uma criança brincando de casinhas. A imagem por si é inocente. Mas se nos permitimos olhar de novo, o jogo está criado. A criança brinca, na realidade, com as casinhas. E a brincadeira (por que não?) passa pela destruição, afinal é real. As casas também não são aquelas dos blocos infantis. Retratam exatamente a textura da periferia: tijolos expostos, lajes, quarto, cozinha e gente dentro.
O fantástico fica por conta da proporção. O painel traz em seu centro uma criança gigante – saída dos filmes de ficção, memória do interventor. Sentada de costas para o seu foco de brincadeira-destruição, o Grajaú, ela simplesmente está ali, como se não se importasse para o que está atrás de si. Não está para destruir, mas não se preocupará em fazê-lo, caso a interação da brincadeira caminhar para isso. Ao mesmo tempo, está sentada de frente para todas as janelas vizinhas, numa posição de abertura despreocupada, quase que inconsequente, aos olhares espectadores. Mas quem conseguir julgar, que atire a primeira pedra. Ela arranca uma casa, brinca com outra até que… o próximo passo, talvez seja enfiar na boca à la King Kong. A sensação ao se deparar com a intervenção é justo esta: ser engolido.
“A intervenção é uma metáfora do humano. A criança está ali representando isso, porque a gente passa a vida inteira assim: como criança. A gente aprende que não pode colocar o dedo na tomada, mas em compensação seguimos fazendo uma série de coisas que são extremamente danosas. E quando veio a questão da sustentabilidade, eu estava pensando no insustentável, dentro da perspectiva de que temos tratado a ideia de sustentabilidade de uma forma esquizofrênica – aquém. Nós mesmos não somos sustentáveis. O ser humano está mal preparado para lidar consigo mesmo e, ainda mais, com os outros. A presença da criança traz também a ideia de continuidade (e da nossa finitude!). Então é engraçado pensar nesta criança mexendo no urbanismo da cidade, realocando aquela casa… da atividade da criança como brincadeira versus a lógica adulta de manipulação do mundo. Gera um conflito de pensar por essas duas vias. O que de fato estamos construindo?”
A mensagem (e tom que se quer dar) continua a ser construída no próprio material utilizado. Em uma espécie de metonímia, o interventor utilizou a técnica de poluição mesclada à base acrílica incolor, na qual o pigmento principal é a própria fuligem da cidade (saiba mais aqui). O processo parte do projeto “Ossário”. A fuligem – retirada dos túneis de São Paulo – já pintou muros de todo o mundo, sendo esta, no Grajaú, a primeira intervenção mural feita na cidade com essa técnica.
Da interação com a cidade: a memória
Pode-se dizer então que as empenas cruas, os muros ou mesmo as galerias subterrâneas da cidade emolduram o esteticamente belo, a cor, o fantástico, o monumental, o movimento do graffiti; mas, antes de tudo, emolduram a construção de uma mensagem; o pensamento de uma geração; o discurso e manifestações de uma conjuntura histórica presente e impermanente; a memória – individual, coletiva, por fim, compartilhada – de uma cidade, de quem vive nela e age sobre ela. E se memória é invenção … quem vai saber quantas delas transitam, cruzam, revelam, se encontram, permanecem por aí, e compõem a cidade enquanto malha de relações. Das nossas relações.
“A gente não se sustenta, não é perene. A própria ideia de perenidade passa pelo outro – continua no outro. Isso me interessa! A motivação está justamente na ideia de que aquela informação que eu posso produzir, vai para o outro. Por isso a escala, o esforço… para chegar no outro”, conta o interventor urbano Alexandre Orion.
Por Carol Gutierrez
Noite. Entremeio de tempo em que a indefinição de cedo e tarde se define pela percepção (subjetiva?) de escuro. A primeira ida sozinho para o Grajaú, bairro do extremo sul de São Paulo, vem puxada pela memória. Carro, Avenida Belmira Marin, esquerda, direita. Rua errada. A sensação de vamos ver onde vai dar. Foi reto, em direção ao … ali na frente… lugar em que a avenida acaba. Na água. Na balsa, que travessa o escuro, rumo à ilha do Bororé.
O que importa aqui talvez não seja tanto o caso e as ordens do causo em si, mas como nossas passagens — ou pelo que passamos — definem nossas permanências na cidade. Como o ir, estar, interagir e depois ficar ou ir, definem por onde queremos passar. E como, no transitar, encontramos algo comum: pessoas.
“A gente vai tecendo uma rede afetiva com o outro. Dificilmente você vai para um lugar criar uma relação afetiva com o lugar. Ah, eu vou criar um afeto com uma parede. Não. Você vai intermediado por uma interação. Ali se encontra a memória da pessoa que te fez chegar ali — ou que você encontrou ali. Você vai tecendo conversas… a abrangência da cidade vai aumentando, se espalhando.”
O encontro com o outro é o cerne da atuação na cidade. Mais do que isso, quando a índole é a liberdade, o outro a delimita. Aquela velha história: nossa liberdade acaba quando começa a do outro. O problema, ou talvez riqueza, é que a rua é feita de outros. E quando se escolhe ter o trabalho pautado no espaço público, se escolhe olhar para o outro; e fazer com que o outro olhe para o espaço e o clame enquanto lugar. Lugar do comum.
“Eu não queria que outros grafiteiros me dissessem o que eu tinha e como tinha que fazer – se eu era bom ou não era. Eu queria que as pessoas na rua fizessem isso. Assim, a minha liberdade só acabava quando eu encontrava, no outro, o limite. Como a rua é um espaço público, é tudo o outro. Não tem nada que seja você. Ela é para todos os outros. Quando você faz uma coisa na rua, percebe que não adianta ficar com ideias preconcebidas do que se quer colocar ali. O meu trabalho começou a ir por aí – de uma leitura de significados da cidade e de perceber que dentre eles, o principal é que as pessoas estão ali. Uma parede é só uma parede, mas dependendo em que lugar essa parede está, que significado as pessoas atribuem a esse lugar, que cenário você encontra ali, que meio é aquele, a parede já não é só uma parede.”
A intervenção urbana se constitui como escrita. A parede é o papel. A cidade, o cenário. As pessoas, os personagens e leitores. A trama está toda lá e estamos todos entremeados. A construção desse lugar de expressão — que expressa e deixa expressar — confere à cidade, alma. Uma brincadeira dialética entre o discurso de quem faz e a leitura de quem vê. Onde a comunicação só acontece e encontra permanência ou inquietude, se nos permitirmos olhar… e sermos olhados (por que não?). E numa cidade onde a escala humana foi abolida e os olhares não se cruzam por medo de serem lidos, talvez o olhar seja o primeiro passo para se (re) ocupar o tempo e espaço público. Talvez nos falte indiscrição! E, sim, claro, nos sobre medo.
“A maioria das pessoas estão na rua com medo. A rua é um lugar ameaçador. E acho que é para todo mundo. Mas a maioria não consegue estar aberta para ler as informações que a rua coloca. Muita gente está vivendo uma vida mecânica. A lógica do carro é muito privativa nesse sentido. Passe, passe, vá, vá. A cidade como lugar de passagem. É opressor – você vai de um ponto ao outro, mas nunca está. A arte urbana vem também questionar isso. Só a presença do artista durante o processo da obra na rua já é um grande evento. Eu costumo dizer que o graffiti não é uma obra em si: acontece de um jeito processual, é performático antes de ser. Quem está passando por ali, e vê algo em processo na rua — que é voltado pra rua — percebe imediatamente que aquele espaço está sendo clamado. Está sendo dito: olha! aqui pode ser ocupado. (…) A intervenção está dada. Intervir é ou potencializar um significado, ou subverter um significado, ou ressignificar. Qualquer manifestação que intervenha neste sentido, clama o espaço – inclusive a pichação!”
Da construção do discurso
Já que é performance, o que importa é o que está sendo silkado ali. Mais do que a intervenção em si, o ato (e convite) de intervir. Na medida em que essa ou aquela outra parede recebem um graffiti, passam a conter em si um discurso; um recorte da cidade; uma rachadura; um questionamento; um porque isso aqui ou ali; um “poxa que bonito, poxa que legal”. Tudo depende do quão profundamente aquele que passa está disposto a parar, entrar, se mesclar nas veias escondidas que a urbe propõe. No Grajaú, por exemplo, uma criança gigante destrói casas, em um discurso tão pueril quanto refinado.
“Algo estava me chamando de volta para o Grajaú. Não era à toa. Minha última intervenção foi um painel de 15x32m, no CEU Navegantes. Não é uma parede voltada pra rua, mas ela está voltada para uma arquibancada de casas, para o bairro (…). O que importa ali nem é tanto o lugar, mas o discurso colocado e o quanto ele dialoga com aquele lugar. (…) Quando eu estava fazendo a intervenção, um cara me perguntou: mas vem cá, ela está brincando? Porque pra mim parece que ela está destruindo as casas.”
A dicotomia é cerne do discurso e tema da intervenção que tem “Apreensão” como nome. Uma composição cruzada, mas não antagônica, da brincadeira e destruição; da inocência e inconsequência; do fazer por querer e querer fazer.
O cenário, que se concretiza na realidade, com as frequentes desapropriações na região, traz de forma pictórica uma criança brincando de casinhas. A imagem por si é inocente. Mas se nos permitimos olhar de novo, o jogo está criado. A criança brinca, na realidade, com as casinhas. E a brincadeira (por que não?) passa pela destruição, afinal é real. As casas também não são aquelas dos blocos infantis. Retratam exatamente a textura da periferia: tijolos expostos, lajes, quarto, cozinha e gente dentro.
O fantástico fica por conta da proporção. O painel traz em seu centro uma criança gigante – saída dos filmes de ficção, memória do interventor. Sentada de costas para o seu foco de brincadeira-destruição, o Grajaú, ela simplesmente está ali, como se não se importasse para o que está atrás de si. Não está para destruir, mas não se preocupará em fazê-lo, caso a interação da brincadeira caminhar para isso. Ao mesmo tempo, está sentada de frente para todas as janelas vizinhas, numa posição de abertura despreocupada, quase que inconsequente, aos olhares espectadores. Mas quem conseguir julgar, que atire a primeira pedra. Ela arranca uma casa, brinca com outra até que… o próximo passo, talvez seja enfiar na boca à la King Kong. A sensação ao se deparar com a intervenção é justo esta: ser engolido.
“A intervenção é uma metáfora do humano. A criança está ali representando isso, porque a gente passa a vida inteira assim: como criança. A gente aprende que não pode colocar o dedo na tomada, mas em compensação seguimos fazendo uma série de coisas que são extremamente danosas. E quando veio a questão da sustentabilidade, eu estava pensando no insustentável, dentro da perspectiva de que temos tratado a ideia de sustentabilidade de uma forma esquizofrênica – aquém. Nós mesmos não somos sustentáveis. O ser humano está mal preparado para lidar consigo mesmo e, ainda mais, com os outros. A presença da criança traz também a ideia de continuidade (e da nossa finitude!). Então é engraçado pensar nesta criança mexendo no urbanismo da cidade, realocando aquela casa… da atividade da criança como brincadeira versus a lógica adulta de manipulação do mundo. Gera um conflito de pensar por essas duas vias. O que de fato estamos construindo?”
A mensagem (e tom que se quer dar) continua a ser construída no próprio material utilizado. Em uma espécie de metonímia, o interventor utilizou a técnica de poluição mesclada à base acrílica incolor, na qual o pigmento principal é a própria fuligem da cidade (saiba mais aqui). O processo parte do projeto “Ossário”. A fuligem – retirada dos túneis de São Paulo – já pintou muros de todo o mundo, sendo esta, no Grajaú, a primeira intervenção mural feita na cidade com essa técnica.
Da interação com a cidade: a memória
Pode-se dizer então que as empenas cruas, os muros ou mesmo as galerias subterrâneas da cidade emolduram o esteticamente belo, a cor, o fantástico, o monumental, o movimento do graffiti; mas, antes de tudo, emolduram a construção de uma mensagem; o pensamento de uma geração; o discurso e manifestações de uma conjuntura histórica presente e impermanente; a memória – individual, coletiva, por fim, compartilhada – de uma cidade, de quem vive nela e age sobre ela. E se memória é invenção … quem vai saber quantas delas transitam, cruzam, revelam, se encontram, permanecem por aí, e compõem a cidade enquanto malha de relações. Das nossas relações.
“A gente não se sustenta, não é perene. A própria ideia de perenidade passa pelo outro – continua no outro. Isso me interessa! A motivação está justamente na ideia de que aquela informação que eu posso produzir, vai para o outro. Por isso a escala, o esforço… para chegar no outro”, conta o interventor urbano Alexandre Orion.
carolina-gutierrez
Fonte: OUTRAS PALAVRAS
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