maio 19, 2015

"Por uma vida não-fascista", por Michel Foucault (1926-1984)

PICICA: "Precisamos --- e muito! --- dos 7 toques de Foucault, escritos como prefácio ao "Anti-Édipo", em 1980. A pior destruição das jornadas de junho no Brasil não foi obra da repressão. Esta foi terrível, castigou indivíduos e espalhou o medo, mas o maior estrago foi outro. O maior esmagamento da potência da multiplicidade de jun-out de 2013 foi da subjetividade. A Copa das Copas, a ortopedia eleitoral e, sobretudo, a autofagia entre os movimentos, que parecem presos a um looping de reclamações inertes enquanto se devoram uns aos outros em paranoica cadeia alimentar, tiveram um efeito ainda mais devastador do que a repressão direta. Enquanto não houver uma virada na 'produção de subjetividade', não poderemos sequer começar a enfrentar os nossos problemas: da ação, da organização e da teoria." (Bruno Cava Rodrigues)

POR UMA VIDA NÃO-FASCISTA

-- por Michel Foucault (1926-1984)


1) Libere a ação política de toda forma de paranoia unitária e totalizante.

2) Faça crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por subdivisão e hierarquização piramidal.

3) Libere-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o que é produtivo, não é sedentário, mas nômade.

4) Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que tem uma força revolucionária.

5) Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um tônico do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política.

6) Não exija da ação política que ela restabeleça os "direitos" do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é "desindividualizar" pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de "desindividualização".

7) Não se apaixone pelo poder. Nunca.

Fonte: Círculo da Cidadania

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