maio 14, 2015

“Prefeitura do Rio não aceita que trabalhador reivindique melhores condições de trabalho”. Escrito por Gabriel Brito e Paulo Silva Junior

PICICA: "Célio Viana: O Brasil atravessa um momento muito complicado, não é? Eu acredito que nós trabalhadores não podemos pagar pelo erro do governo. Se o governo errou, que pague pelo seu erro, mas não pode tentar repassar para o trabalhador. A situação hoje é tão grave que qualquer profissional que queira reivindicar seus direitos é perseguido e sofre retaliações.

Vejamos a situação dos profissionais da educação do Paraná como exemplo. Isso ocorreu com os educadores também no Rio de Janeiro e em Goiânia. Agora conosco, os garis. A situação está grave e a população tem de sair às ruas. Temos de repetir o que foi feito em junho de 2013, porque nós, garis, não temos medo da multidão, queremos estar junto da sociedade, junto do cidadão e de toda a população do Rio de Janeiro e do Brasil nas ruas. Nós temos que sair às ruas, reivindicar nossos direitos e não podemos deixar que o trabalhador pague pelos erros do governo.

Infelizmente, nós temos a nossa representatividade ligada ao Partido dos Trabalhadores, que não está honrando a sua sigla, de defesa dos direitos dos trabalhadores. Isso é muito complicado e nós, na qualidade de trabalhadores, vamos ter de nos unir e tentar reverter a situação.

Dentro disso, os garis se reúnem em rede e conversam com várias entidades. Eu, por exemplo, faço parte do Círculo de Cidadania, onde se discute a cidade que queremos e a conjuntura política nacional. Em virtude disso, formamos o Círculo Laranja, composto pelos garis, no qual discutimos saúde, meio ambiente e outras coisas relacionadas ao nosso trabalho e vida. É o tipo de organização que considero uma luz no fim do túnel hoje em dia."

“Prefeitura do Rio não aceita que trabalhador reivindique melhores condições de trabalho” Imprimir E-mail
Escrito por Gabriel Brito e Paulo Silva Junior, da Redação   
Segunda, 11 de Maio de 2015



Um ano depois de protagonizarem uma vitoriosa greve, os garis do Rio de Janeiro voltaram a cruzar os braços. Basicamente, porque o acordo feito após o fim da paralisação esteve longe de ser cumprido e os garis continuaram a sofrer retaliações. Para voltar ao assunto, o Correio da Cidadania conversou com Celio Viana, representante da categoria que acabou de ser demitido e foi até a Câmara dos Deputados expor a situação.

“Temos um sindicato que não nos representa. Uma direção que está há 30 anos no poder e consegue se reeleger em virtude de fraudes, porque não nos entregam, ou para qualquer um que queira fazer uma chapa, a listagem de onde realmente estão alocados os trabalhadores. Entramos duas vezes na Justiça para podermos receber esta listagem e nos negaram. A aliança do sindicato com o trabalhador é zero”, explicou.

Além de explicar o que vem ocorrendo, Celio ressalta o apoio da população às reivindicações da categoria e, diante de um ano que promete bastante dificuldades à classe trabalhadora, diz esperar mais mobilização da sociedade.

“Temos de repetir o que foi feito em junho de 2013, porque nós, garis, não temos medo da multidão, queremos estar junto da sociedade, junto do cidadão e de toda a população do Rio de Janeiro e do Brasil nas ruas. Nós temos que sair às ruas, reivindicar nossos direitos e não podemos deixar que o trabalhador pague pelos erros do governo”, completou.

A entrevista, gravada nos estúdios da webrádio Central3, pode ser lida a seguir.


Correio da Cidadania: Primeiramente, lembramos da greve dos garis de 2014, que surpreendeu o país e acabou vitoriosa. O que levou a essa nova greve, cerca de 1 ano depois?


Célia Viana: Em 2014, tivemos uma greve vitoriosa, na qual não tínhamos à disposição o aparato das grandes estruturas. A greve surgiu pela base, pela categoria. O que nos levou a fazer uma greve agora, em 2015, foi o fato de a Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana) e a prefeitura não virem cumprindo o acordo estabelecido no Tribunal Regional do Trabalho, o qual firmou que os trabalhadores não poderiam sofrer retaliações, perseguições e demissões. Isto não foi cumprido e temos provas suficientes para mostrar que, logo ao término da greve de 2014, até o mês de setembro, mais de 200 trabalhadores foram demitidos por justa causa, em virtude de terem participado da greve.

Correio da Cidadania: Como tem sido o diálogo e as negociações dessa greve atual com a prefeitura e o poder público?


Célio Viana: Em 2015, nós fizemos a limpeza do réveillon, do carnaval e recebemos elogios da Comlurb por termos feita uma limpeza brilhante. Quando chegou no momento do dissídio, esperávamos um reconhecimento por parte da Comlurb, inclusive em relação a todos os 28 itens que levamos à discussão. Nem a Comlurb e nem a prefeitura tiveram o carinho de discutir os itens que levamos e nos ofereceram 3% de aumento. Foi quando percebemos que eles não tiveram a menor consideração com o trabalhador e com o serviço que nós prestamos no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro.

Correio da Cidadania: No ano passado, a base da categoria atacou fortemente o sindicato. Como é neste ano a postura da entidade representativa da categoria na negociação?


Célio Viana: Temos um sindicato que não nos representa. Uma direção que está há 30 anos no poder e consegue se reeleger em virtude de fraudes, porque não nos entregam, ou para qualquer um que queira fazer uma chapa, a listagem de onde realmente estão alocados os trabalhadores. Entramos duas vezes na Justiça para podermos receber esta listagem e nos negaram.
A aliança do sindicato com o trabalhador é zero. A aliança do sindicato é, na verdade, com a Comlurb e a prefeitura. Ao longo dos anos, o sindicato sempre fez acordos que não atendiam aos trabalhadores, mas atendiam à Comlurb e prefeitura, oferecendo-nos abonos e porcentagens muito baixas se comparadas ao que era discutido nas assembleias organizadas.

Correio da Cidadania: Depois de participar muito ativamente da luta da sua categoria, você acabou demitido. Pode falar dos detalhes dessa demissão?


Célio Viana: É interessante poder explicar a situação porque, no dia 28 de abril, eu fui convidado pela Comissão dos Direitos Humanos para uma audiência na Câmara dos Vereadores e, logo em seguida, depois da audiência, soube da minha demissão por justa causa. Na verdade, não foi só comigo, pois mais de 70 trabalhadores também foram demitidos. Todos por justa causa, ou seja, foi uma demissão política. Comlurb e prefeitura não abriram o diálogo, não aceitam que o trabalhador se manifeste e reivindique melhores condições de trabalho. E tampouco querem que o trabalhador exponha os problemas que hoje são evidentes dentro da categoria.

Correio da Cidadania: Tem havido o mesmo apoio social verificado no ano passado? Depois de passar por Brasília e pelo Congresso para expor a situação e ver a entrada em cena do Ministério Público, no sentido de contestar as demissões, você fica otimista ou a situação é mais difícil do que em 2014?


Célio Viana: A população sempre nos apoiou com muito carinho. Ela reconhece o trabalho que o gari realiza na cidade. Infelizmente, não temos o apoio do sindicato. Nosso maior advogado é a população, que está sempre interagindo com o trabalhador, elogiando e abraçando a causa dos garis. Em relação a reverter essa situação, são muitos trabalhadores envolvidos.
Aceitamos o convite do deputado federal Daciolo, que passou uma situação semelhante à nossa quando foi perseguido após uma greve dos bombeiros e ficou preso em Bangu. Fomos à Brasília expor as demissões, perseguições e retaliações que os garis estão sofrendo. Ele nos atendeu muito bem e nos levou à Comissão de Direitos Humanos do governo federal para uma audiência pública. E em Brasília tudo é muito rápido. Você precisa raciocinar e expor os problemas com rapidez. Foi uma viagem positiva.

Acredito que a interferência do Daciolo, que nos ajudou a fazer a denúncia, da Comissão e da Ouvidoria dos Direitos Humanos do Governo Federal vai fazer com que a readmissão dos trabalhadores ocorra o mais rapidamente possível. E queremos a readmissão dos trabalhadores demitidos tanto em 2014 e como em 2015.

Correio da Cidadania: 2015 começou com uma série de cortes que afetam direitos e renda do trabalhador comum. Acaba de ser divulgado o índice de 7,9% de desemprego, o maior dos últimos dois anos. Diante do quadro e do que debatemos aqui, o que você pensa do atual momento geral do Brasil e do que o ano reserva aos trabalhadores?


Célio Viana: O Brasil atravessa um momento muito complicado, não é? Eu acredito que nós trabalhadores não podemos pagar pelo erro do governo. Se o governo errou, que pague pelo seu erro, mas não pode tentar repassar para o trabalhador. A situação hoje é tão grave que qualquer profissional que queira reivindicar seus direitos é perseguido e sofre retaliações.

Vejamos a situação dos profissionais da educação do Paraná como exemplo. Isso ocorreu com os educadores também no Rio de Janeiro e em Goiânia. Agora conosco, os garis. A situação está grave e a população tem de sair às ruas. Temos de repetir o que foi feito em junho de 2013, porque nós, garis, não temos medo da multidão, queremos estar junto da sociedade, junto do cidadão e de toda a população do Rio de Janeiro e do Brasil nas ruas. Nós temos que sair às ruas, reivindicar nossos direitos e não podemos deixar que o trabalhador pague pelos erros do governo.

Infelizmente, nós temos a nossa representatividade ligada ao Partido dos Trabalhadores, que não está honrando a sua sigla, de defesa dos direitos dos trabalhadores. Isso é muito complicado e nós, na qualidade de trabalhadores, vamos ter de nos unir e tentar reverter a situação.

Dentro disso, os garis se reúnem em rede e conversam com várias entidades. Eu, por exemplo, faço parte do Círculo de Cidadania, onde se discute a cidade que queremos e a conjuntura política nacional. Em virtude disso, formamos o Círculo Laranja, composto pelos garis, no qual discutimos saúde, meio ambiente e outras coisas relacionadas ao nosso trabalho e vida. É o tipo de organização que considero uma luz no fim do túnel hoje em dia.

Áudio da entrevista
 
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Gabriel Brito e Paulo Silva Junior são jornalistas.

Colaborou: Rapahel Sanz, do Correio da Cidadania.

Fonte: Correio da Cidadania

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