novembro 16, 2008

Ah, essas crises!

Getútilo Dornelles Vargas (1883-1954) - Presidente da República do Brasil
Oleo do Diabo

Ah, essas crises!

Posted: 15 Nov 2008 10:16 AM CST

Não é que eu seja um cândido otimista, mas toda vez que lembro o que nós éramos, há poucos milhões de anos, simples amebas deixando a vida nos levar, sinto-me revigorado. Nem preciso ir tão longe. Imaginem o estrago e o pavor causados no Brasil pela crash da bolsa de NY em 1929. Pessoas saltando de prédios em Wall Street, o mundo capitalista ruindo, e as exportações brasileiras sendo praticamente paralisadas. Num tempo em que não tínhamos petróleo, indústrias de base, nada. E, paradoxalmente, foi aquela crise que nos despertou politicamente. Vargas liderou uma revolução, pôs fim à política do café com leite, que girava exclusivamente em torno de concessão de privilégios cambiais e empréstimos paternais a fazendeiros de Minas e São Paulo (uma espécie de era tucana pré-Vargas), e deu início a um período de rápida e intensa industrialização. Após 24 anos da chamada era Vargas (1930 a 1954), teremos um Brasil preparado para o futuro.

Sempre é bom recordar o que fez Vargas. A ideologia neoliberal, na sua eterna tentativa de desmerecer o papel do Estado na economia, procura, há décadas, descontruir a importância de Vargas para a história brasileira. Vargas criou a Eletrobrás, a Petrobrás e a Companhia Siderúrgia Nacionais. Para quem não sabe, o sistema elétrico brasileiro estava em mãos de companhias britânicas e metade do país estava às escuras, pois essas firmas não tinham interesse em ampliar a rede para regiões pouco habitadas e sem industrialização. O paradoxo é que justamente por não terem eletricidade, as regiões não se desenvolviam e perdiam população para as grandes cidades. A oposição à Vargas, com apoio irrestrito de jornais como O Globo, lutou por 7 anos contra a criação da Eletrobrás, através de obstruções parlamentares. Vargas encontraria a mesma fúria oposicionista na sua luta para criar a Petrobrás e para instituir o salário mínimo. A oposição, após ser derrotada no Congresso, e sempre apoiada por jornais conservadores como O Globo, O Estado de São Paulo e a Folha, apelou para o Supremo Tribunal Federal contra a lei do salário mínimo. Enfim, perdeu também lá.

A história de derrotas da direita no Brasil experimenta uma reviravolta em 1964, com a implantação do regime militar. A partir daí, não haveria mais lutas parlamentares, nem pressão social. As decisões impopulares e anti-trabalhistas seriam impostas brutalmente.

Mas não quero me estender sobre história. Queria falar sobre a crise. A midia, de fato, vem ampliando seus efeitos por aqui, disseminando pânico e pregando um pessimismo generalizado, sem procurar análises econômicas mais consistentes, de médio e longo prazo, que permitam ao país olhar para si mesmo com mais confiança, acima dessa ansiedade e nervosismo superficiais.

É ridículo. O Brasil acaba de encontrar as maiores reservas de petróleo do planeta. Com a perspectiva de forte aumento da demanda mundial de etanol, o Brasil será o principal beneficiado, pois é o único com disponibilidade de terras e clima, além da tecnologia e know-how, para abastecer esse mercado em ascenção. O açaí, cuja extração é totalmente ecológica, promete ser uma das grandes frutas do século. Temos café, soja, milho, carnes. A produção brasileira de trigo, setor onde ainda somos deficitários (porque somente no Rio Grande do Sul há clima favorável para esta cultura, e a Argentina nos fornece, historicamente, trigo a custo mais baixo), cresceu mais de 40% este ano.

Estou sendo otimista em demasia? Eu tenho culpa de viver num país tão grande, com tantos recursos naturais?

Como podemos ter superado a crise de 1929, em condições infinitamente mais adversas e, mais que isso, tê-la transformado num salto histórico, num período de rápida e intensa industrialização, e agora tremer diante desta outra, que nos encontra em nosso melhor momento?

Essa crise está servindo a vários propósitos interessantes. Gerou uma virada ideológica nos EUA, elegendo um negro de esquerda. Desmoralizou a ideologia neoliberal, que tanto estrago fez no mundo. E fez o mundo ver a importância do Estado como instância civilizadora dos mercados.

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Nota do blog: Saiba mas sobre Getúlio Vargas. Acesse Cultura Brasileira.
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