PICICA: "O “Globo” escolheu matar-se dias
depois – 34 para sermos exatos – do 90º aniversário. Efemérides não se
discutem. Muito menos a forma de lembrá-las. O carro-chefe do Grupo
Globo tomou sua cicuta – abriu as veias, enforcou-se ou ateou fogo às
vestes — em rigoroso silêncio, entre quatro paredes, sem pronunciar uma
única palavra.
Sem ao menos uma interjeição de sofrimento, tipo “aí !” cerca de sessenta jornalistas das redações de O Globo, Extra e Infoglobo
foram sacrificados na terça, dia 1 de Setembro. O glorioso e poderoso
jornalão desligou holofotes, distribuiu mordaças, apagou-se, sumiu: não
quer as condolências dos compadecidos nem o regozijo dos adversários.
Quer o silêncio absoluto, segredo, anonimato, clandestinidade. Quer
cumplicidades."
MARCHA DO TEMPO > Um dia para não esquecer
A hecatombe silenciosa
O “Globo” escolheu matar-se dias
depois – 34 para sermos exatos – do 90º aniversário. Efemérides não se
discutem. Muito menos a forma de lembrá-las. O carro-chefe do Grupo
Globo tomou sua cicuta – abriu as veias, enforcou-se ou ateou fogo às
vestes — em rigoroso silêncio, entre quatro paredes, sem pronunciar uma
única palavra.
Sem ao menos uma interjeição de sofrimento, tipo “aí !” cerca de sessenta jornalistas das redações de O Globo, Extra e Infoglobo foram sacrificados na terça, dia 1 de Setembro. O glorioso e poderoso jornalão desligou holofotes, distribuiu mordaças, apagou-se, sumiu: não quer as condolências dos compadecidos nem o regozijo dos adversários. Quer o silêncio absoluto, segredo, anonimato, clandestinidade. Quer cumplicidades.
É livre o arbítrio, mas geralmente morre-se do jeito que se viveu e um jornal teoricamente comprometido com a divulgação dos fatos e ocorrências não tem o direito de demitir-se, omitir-se, calar. Jornais existem para testemunhar. Se preferem abdicar deste dever, perdem sua razão de ser, devolvem a credibilidade que conquistaram. Neste caso, para sempre.
Pelo visto os coveiros pretendem manter as aparências, fingir que nada aconteceu, que as vítimas não foram vitimadas e tudo continua na mesma. O mote de que o show deve continuar é uma inominável hipocrisia. Sim, o show precisa ser interrompido, ao menos por segundos, para enxugar lágrimas, respirar fundo e prosseguir.
A carnificina talvez fosse menos doída se o jornal contasse aos leitores o que aconteceu, porque aconteceu e registrasse um agradecimento aos que pagaram pelo acontecido. Não por gentileza, ou cavalheirismo, mas por devoção à verdade, por respeito a um ofício que deve ser honrado indistintamente por mandantes e mandados, contratantes e contratados.
O pool que reúne as maiores empresas de mídia do país, é um atentado ao pudor e ao Estado de Direito. Sem competição e divergências o jornalismo torna-se burocrático, cartorial, simplista. E tosco. A solidariedade da direção da Folha ao comando d e O Globo é uma postura anti-jornalística e antidemocrática, prova inequívoca de desrespeito à Constituição e ao pluralismo nela inscrito.
A silenciosa hecatombe de 1 de Setembro e a penosa cortina de silêncio sobre ela estendida remete nossa imprensa aos Anos de Chumbo, ao tempo das quarteladas e conspirações.
Outros tempos: lembrando Roberto Marinho
No dia 6 de Dezembro de 1973 este observador foi demitido da função de Editor-chefe do “Jornal do Brasil” onde serviu por 11 anos e 11 meses. Não contente, por perversidade, o representante dos acionistas do JB, M.F. do Nascimento Brito, determinou que a informação sobre a demissão fosse publicada com apenas três linhas da forma menos solene possível.
Ao reparar na indignidade, Roberto Marinho pediu ao então diretor de Redação do “Globo”, Evandro Carlos de Andrade, que escrevesse um desagravo à insultuosa notícia e destacou-a na antiga coluna de Carlos Swan (precursora da não menos prestigiosa coluna de Ancelmo Góis). Um gesto fidalgo e solidário que o talento de Evandro Carlos transformou em tocante galardão.
Assim caminha a humanidade.
Nota da Redação:
A lista provisória dos jornalistas demitidos dos jornais O Globo e Extra é a seguinte (alguns nomes estão incompletos):
O GLOBO
Marceu Vieira (demitido) / Pedro Dória – fica só como colunista / Flavia Oliveira – fica só como colunista / George Vidor – só como colunista de Opinião / Mario Sergio Conti – só como colunista Opinião / Cora Ronai / Arnaldo Bloch – continua como colunista / Helena Celestino / Manya Millen – editora Prosa e Verso – demitida / Valquiria Daher – editora revista da TV – demitida / Adriana Oliveira / Mario Toledo / Sergio Ramalho / Ana Claudia Costa / Bruno Amorim / Debora Ghivelder / Bolivar Torres / Isabel de Luca (Nova Iorque) / Fernando Eichenberg (Paris) / Renata Malkes / Luisa Xavier / Mauricio Fonseca / Allan Caldas / Hudson Pontes / Piu / Leporace / Edgard do Lago /Marcio Coutinho /Maraca /Romildo /Guilherme Scarpa /Luciana Froes /Aydano André Motta /Tatiana Farah /Luis Carlos Cascon .
EXTRA
Clovis Saint Clair/ Eliane Maria /Cris Fuscaldo / Anne Ribeiro / Camila Elias / Otávio Leite .
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
Sem ao menos uma interjeição de sofrimento, tipo “aí !” cerca de sessenta jornalistas das redações de O Globo, Extra e Infoglobo foram sacrificados na terça, dia 1 de Setembro. O glorioso e poderoso jornalão desligou holofotes, distribuiu mordaças, apagou-se, sumiu: não quer as condolências dos compadecidos nem o regozijo dos adversários. Quer o silêncio absoluto, segredo, anonimato, clandestinidade. Quer cumplicidades.
É livre o arbítrio, mas geralmente morre-se do jeito que se viveu e um jornal teoricamente comprometido com a divulgação dos fatos e ocorrências não tem o direito de demitir-se, omitir-se, calar. Jornais existem para testemunhar. Se preferem abdicar deste dever, perdem sua razão de ser, devolvem a credibilidade que conquistaram. Neste caso, para sempre.
Pelo visto os coveiros pretendem manter as aparências, fingir que nada aconteceu, que as vítimas não foram vitimadas e tudo continua na mesma. O mote de que o show deve continuar é uma inominável hipocrisia. Sim, o show precisa ser interrompido, ao menos por segundos, para enxugar lágrimas, respirar fundo e prosseguir.
A carnificina talvez fosse menos doída se o jornal contasse aos leitores o que aconteceu, porque aconteceu e registrasse um agradecimento aos que pagaram pelo acontecido. Não por gentileza, ou cavalheirismo, mas por devoção à verdade, por respeito a um ofício que deve ser honrado indistintamente por mandantes e mandados, contratantes e contratados.
O pool que reúne as maiores empresas de mídia do país, é um atentado ao pudor e ao Estado de Direito. Sem competição e divergências o jornalismo torna-se burocrático, cartorial, simplista. E tosco. A solidariedade da direção da Folha ao comando d e O Globo é uma postura anti-jornalística e antidemocrática, prova inequívoca de desrespeito à Constituição e ao pluralismo nela inscrito.
A silenciosa hecatombe de 1 de Setembro e a penosa cortina de silêncio sobre ela estendida remete nossa imprensa aos Anos de Chumbo, ao tempo das quarteladas e conspirações.
Outros tempos: lembrando Roberto Marinho
No dia 6 de Dezembro de 1973 este observador foi demitido da função de Editor-chefe do “Jornal do Brasil” onde serviu por 11 anos e 11 meses. Não contente, por perversidade, o representante dos acionistas do JB, M.F. do Nascimento Brito, determinou que a informação sobre a demissão fosse publicada com apenas três linhas da forma menos solene possível.
Ao reparar na indignidade, Roberto Marinho pediu ao então diretor de Redação do “Globo”, Evandro Carlos de Andrade, que escrevesse um desagravo à insultuosa notícia e destacou-a na antiga coluna de Carlos Swan (precursora da não menos prestigiosa coluna de Ancelmo Góis). Um gesto fidalgo e solidário que o talento de Evandro Carlos transformou em tocante galardão.
Assim caminha a humanidade.
Nota da Redação:
A lista provisória dos jornalistas demitidos dos jornais O Globo e Extra é a seguinte (alguns nomes estão incompletos):
O GLOBO
Marceu Vieira (demitido) / Pedro Dória – fica só como colunista / Flavia Oliveira – fica só como colunista / George Vidor – só como colunista de Opinião / Mario Sergio Conti – só como colunista Opinião / Cora Ronai / Arnaldo Bloch – continua como colunista / Helena Celestino / Manya Millen – editora Prosa e Verso – demitida / Valquiria Daher – editora revista da TV – demitida / Adriana Oliveira / Mario Toledo / Sergio Ramalho / Ana Claudia Costa / Bruno Amorim / Debora Ghivelder / Bolivar Torres / Isabel de Luca (Nova Iorque) / Fernando Eichenberg (Paris) / Renata Malkes / Luisa Xavier / Mauricio Fonseca / Allan Caldas / Hudson Pontes / Piu / Leporace / Edgard do Lago /Marcio Coutinho /Maraca /Romildo /Guilherme Scarpa /Luciana Froes /Aydano André Motta /Tatiana Farah /Luis Carlos Cascon .
EXTRA
Clovis Saint Clair/ Eliane Maria /Cris Fuscaldo / Anne Ribeiro / Camila Elias / Otávio Leite .
Fonte: OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
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