Nota do blog: Este texto, estabelecido a partir de uma trabalhadora de saúde mental de São Paulo, não pode ser lido pelos gestores do SUS do Amazonas, sob pena de matá-los de vergonha. Planejados desde 2003, até agora não foi implantado nenhum dos Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) dos cinco demandados pelos usuários de longa permanência no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro. Lástima!
Acima (foto), vê-se um dos inúmeros SRT da cidade de Belo Horizonte; no portão, um dos cuidadores que ali trabalha durante o dia, auxiliando na organização das rotinas e tarefas decididas coletivamente. O dispositivo que funciona em vários lugares no mundo é um produtor de autonomias por excelência. Em nada - absolutamente nada - lembra o controle constrangedor do modelo manicomial.
Abaixo (foto), vê-se o interior do SRT de Belo Horizonte. Observe a mesa da área de lazer; ela foi feita por usuários de uma ONG que trabalha no campo da inclusão social dos usuários dos serviços de saúde mental.
Vale lembrar que o SRT é um dos dispositivos, junto com os CAPS, os Centros de Convivência, que contribuem no processo de construção da cidadania dos sujeitos em sofrimento psíquico (Nota do blog: no Amazonas possui 3 CAPS - 2 no interior do estado e 1 na capital -, nenhum SRT, nenhum Centro de Convivência, nenhum leito psiquiátrico em Hospital Geral - embora o diretor de um importante hospital tenha manifestado o interesse de oferecer esse tipo de serviço).
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O sol brilha em São Paulo
Em São Paulo é sabido que há vacância de gestão única e direta do SUS. Lá a política de saúde implantada pela Secretaria Municipal de Saúde é do sistema de parcerias com as OS. A conseqüêcia disso é o loteamento da gestão do sistema de saúde do município. O que significa dizer que as diretrizes operacionais, técnicas, de gestão e gerência são definidas entre as parcerias - sempre vinculadas a uma universidade pública ou particular.
Entretanto, no campo da saúde mental, o Ministério Público Federal é o grande disparador da implantação de serviços: CAS III e Serviços Residenciais Terapêuticos.
Na sexta feira que passou uma cena sonhada pelo povo da reforma psiquiátrica de São Paulo se fez realidade. Uma van saiu da rua Marques de Cascais, no Brooklin, Zona Sul, a caminho do Jaçanã, aquele do trem das onze, na Zona Norte de São Paulo.
Do outro lado da cidade, trabalhadoras do CAPS Itaim Bibi (cujas atividades, vez por outra, são postadas neste blog) estavam à espera da condução, prontas para levar pessoas, suas histórias e suas bagagens, para uma casa onde passarão a residir.
A casa ainda está em reforma pelo lado de fora. Dentro um exército de mulheres e homens finalizavam o interior. Quem passava pelo lugar via que a casa estava uma delícia, aconchegante, clara, limpa, tal como a gente gosta de entrar na nossa casa, depois da luta cotidiana.
Os novos moradores adoraram a casa. Sacaram rapidamente tudo do espaço. Parece que a casa foi construída para elas: quatro homens e quatro mulheres, seus arranjos e combinados, dúvidas e esquisitices...
Tudo junto e ao mesmo tempo, com a moradia habitada a partir dessa data, o CAPS Itaim Bibi está construindo uma forma consistente de organização do trabalho para o CAPS III, sem recuar um milímetro das concepções que vêm guiando a reforma: cuidar em liberdade, produzir projetos de vida emancipatórios, produzir saberes, negar a lógica hierarquizante dos micro/podres poderes institucionalizados e institucionalizantes.
A luta continua para quem sustenta que o SUS deve ter condução única, no qual o gestor não pode se eximir da sua administração (operacional, técnica e gerencial). E, embora se alimente a falsa idéia de que a OS é uma estratégia (uma conversa longa, e sempre necessária, a ser discutida pelo coletivo de trabalhadores, usuários, sindicato, universidade, entre outros), é preciso reconhecer que graças à parceria entre CAPS Itaim Bibi / Associação Saúde da Família foi possível dar passos importantes na reforma psiquiátrica de São Paulo.
Para os mais críticos, é sempre bom lembrar que no modelo de gestão em São Paulo, cada região, serviço, rede (?) é um mundo particular. Daí...
Bom!... Daí que hoje o sol brilha em São Paulo.
VIVA !!!
Um comentário:
Que bom saber de pessoas que tornam público seu pensamento e luta contra os manicômios e a favor do cuidar em liberdade, com construção de lugares de estar e ser para esses usuários.
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