fevereiro 15, 2009

“Mirrely, a Luisa Ménard, do Brasil”

Manaus-Amazonas-Brasil
Nota do blog: Juan Carlos Velásquez Builes, médico e poeta, enviou a carta abaixo para o jornal A Crítica a propósito de um episódio ocorrido em Manaus, que ironicamente reproduz um outro acontecido na França do século XIX.

Manaus, sábado 31 de janeiro de 2009

Ao jornal A Crítica, Manaus-AM

“Mirrely, a Luisa Ménard, do Brasil”

Prezados Senhores:

Com meus mais sinceros reconhecimentos pela sua maravilhosa atividade jornalística, dirijo-me para, modestamente, lembrar as semelhanças na história e a concordância com os fatos do dia-a-dia nesta grande cidade, Capital da Esperança para o mundo inteiro, Manaus.

No dia sábado 31 de janeiro de 2009, foi publicada na sessão C8 do seu prestigioso jornal, a notícia titulada: “Mulher é acusada de furtar leite”, o caso de Mirrely Campos; uma cidadã de 24 anos que foi presa por furtar 11 latas de leite em pó dos supermercados “Carrefour” e estará detida até segunda-feira.

E, chegou à minha mente um pensamento: a justiça e a história da humanidade não pode ser mais irônica com isto que ocorre na atualidade e que aconteceu no passado da história, precisamente, sucedido na França, no século XlX. Umas das coincidências com a história é que, em Manaus, aconteceu no “Carrefour”, multinacional de origem francesa.

Naquele tempo esse acontecimento (que hoje se repete no Amazonas) foi comentado por todos os grandes homens do racionalismo e humanismo francês, como Voltaire, Victor Hugo e Leyret. Foi resenhado por todos os grandes jornais daquele tempo.

Ocorreu como naqueles contos para crianças, mas com a diferença da veracidade. Era uma vez, na França, uma mulher de nome Luisa Ménard, quem com sua mãe e um filho de dois anos, arrastavam vários dias sem provar alimento, ao passar por uma padaria, a mulher furtou um pão. Ela foi processada por isto e levada à delegacia. Tratando-se de um delito de furto, irremediável era a prisão por vários anos...

Bom, aqui é só trocar o pão por leite; agora, no sentido comum, que é o menos comum dos sentidos, ninguém, por mais estúpido que seja, roubaria “caixas de leite”, sendo essa pessoa, uma “malandra de verdade”. Por Deus, é sim pra furtar, uma mulher paga prendas íntimas que são fáceis de roubar ou coisas pequenas e de mais valor. Caberia à discussão dos fatos, uma personalidade doente para explicar o furto de 11 latas de leite. Diríamos que se trataria de um caso de cleptomania. Pois bem, não encaixa na clinica medica por que este tipo de pacientes, geralmente, furta coisas sem importância. Até agora, não conheço, na história de medicina, uma cleptomaníaca que furte 11 latas de leite. Continuemos com a história.

Com absoluta certeza todos aguardavam uma condenação exemplar contra Luisa Ménard. Mas aconteceu que o juiz MAGNAUD sentenciou o seguinte: “É triste que em uma sociedade bem organizada, um de seus cidadãos, sobre tudo uma mulher com filhos, não pudesse encontrar pão de outro jeito que cometendo uma falta”. Toda a França se comoveu com aquele parecer do juiz, único e diferente ao que os franceses estavam acostumados da sua justiça.

A sentença da absolutória de Luisa Ménard é conhecida universalmente e estudada nas escolas de jurisprudência. Naquele tempo uns falaram a favor e outros em contra, assim como suscitou admiração, provocou indignação; mais foi ínfima a quantidade de falsos moralistas que a repudiaram.

Em “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, Francês, o personagem Jean Valjean esteve detido por 19 anos por furtar um pedaço de pão. Assistimos hoje em dia pela televisão as noticias de homens que furtaram milhões de dólares; levaram a economia mundial a passar dificuldades; muitos de eles em liberdade afrontam seus processos na justiça, outros detidos nos seus arquimilionários apartamentos e mansões, aguardam o veredicto da justiça. É verdade que qualquer tipo de furto é um delito e não pode uma sociedade permitir-se uma licença para a libertinagem da justiça.

Eu não posso pedir nada porque sou estrangeiro; mais vou pedir para o Juiz de Juízes, ajude aos funcionários da justiça do Estado do Amazonas e de essa grande nação “Abençoada por Deus”, Brasil, a lembrarem a história da humanidade. E faço uma rogativa para que a multinacional “Carrefour”, desista de iniciar um processo judiciário, e não se esqueça da sua grandeza e herança fornecida pelos homens do iluminismo e o humanismo franceses, aqueles que deixaram para a humanidade inteira: “A Carta dos Direitos Humanos”.

Posso suportar a injustiça de um mundo egoísta e que esta regida pelo “dinheiro”; mas não posso deixar passar uma “ironia da história e da justiça”, a qual reproduz o que aconteceu no século XlX na França, em uma loja localizada no Amazonas, no século XXl, em uma empresa de origem francesa.

Obrigado.

Juan Carlos Velásquez Builes

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