Nota do blog: Anuncio, com pesar, que o bloco Unidos do Eduardinho, composto por usuários, familiares e trabalhadores de saúde mental, que tantas alegrias nos deu no carnaval de 2006 (e o dissabor de sabê-lo na boca dos desafetos como uma homenagem dissimulada ao governador do estado, de nome Carlos Eduardo), desapareceu precocemente. Só saiu naquele ano. Não é fácil abrir mão da ideologia rasteira dos reformistas de araque ainda vigente no cenário da Reforma Psiquiátrica no Amazonas. Não há inclusão social no horizonte dessa mentalidade, incapaz de viver sem a lógica do controle e da vigilância. Foucault deve ter se debatido no túmulo, ao saber que este ano o carnaval dos usuários de saúde mental ocorreu dentro dos muros do hospital psiquiátrico. Este é mais um episódio do retrocesso da reforma no estado que foi pioneiro em ações pela construção da cidadania de pessoas em sofrimento mental. Só me resta renovar as esperanças de que um outro coletivo apareça disposto a trabalhar por verdadeiras políticas de desinstitucionalização da loucura. Afinal, não é retornando para o hospital psiquiátrico que se espanta o temor pelo futuro desse espaço simbólico de exclusão social. Mas é, sobretudo, esclarecendo a opinião pública do atraso em substituir o hospital psiquiátrico por uma rede de atenção diária às demandas das pessoas em sofrimento mental. Assim se prestaria um grande serviço para uma cidade que já não pode viver de serviços insuficientes e precários. Leia abaixo o artigo cheio de esperanças de 2006. Renovo-as.
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Unidos do Eduardinho
Há três anos tentamos sair dos muros do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro para participar do carnaval de rua. Nada melhor do que o relaxamento da censura, do preconceito e da intolerância para manifestar o desejo coletivo de inserção na vida cultural da cidade dos cidadãos em sofrimento mental.
Um momentinho! De que cidadania e de que coletivo estamos falando? Afinal, a cidadania dos portadores de sofrimental está por ser construída, e o coletivo ainda não se formou.
Em verdade, as duas estão em construção, qualquer que seja a resistência que se lhes ofereça. Seja resistência social, que lentamente vem sendo desconstruída em Manaus, com a honrosa participação da Associação Chico Inácio - ONG composta por usuários de saúde mental, familiares, técnicos e cidadãos de boa vontade, que atua no campo da defesa dos direitos dos portadores de sofrimento mental; seja a individual, alienada pelos efeitos perversos da instituição manicomial, desafiando técnicos em saúde mental a assumir suas responsabilidades históricas.
É isso ai! Estamos diante de um desafio que, longe de ser meta de governo, é um desafio civilizatório: a de por fim à sociedade de manicômios.A tarefa é clara: se quisermos tirar a loucura de sua inscrição no espaço da morte; se quisermos romper a articulação da loucura da sua articulação com o universo da marginalidade social é necessário ir em busca de outra verdade e de uma outra significação para a experiência da loucura.
Uma outra subjetividade começa a se manifestar, como a de Sódia, cidadã usuária, filiada à Associação Chico Inácio, que fez questão de vestir a fantasia premiada no concurso da Manaustur (terceiro lugar): "Assim as pessoas vem conversar com a gente... quem sabe eles perdem o medo", disse ela como manifestação do seu desejo de comunicação. Até de baixo d'água.
Foi o caso. Choveu torrencialmente no Domingo Gordo, dia 26 de fevereiro de 2006, mas a disposição de fazer história não esmoreceu os brincantes que compareceram solidariamente para pular o carnaval no Bloco Unidos do Eduardinho: alunos de psicologia da ULBRA e da UNINilton Lins; familiares, técnicos de saúde mental do Hospital Psiquiátrico; além dos voluntários que atuam no campo da luta antimanicomial. Saíram todos de alma lavada.
Transmito aqui os agradecimentos dos parceiros dessa iniciativa exitosa (Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, Coordenação Estadual de Saúde Mental, Associação Chico Inácio) os agradecimentos ao HEMOAM, que convidou todos a participar do Bloco do Vampirão, para que se pudesse constituir uma primeira experiência. Que venha o carnaval de 2007!
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