maio 04, 2015

Quem pagará a conta? - Por Lúcio Flávio Pinto

PICICA: "(...) as empresas vão recorrer da decisão ao judiciário. Mas o ministro de Minas e Energia, o amazonense Eduardo Braga, se antecipou a elas numa posição favorável. Sem deixar de reconhecer que agência relacionada ao seu ministério não errou, tratou de ressaltar que a decisão ainda não está concluída. A Aneel terá que levar em consideração o relatório da Advocacia-Geral da União sobre o caso. Seria a oportunidade de voluntariamente rever sua decisão.

Se isso não acontecer, ainda assim o ministro insistiu em que “é preciso pensar uma solução que não iniba os futuros investimentos em hidreletricidade, mas de forma que não onere o consumidor”. Se a Aneel está (provisoriamente) certa na sua decisão e o consumidor não pagará pelo ônus do atraso, como quer o ministro, de onde sairá o dinheiro para cobrir o prejuízo?

Ganhará um choque elétrico de bônus aquele que responder: por vias e travessas, o tesouro nacional, ainda que já arrombado. O contribuinte, concretamente falando." 

EM TEMPO: Corrigindo o 'incorrigível' (com perdão do trocadilho) Lúcio Flávio Pinto - o mais corajoso jornalista do norte do Brasil -, assinalo que o ministro Eduardo Braga é paraense, de Santarém, de onde também é natural o ilustre jornalista.

Quem pagará a conta?

Na terça-feira, 28, a Agência Nacional de Energia Elétrica decidiu negar aos construtores das hidrelétricas de Belo Monte, no Pará, e Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, o reconhecimento de excludentes de responsabilidade pelo atraso das obras. As três empresas recorreram à Aneel alegando que seus cronogramas de obras atrasaram por circunstâncias externas e independentes das suas vontades. Atribuem o retardamento a manifestações de protesto nos canteiros e a lentidão na liberação das autorizações ambientais pelo próprio governo federal.

Como seus argumentos não foram aceitos, os prazos contratuais foram mantidos em vigor. Para Belo Monte, no rio Xingu, que tem o maior atraso, de um ano, significa que a concessionária da usina terá que comprar energia para garantir a entrega aos distribuidores com os quais assumiu o compromisso de começar a fornecer em fevereiro deste ano. O funcionamento da primeira das 18 gigantescas turbinas, porém, agora só será possível em abril de 2016. O custo desse compromisso é calculado em 250 milhões de reais.

A mesma obrigação se aplica às concessionárias de Santo Antonio e Jirau, no rio Madeira. As três hidrelétricas, as maiores em construção no Brasil, têm orçamento de mais de R$ 55 bilhões e capacidade nominal conjunta de energia de 18 mil megawatts, 50% superior a Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo.

Certamente as empresas vão recorrer da decisão ao judiciário. Mas o ministro de Minas e Energia, o amazonense Eduardo Braga, se antecipou a elas numa posição favorável. Sem deixar de reconhecer que agência relacionada ao seu ministério não errou, tratou de ressaltar que a decisão ainda não está concluída. A Aneel terá que levar em consideração o relatório da Advocacia-Geral da União sobre o caso. Seria a oportunidade de voluntariamente rever sua decisão.

Se isso não acontecer, ainda assim o ministro insistiu em que “é preciso pensar uma solução que não iniba os futuros investimentos em hidreletricidade, mas de forma que não onere o consumidor”. Se a Aneel está (provisoriamente) certa na sua decisão e o consumidor não pagará pelo ônus do atraso, como quer o ministro, de onde sairá o dinheiro para cobrir o prejuízo?

Ganhará um choque elétrico de bônus aquele que responder: por vias e travessas, o tesouro nacional, ainda que já arrombado. O contribuinte, concretamente falando.

“A Aneel não errou. O que quero dizer é que a questão na Aneel não está definitiva. A AGU está se pronunciando por escrito e essa situação não pode ficar como está. O modelo hidrelétrico brasileiro não pode ficar como está. Isso é fato”, disse. “Não queremos a solução simples, que era onerar o consumidor. Não queremos isso, queremos encontrar uma solução que gere um reforço para o modelo de energia nova e reequilíbrio econômico e financeiro do modelo, em consequência dos contratos, e estabeleça o tamanho do alongamento que vamos ter para equilibrar o modelo e o contrato”, afirmou.


Fonte: Lúcio Flávio Pinto

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