PICICA: "Alunos que participaram do movimento contra reorganização dos colégios paulistas falam em uma 'nova relação' com o ensino"
As ocupações mudaram os estudantes. Agora, eles querem mudar a escola
Alunos que participaram do movimento contra reorganização dos colégios paulistas falam em uma 'nova relação' com o ensino
Mas foi neste fim de semana que passou, com uma espécie de virada cultural realizada em parte das quase 200 unidades tomadas por estudantes em todo o Estado, que algo se concretizou. Não foi apenas a presença de artistas, mesas de debates com escritores e o apoio de personalidades ao movimento. Foi a consolidação de um modelo que começou a ser experimentado pelos estudantes e que agora eles querem reproduzir no dia a dia da escola.
Com as ocupações, a rotina dos colégios ficou diferente. Os estudantes assumiram as atividades de manutenção das unidades: ficaram responsáveis pela limpeza e pela cozinha. A vizinhança participou doando alimentos e produtos de limpeza. E outras pessoas ajudaram organizando debates, oficinas e shows como os do fim de semana.
Ao longo desse quase um mês de ocupação, voluntários foram responsáveis por um currículo pouco ortodoxo. Os alunos tiveram aulas sobre urbanismo e especulação imobiliária, questões indígenas, movimento negro, comunicação não violenta e questões de gênero, além de oficinas de estampagem de camisetas, jornalismo e dança, entre outras coisas.
"Minha relação com a escola mudou. A gente agora se sente dono dela e não tem volta. Queremos que a escola tradicional seja mais como a escola ocupada."
"Vamos perguntar o porquê em sala de aula: por que a gente tem de sentar e ficar 50 minutos para ver uma coisa que pode ser dita de um jeito diferente? Vamos questionar as imposições da direção. Não vamos ficar quietos, literalmente."
O status atual das ocupações#
O governo de São Paulo anunciou, na sexta-feira (4), a suspensão do projeto de reorganização do ensino estadual, atendendo à principal reivindicação dos alunos. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) diz que suspendeu a reestruturação para "aprofundar o diálogo".
Os alunos, no entanto, dizem que vão ficar, apesar de já haver desocupações em dezenas das quase 200 escolas tomadas desde novembro. Segundo eles, o movimento continua até que eles considerem que a reorganização tenha sido cancelada em definitivo, que haja punição para policiais que teriam cometido abusos contra os estudantes e que haja garantia de que nenhum secundarista preso durante os protestos responda a processos judiciais.
O governo estadual atribui a continuidade dos protestos à politização da causa dos estudantes. Edson Aparecido, secretário-chefe da Casa Civil do governo estadual, diz que “não tem sentido” manter as ocupações com a suspensão do plano de reorganização.
"Quem quiser fazer luta política, como boa parte já tentou fazer, vai errar."A posição do governo estadual, por enquanto, é apenas relacionada à suspensão da reorganização. O plano original previa o fechamento de 94 escolas e a separação de alunos por ciclos, que significa manter em cada colégio estudantes de idades semelhantes.
No comunicado em que anunciou o adiamento do plano, o governo estadual diz que as escolas que adotam esse modelo são mais “focadas” e têm resultados “15% acima da média”. Segundo Alckmin, a reorganização será adiada e discutida “escola por escola”. O governo ainda não se manifestou sobre como se dará a desocupação das escolas e o fim do ano letivo.
Fonte: NEXO JORNAL
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