maio 01, 2012

"Vale dos Esquecidos", de Maria Raduan - um documentário sobre disputa de terras e suas vítimas: os índios e a Amazônia

Enviado por  em 23/03/2011
Vale dos Esquecidos é um documentário de longa-metragem que investiga a disputa por terra em uma remota região do Mato Grosso, onde o fogo é a principal arma usada entre grupos rivais: índios expulsos de suas casas, posseiros em busca de um pedaço de chão, grileiros invadindo terras ilegalmente, sem-terra esperando as decisões do governo, fazendeiros brigando para manter suas propriedades. Neste relato sobre a experiência universal da disputa por terra, e o impasse que normalmente a acompanha, um retrato duro dos personagens envolvidos nesta região, assim como da vítima comum, silenciosa, deste conflito: a Amazônia, consumida pelo fogo humano.

PICICA: Não tenho a menor expectativa de que o PT ou qualquer outro partido mude a trajetória da trágica história da Amazônia. Depois que o Partido dos Trabalhadores rompeu seus compromissos com a causa indígena e com a própria Amazônia em nome de um desenvolvimentismo tardio, baseado em megas-projetos, se não superou a megalomania da ditadura militar, está muito proximo da façanha. Os demais partidos estão fora do baralho do capitalismo atual. Esse é o resultado de quando o messianismo nacional encontra seu intérprete, arrastando uma massa de crentes na nova aventura do capitalismo em nosso país. Ademais, queiramos ou não, o futuro da região já estava devidamente traçado, enquanto o PT ainda pavimentava sua ascensão ao poder. Quem conhece o Relatório IRSA sabe do que se trata. Integração da América do Sul a qualquer preço. São trilhões de dólares em jogo. O novo regime de acumulação do capital globalizado não dá moleza. Mesmo que houvesse uma tradução crítica para as massas do significado desses empreendimentos - como as famigeradas 150 hidrelétricas projetadas para a Amazônia Legal, bem como os mega-portos e estradas para escoamento da produção de nossas riquezas -, corre-se o risco de baixa adesão dado o caráter alienante da relação das massas com seus líderes e o frenesi provocado pela abertura de novos postos de trabalho. E não estamos falando de um capitalismo de cumpadres. Agora temos especialistas na arte de superar escândalos, enfrentar a burguesia política e afagar e ser afagado pela burguesia econômica. É como se uma espécie de esquizofrenia tivesse tomado conta do conjunto do PT - exceções de praxe. Nada a ver com a clínica-nossa-de-cada-dia. Trata-se de um conhecido fenômeno político de reações disparatadas provocadas por duplo vínculo. Impossível servir a dois senhores. Mas tudo é possível depois do  longo inverno da despolitização causada pela ditadura militar. O Brasil Grande é uma falsa ilusão. Procede a crítica de que os trabalhadores deixaram de ser protagonistas para serem massa de manobra eleitoral. Daí a baixa resistência contra as atrocidades cometidas no coração do Brasil, onde uma luta feroz vai expandindo as fronteiras agrícolas floresta adentro. A médio prazo, na esteira da longa sobrevida eleitoral do PT e seus aliados, se não houver mudança no roteiro difinido alhures, essa formidável máquina política será responsável por um cenário de devastação e exploração dos recursos existentes na Amazônia nunca antes vistos nesse país.

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