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We are on the set of "Salò or the 120 days of Sodom". Pasolini lets a small camera team led by the journalist Gideon Bachmann follow him around engaging him in a long and extraordinary interview/conversation. The interview turns into a long, clear-sighted and violent attack on society that accompanies photos of the set in a surprising juxtaposition of film and reality, revealing Pasolini's metaphorical portrait of modernity.
Written by Giuseppe Bertolucci
We are on the set of "Salò or the 120 days of Sodom". Pasolini lets a small camera team led by the journalist Gideon Bachmann follow him around engaging him in a long and extraordinary interview/conversation. The interview turns into a long, clear-sighted and violent attack on society that accompanies photos of the set in a surprising juxtaposition of film and reality, revealing Pasolini's metaphorical portrait of modernity.
Written by Giuseppe Bertolucci
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PICICA: Num artigo publicado em dezembro de
1975, logo após a morte de Pasolini, Leonardo Sciascia afirmou que o artista
italiano viveu numa época em que existia um certo conformismo em proclamar-se
marxista, especialmente na Itália, um país tão periférico como o Brasil, diante
das nações economicamente modernas, e que ele nomeava como Italietta
(Italinha), anacrônica, provinciana, racista e discriminatória. Ser católico
num país católico então, não havia qualquer originalidade, e era igualmente
conformista. Foi em meio ao conformismo e a banalidade que o cineasta italiano
produziu sua obra trágica e desesperadamente anticonformista, com um dos
resultados mais significativos e duradouros do cinema. Ao realizar Salò ou
Cento e Vinte Dias de Sodoma, em que sobrepõe o romance de Sade à república de
Saló – breve período em que tudo era permitido na Itália fascista de 1944 –
Pasolini, mais do que uma metáfora do fascismo, realizou uma fábula do horror que
o tempo presente lhe inspirava, pondo em discussão, entre outras coisas, a moradia
da pornografia.
Para a professora Maria Betânia
Amoroso, professora do Departamento de Teoria Literária do Instituto dos
Estudos da Linguagem da Unicamp, “a base da crítica social de Pasoloni é a da
mutação antropológica do homem contemporâneo, após o genocídio cultural”.
Genocídio perpetrado em nome do desenvolvimento econômico e da onda de otimismo
que tomou conta de intelectuais, políticos e sociólogos em êxtase com a chegada
ao paraíso. Qualquer semelhança com os tempos atuais não é coincidência, mas
fruto de um movimento que opera com um único modelo de homem: o consumidor. Nem
que para isso florestas ardam em chamas ou naufraguem sob hidrelétricas. Não
queria fazer alusão à realidade da nossa Brasilietta, mas foi inevitável.
Para a professora Maria Betânia
Amoroso, o inimigo número um de Pasolini era o “homem de idéias” contemporâneo
italiano “que se rendia ao “bom mocismo” em nome da modernização da Itália,
mesmo que para isso precisasse fechar os olhos para o que ia acontecendo mundo
afora”. Pasolini abominava a crença da auto-suficiência do modelo de razão
desse homem submetido ao consumismo, dependente de recompensas dos meios de
comunicação de massa, que abria mão de pensar, numa “cínica prevaricação dos
dados fatuais e do bom senso” que é “capaz de enganar jornalistas preocupados
em criar notícias, mas não os intelectuais dispostos a avaliar o significado e
o valor das coisas, como argumenta a professora Maria Betânia.
Tenho a impressão que vivemos um novo
ciclo de decadência antropológica. Há um esvaziamento progressivo do sentido da
rebeldia e um novo modelo político e comportamental tenta-se impor às novas
gerações. Que resiste, sem dúvida; uns nos estreitos caminhos de modelos
tolerantes à diversidade, outros na aniquilação de toda lembrança do mundo que
se encerra. Eis a armadilha.
Salò é uma metáfora, como declara
Pasolini. Metáfora da relação sexual obrigatória e pavorosa, alimentada pela
tolerância do poder consumista. Mas é também a metáfora da relação de poder
entre aqueles que a ele se submetem. Assim disse Pasolini: “Em outras palavras,
é a representação (talvez onírica) daquilo que Max define como a alienação do
homem: a redução do corpo a coisa (por meio da exploração)”.
Referências:
1. AMOROSO, Maria Betânia. Pier Paolo Pasolini. São Paulo: Cosac & Naif, 2002.
2. PASOLINI, Pier Paolo - Diálogo com Pier Paolo Pasolini - Escritos (1957-1984). São Paulo: Nova Stella, 1986.
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