Nas ‘Narrativas do Espólio’ (1914-1924) de Franz Kafka consta o seguinte:
UMA CONFUSÃO COTIDIANA - 1917
PICICA: "O conceito d’alienação é vivido através da maneira pela qual se concebe o
narrador, que desconhece o enredo tanto quanto o próprio leitor. A
alienação é mapeada por dentro, em chave literária, sacumé?"
Um
incidente cotidiano: suportá-lo, uma confusão cotidiana. A precisa
fechar com B, de H, um negócio importante. Vai a H para uma conversa
prévia, percorre o caminho de ida e o de volta em dez minutos cada, e em
casa se gaba dessa particular rapidez. No dia seguinte vai de novo a H,
desta vez para o fechamento definitivo do negócio. Tendo em vista que
este, segundo as previsões, exigirá várias horas, A parte de manhã bem
cedo. Mas embora todas as circunstâncias – pelo menos na opinião de A –
sejam exatamente as mesmas do dia anterior, dessa vez ele precisa de dez
horas para fazer o caminho até H. Quando chega lá à noite, exausto,
dizem-lhe que B, irritado com o não-comparecimento de A, tinha ido fazia
meia hora para a aldeia de A e que na verdade deveriam ter-se
encontrado no caminho. Aconselham A a esperar. Mas A, angustiado com a
realização do negócio, parte imediatamente e vai às pressas para casa.
Dessa vez,
sem prestar atenção especial nisso, percorre o caminho em não mais que
um instante. Em casa fica sabendo que de fato B tinha chegado muito cedo
– logo depois da partida de A; na realidade tinha encontrado A na
porta da casa, o havia lembrado do negócio, mas A dissera que agora não
tinha tempo, que precisava partir à toda.
Apesar do
comportamento incompreensível de A, no entanto B ficara ali, esperando
A. Já havia perguntado várias vezes se A ainda não tinha voltado, mas
ainda estava lá em cima, no quarto de A. Feliz com o fato de agora poder
falar com B e de poder explicar-lhe tudo, A sobe correndo a escada. Já
está quase no alto quando tropeça, distende um tendão e, praticamente
desmaiado de dor, incapaz até de gritar, apenas gemendo no escuro, ele
ouve B – impossível distinguir se a grande distância ou bem a seu lado –
descer a escada batendo os pés, furioso, e desaparecer para sempre.
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*
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As obras de Kafka - 1 precursor de Beckett(?) y
o seu tema-padrão: a espera da liquidação de-fi-ni-ti-va das
coisas(??) - tematizam reiterada-mente uma situação de base: o BAAAAITA
esforço que o carinha faz pra chegar a 1 objetivo que n-u-n-c-a é
alcançado.
O txt aí é 1 retrato medular desse tema. O que ele nos mostra&conta é que o mundo ordenadinho&racional é, na verdade, grávido d’acidentes que podem fazê-lo desmoronar a qual-quer momento y por razões (que a própria razão desconhece) I-NEX-PLI-CÁ-VE-IS!
O conceito d’alienação é vivido através da maneira pela qual se concebe o narrador, que desconhece o enredo tanto quanto o próprio leitor. A alienação é mapeada por dentro, em chave literária, sacumé?
(last but not least) A
propósito, vale lembrar duma cena do “Indiana Jones 3″ (aquele em que
Sir Sean Connery faz o pai do herói) na qual ele precisa dar 1 passo em
frente ante 1 abismo cheio de tijolos marcando a profundidade do perigo y quando ele ousa avançar no vazio, surge uma ponte sob seu pé que tava disfarçada pelos quadriculados…
Fonte: Psicotramas
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