PICICA: Consultando o resultado de acessos ao vídeo que denominei em postagem anterior como CARTOGRAFIA DA RESISTÊNCIA RIBEIRINHA fiquei impressionado com o seu baixo número; pouco mais que duas míseras dezenas de vezes. Espero poder mudar o destino desse excelente trabalho produzido pela equipe da Nova Cartografia Social da Amazônia, como fiz com o meu vídeo BALBINA NO PAÍS DA IMPUNIDADE, que ia no mesmo caminho: graças aos amigos de outras redes, o número de acessos saltou dos vinte iniciais para mais de quatrocentos, até agora. Isso me lembra um verso da canção "Menino", interpretada por Milton Nascimento: "Quem cala sobre teu corpo, consente na tua morte". Os dois vídeos dizem respeito, respectivamente, ao drama enfrentado pacificamente por duas comunidades tradicionais de ribeirinhos na costa do rio Amazonas, ameaçados pelo Exército brasileiro de perder o território de sua infância, dos seus amores e da sua subsistência; o outro é sobre um desastre socioambiental provocado pela construção de uma hidrelétrica no rio Uatumã, no momento em que o governo federal ameaça construir novas hidrelétricas no Estado do Amazonas. Depois que o movimento da Cabanagem, que envolveu a Província do Grão Pará - Amazonas aí incluso - foi trucidada, a baixa resposta do povo amazonense às agressões no seu território tem sido uma constante. Não será agora que veremos um levante popular. Essa indiferença para com os corpos aí envolvidos, sujeitos à brutalidade do esquecimento, está tão arraigada em nosso espírito que me lembra um outro episódio. Um jovem jornalista manifestou interesse em fazer uma matéria para um jornal local sobre meu acervo fotográfico, sobretudo o dos movimentos sociais dos anos 1980. Marcava a entrevista e faltava. Marcava e faltava... Até que um dia ele sumiu, sem dar nenhuma satisfação. Até hoje não sei de quem se trata, posto que não raro minha memória elimina aquilo que me desagrada. Sequer lembro o nome da pessoa (uma outra forma, vingativa talvez, de não reconhecimento desse fantasma que se aninhou em minhas lembranças - melhor dizer, desse cadáver, já que estamos falando em corpos). Macacos me mordam se os dois episódios não tem um traço comum - o silêncio sobre uma obra é tão grave quanto o silêncio sobre o futuro de comunidades inteiras e sua obra coletiva. Entre um indivíduo e uma comunidade, nossos corpos que a terra um dia há de comer. Duro é a morte em vida, como se faz com essa comunidade e com as obras de interesse coletivo. Dedico este post aqueles que são esquecidos pela políticas públicas, ou por elas perversamente atingidos, para que nossa memória não seja subtraída... afinal o mundo não começou hoje, ainda que esteja sempre em movimento.
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