agosto 22, 2013

"As esfinges do século 21", por Patrícia Marins e Miriam Moura

PICICA: "No Brasil, além da revolução social que as RSIs estão provocando no cenário político e midiático, o debate sobre o marco civil da internet deverá crescer na sociedade civil neste segundo semestre. Ganham força na pauta do Congresso temas como a regulamentação da internet, proteção de dados pessoais, restrição à coleta de dados de usuários e mesmo a liberação da pré-campanha na internet, entre outros.

Por tudo isso, a melhor alternativa para atores de qualquer segmento social – políticos, governantes, jornalistas, gestores públicos e privados – é prestar bastante atenção na dinâmica das mídias sociais, entender o conceito de rede e as novas propriedades de comunicação do Twitter, Facebook e outras plataformas digitais."

REDES SOCIAIS

As esfinges do século 21

Por Patrícia Marins e Miriam Moura em 20/08/2013 na edição 760



Para o mundo político brasileiro, elas vieram em junho como um vendaval. Índices de popularidade despencaram ladeira abaixo, deixando um rastro de perplexidade e de assombro em políticos, jornalistas, governantes e gestores públicos em geral. Que força nova é essa que leva multidões às ruas exigindo melhores serviços públicos – “padrão Fifa” – e é capaz de balançar administrações de governadores eleitos em primeiro turno, até pouco tempo em plena zona de conforto eleitoral?

As novas redes sociais da internet (RSIs) representam um marco divisório na comunicação moderna. Dizem os estudiosos que o conceito de rede é uma versão empírica do conceito de rizoma, um sistema aberto, anterior a toda a dicotomia, sem limites definidos. Nas redes, não há dualismos. Como nos mostram as autoras Lucia Santaella e Renata Lemos (Redes sociais digitais, Editora Paulus), as redes nos livram da tirania do próximo versus o distante, das escalas micro e macro – família, grupo, instituições, nação. A rede substitui escalas por conectividade. Assim, uma rede não é maior do que a outra. Pode ser mais longa ou mais conectada. Não há fora nem dentro: redes são só bordas.

Muito tem se falado sobre as RSIs, mas são poucos os que conseguem entender seu conceito. Para muitos políticos e jornalistas, as novas redes digitais representam uma espécie de versão contemporânea do enigma da Esfinge da mitologia grega, que em Édipo Rei de Sófocles desafia a todos com um quebra-cabeça, sob a ameaça: “Decifra-me ou te devoro”. Muitos estão mesmo sendo devorados, como mostram as pesquisas de opinião sobre os políticos.

Pesquisa recente do Ibope revelou que nem políticos nem governantes acertaram nas respostas aos pedidos das ruas. A Câmara dos Deputados e o Senado tiveram, respectivamente, 56% e 55 % de desaprovação. A presidente Dilma Rousseff amargou 46% de reprovação, mesmo ela sendo a “primeira líder mundial a ouvir as ruas”, segundo Manuel Castells, sociólogo espanhol, tido como o maior especialista contemporâneo em movimentos sociais nascidos na internet. Desde os primeiros protestos pedindo redução das tarifas em São Paulo, políticos de todos os partidos, sem exceção, só têm feito correr atrás dos prejuízos, de olho nas próximas eleições.

Mais velocidade

Sobre a crise de representação política potencializada nas manifestações, Castells cita dois fenômenos. Um, a ideia de que político aprova regra eleitoral com o único propósito de se manter no poder. Outro, a forma horizontal e sem líderes desses movimentos, num claro contraste com o sistema político tradicional.

Há outros fatores típicos das manifestações, como a variedade de demandas e a falta de objetividade dos movimentos. Sem pleitos específicos das vozes das ruas fica mais difícil para o político aprovar projetos que os faça recuperar a representatividade perdida. Quanto aos líderes, foram procurados com lupa por agentes de inteligência escalados às pressas, e devem estar até agora buscando nomes e rostos.

No Brasil, além da revolução social que as RSIs estão provocando no cenário político e midiático, o debate sobre o marco civil da internet deverá crescer na sociedade civil neste segundo semestre. Ganham força na pauta do Congresso temas como a regulamentação da internet, proteção de dados pessoais, restrição à coleta de dados de usuários e mesmo a liberação da pré-campanha na internet, entre outros.

Por tudo isso, a melhor alternativa para atores de qualquer segmento social – políticos, governantes, jornalistas, gestores públicos e privados – é prestar bastante atenção na dinâmica das mídias sociais, entender o conceito de rede e as novas propriedades de comunicação do Twitter, Facebook e outras plataformas digitais.

A rapidez com que se propagam ideias, mensagens, #campanhas e protestos nas mídias sociais impõe reação na mesma frequência temporal, exigindo de todos conhecimento, preparo e agilidade para atuar com eficiência no novo universo digital. Essas foram as conclusões do debate sobre as mídias sociais e o momento político no Brasil, realizado pela Oficina da Palavra, em Brasília, com o especialista Fábio Malini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura, Labic, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Políticos, gestores, jornalistas, executivos, agentes públicos e privados precisam se capacitar para os novos tempos. Com a chegada da rede móvel 4G não somente as conexões serão mais velozes. Crises institucionais e políticas também.

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Patrícia Marins, jornalista, sócia-diretora da Oficina da Palavra e Miriam Moura, jornalista, diretora da Oficina Treinamentos (www.oficinadapalavra.com

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